Capítulo 2

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Horas após a reunião, aqui estou eu, parada do outro lado da rua e observando um lugar, tarde da noite, diga-se de passagem, de uma forma digna de um esquisito de marca maior. Considerando a cor da minha pele e onde estou, provavelmente algo bem estúpido também. Especialmente usando um sobretudo preto num clima chuvoso. Parece o começo de um filme noir de baixo orçamento, e possivelmente é mesmo, porém, a investigação será sobre a minha morte quando Maurizio perceber a armadilha que preparei.

O restaurante italiano possui dois andares; a parede da fachada é de um bege-claro, composto por pedras e alguns tijolos visíveis da estrutura; as janelas do andar superior são quadrangulares de madeira. A parede é parcialmente coberta por trepadeiras. Quanto ao térreo, ele possui três portas de metal verde-musgo. A primeira do lado esquerdo é completamente de metal, com sua parte superior arredonda e com aspecto de ser bastante antiga, provavelmente leva para um espaço que serve de moradia para os donos do negócio. Na ponta oposta, fica uma porta semelhante, porém com vidros, servindo de entrada principal do restaurante. A terceira porta, localizada entre as outras duas, é quadrangular e com mais vidro que metal, servindo de janela no inverno e porta para um espaço aberto do estabelecimento no verão. A placa em vermelho-vivo se destaca e chama a atenção para o nome do lugar: La Mia Imperatrice. Embaixo na placa está o número 1902, simples e elegante.

Entendo porquê é o favorito de Maurizio, segundo palavras de Lian. Seria o meu favorito também se morasse num lugar como esse.

Respiro fundo e arrumo a postura. Eu pretendo derrotar um homem esta noite e não fracassarei como America Singer. Ainda que pretendêssemos fazer isso em sentidos muito diferentes. Estou enrolando demais, o meu futuro chefe de equipe chegou cerca de dez minutos atrás. Olho antes de atravessar a rua, e o único carro que vem está longe. Ele está me vendo, não é doido.

Entro no restaurante olhando em volta. Dentro, mantém o estilo rústico e clássico da fachada. Do lado direito, um balcão de madeira escura com tijolos antigos, como os da fachada, decoram sua base e há bancos combinando com o tampo. Oposto a ele, veem-se algumas pessoas sentadas às mesas quadrangulares de madeira, com uma toalha de mesa branca embaixo e uma quadriculada verde e branco por cima decorando, comendo e conversando. É um estereótipo italiano, reforçado mais ainda pelo forno à lenha para pizza ao fundo. Contudo, é lindo, limpo e acolhedor. Nada disso é surpresa. Maurizio sempre teve um limite de qualidade pré-estabelecido para tudo e é completamente apaixonado por seu país.

Só falta o italiano, e então a equipe Atena estará reestabelecida para que passe o próximo mês e meio consertando todas as merdas que Enzo fez no fim do ano passado, depois de sua primeira temporada vitoriosa na Fórmula 1. De novo estou enrolando para fazer o necessário. Sorte que sempre me treinei para ter os ombros e a postura retos, a cabeça erguida e o rosto neutro, como se fosse a dona do mundo.

O ambiente é aquecido, então me permito tirar o sobretudo revelando a blusa de lã creme que visto, também mostrando melhor a calça preta justa que compõe o look. Fica linda com minhas botas de couro pretas e solado vermelho ardente. Então, após me exibir um pouco, me sento na banqueta ao lado do único homem sozinho no recinto, que sem sequer me olhar, encolhe os ombros e trava o maxilar parecendo irritado.

O atendente me pergunta em um inglês com forte sotaque o que desejo, e peço educadamente um Bellini, uma bebida italiana feita com espumante e suco de pêssego, que o atendente, que não deve ter mais de quarenta anos, vai preparar. Me viro para o cliente ao meu lado, apoio o cotovelo no balcão e então minha bochecha no meu punho para encará-lo melhor. O maxilar dele me lembra o das estátuas gregas de tão perfeito. O nariz é reto, mas maior do que o convencional. Em um homem de feições mais delicadas ou de cabeça menor poderia ser feio, mas nele combina; os cabelos castanhos-chocolate, levemente curvados nas pontas e quase na altura do ombro. Me pergunto por um segundo se são tão macios quanto parecem... e limpos também, afinal, é um europeu no inverno.

Nice [Deuses das Pistas 1]Onde histórias criam vida. Descubra agora