Malandragem

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"Eu só peço a Deus
Um pouco de malandragem
Pois sou criança
E não conheço a verdade
Eu sou poeta e não aprendi a amar."

— Cássia Eller.

*** Roberto Nascimento***

Depois que saí de casa, dirigi até o batalhão com o humor nada bom. Estava muito óbvio depois da conversa que eu e Nanda tivemos essa manhã, que não estamos bem, e mais que metade da culpa era minha. E eu já sabia disso, só gostava de fingir que estávamos bem. Mas cara, eram tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo que acabei empurrando com a barriga até onde dava. Quando cheguei, fui direto para o vestiário masculino para vestir o uniforme.

A manhã até depois da hora do almoço foi repleto de treino e depois assinar e ler papeladas de autorização de solicitações dos meus subordinados. Faltavam meia hora para uma reunião importante com o coronel, então aproveito o tempo livre e ligo para Nanda.

O telefone chama e cai após não obter respostas. Estranho olhando para a pequena tela, ela sempre atende o telefone, lembro da tal maneira de mandar mensagem mas não fazia ideia de como fazer isso. Tinha que aprender a usar essa merda. Então tento ligar de novo, que depois de dois toques ela atende.

— Oi, Beto. — Diz assim que atende.

— Oi amor. Liguei pra saber como cê tá .

Eu não gostava de ficar brigado com ela.

— Ah eu tô ótima, meu bem. Saí pra almoçar com Raquel e agora estamos no parque. E você, como está o trabalho hoje?

A sua voz suave faz o peso que estavam sobre meus ombros, sumirem. Se ela estava bem, eu estava bem também.

— Cansativo, como sempre. Tava assinando umas papeladas e quis te ligar antes de uma reunião com o Coronel. — Respiro fundo enquanto uma mão segurava o telefone e a outra eu batucava na mesa de madeira. — Não consegui parar de pensar sobre nossa conversa dessa manhã...

Ela fica em silêncio por uns segundos, como se eu a tivesse lembrado da conversa ou talvez procurando a melhor resposta.

— Não foi a melhor maneira de começar o dia, não é? — Ela dá uma risada sem graça. — Olha amor, não pensa muito nisso. Eu fiquei zangada mas... já passou. Até porque, que casal não tem problemas?

— É verdade, mas eu preferiria que fôssemos uma excessão. — Solto uma risada como a dela, e a escuto sorrir enquanto me recosto na mesa.

— Eu também, mas podemos ser quase uma excessão se quem sabe cê ficar deitado comigo durante todo o dia, agarrado em mim como um Coala agarra em um bambu.

— É isso que você quer? — Pergunto, o bom humor estava comigo novamente. Ela tinha esse dom.

— Eu acho que o mundo estaria em paz se fizéssemos isso.

— Eu acredito que...

Sou interrompido com batidas na porta da minha sala, e um dos Subtenentes abre logo em seguida dizendo.

— Capitão Nascimento, já estamos todos na sala de reunião esperando por você.

— Meu amor eu vou ter que desligar agora, tenho que trabalhar. Te amo. — Digo e ela se despede com um "bom trabalho, também te amo". Desligo e me coloco de pé, seguindo o Subtenente até a sala de reunião com outros superiores.

Na mesa principal tinha um mapa e ficamos todos ao redor da mesa. Passamos cerca de uma hora ali com o Coronel discutindo o que esperava que fizéssemos nas próximas operações, e depois disso Carvalho colocou uma foto do Papa ali em cima.

Essa tal liberdade - Capitão Nascimento Onde histórias criam vida. Descubra agora