Tempo perdido

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"Não tenho medo do escuro
Mas deixe
As luzes
Acesas
Agora
O que foi escondido
É o que
Se escondeu
E o que foi prometido
Ninguém prometeu
Nem foi tempo perdido
Somos tão jovens"

— Legião Urbana.

                       *** Maria Fernanda ***

— Você tá ocupada, hoje? Queria te pedir uma ajuda. — Digo enquanto comíamos os pães que ela trouxe.

— Não, o que cê precisa?

— Companhia, na verdade. E uma opinião feminina, é claro. — Respondo e ela para de se concentrar em sua comida para me olhar. — Vou comprar umas latas de tintas, uns cadernos, lápis de colorir... preciso anotar isso.

Me levanto indo para o quarto e ela vem atrás de mim, procuro uma folha de caderno e uma caneta para fazer a lista.

— Pra quê cê quer essas coisas?

— Eu virei voluntária numa ONG, vou dar aulas de reforço escolar para crianças da comunidade. Mas as coisas estavam bem precárias, eles precisam de bastante material e eu vou compra-los e você vai me ajudar a escolher as coisas.

Entrego o caderno de anotações e uma caneta para ela, que agora se encontra deitada na minha cama enquanto me observa.

— Tudo bem... Mas vai sair uma nota tá. Geralmente essas coisas tem muita gente, cê tem quanto?

— Eu ainda não sei, vamos contar. — Digo pegando minha bolsa, e antes de tirar o dinheiro de dentro, olho séria para ela. — Antes... Raquel eu confio muito em você, mas eu preciso que você me prometa que não vai contar nada a ninguém.

— Ih, quê' que tá pegando? — Ela se senta na cama me olhando com a sobrancelha franzida. — Para de me olhar assim, o que eu não posso contar pra ninguém?

Retiro o dinheiro da bolsa, e jogo na cama, caindo as várias notas no colo dela. Fazendo-a arregalar os olhos.

— Puta merda, cê assaltou um banco?

— Não... eu... — Olho para ela como uma criança que guarda um segredo que queria muito contar. — Eu quero dizer, mas você não prometeu!

— Fernanda! — Resmunga. — É claro que vou guardar segredo, independente do que me diga eu dou minha palavra.

Nos encaramos por uns segundos, como um juramento silencioso e então sento na beira da cama.

— Certo... Eu agora sou voluntária numa ONG para ajudar crianças da comunidade a se desenvolverem academicamente, e até mesmo se sentirem seguras em algum lugar. A ONG fica no Morro do Prazeres, eu tô lá com o Dudu e uns colegas dele da faculdade.

— Tá, ate aí tá tranquilo. — Responde como me estimulasse a falar mais.

— As doações que eles recebiam eram um pouco precárias e nós acabamos pedindo ajuda de um cara, que doou essa grana pra gente comprar tudo que precisasse pra ajeitar o lugar e comprar material. — Resolvi encurtar a história.

— Um cara? — Pergunta e aceno em concordância a olhando. — Assim do nada ajudou vocês? No morro?

— Sim.

— Amiga, um cara no morro pra ter toda essa grana na mão com certeza é do movimento. — Diz olhando para as notas e se aproxima de mim. — Quem te deu essa grana foi o dono do morro, não foi?

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⏰ Última atualização: Aug 12 ⏰

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