O resto da minha sexta-feira foi um caos. Parece que só porque eu decidi me colocar contra a existência do Capitão do BOPE, tudo decidiu dar errado no resto do dia. Inúmeras ligações para cá, montanhas de papéis para assinar, Lacerda na minha cola e eu ainda tinha que lidar com Paulo, que também não parava de me encher o saco.
Parecia até que Roberto Nascimento havia ligado para todas essas pessoas e, juntos, eles haviam acordado em "encher o saco de Letícia até ela não aguentar mais". Bom, posso dizer que se esse foi o plano, ele foi muito bem sucedido.
Chegou em um determinado momento do dia que eu apenas queria chegar em casa, tirar aqueles saltos que estavam me matando, tomar banho e capotar direto na minha cama. Mas eu ainda tinha mais algumas horas de trabalho e tive que lutar bravamente contra a minha vontade de mandar todos ali irem à merda ― menos Rose, quando eu cheguei na delegacia, depois da minha reunião com o BOPE, ela estava me esperando com um pedaço de bolo de cenoura em um potinho.
Ainda por cima, para piorar tudo, peguei o maior trânsito para chegar em casa ― que ideia a minha sair justo no horário de pico. Demorei mais do que eu queria para chegar no meu apartamento, mas assim que estacionei o carro, voei para dentro do elevador.
Eu moro no sétimo andar de um condomínio fechado e bem localizado. Poxa, trabalhei a minha vida inteira para ter alguns luxos e um bom imóvel é um deles. Assim que destranquei minha porta e a abri, tive que lidar com o próximo passo para o inferno: Paulo estava jogado em seu sofá, vendo algum jogo estúpido de futebol. Mais uma coisa para adicionar à minha lista de ideias ruins: ter dado acesso ao meu apartamento para ele.
Ele me olhou de relance, colocando mais amendoim na boca, e disse:
Não, Paulo, eu não cheguei. Eu ainda estou presa no trânsito e essa é uma miragem minha. Soltei o ar pelo nariz, irritada, e não o respondi. Apenas segui reto para o meu quarto, retirando os saltos em seguida e sentindo um alívio imenso.
― Como foi o trabalho? ― agora ele estava de pé no corredor.
― Cansativo. ― respondi simplesmente, e entrei no banheiro para tirar a maquiagem.
Peguei o demaquilante e o algodão, pronta para iniciar os meus trabalhos, quando Paulo apareceu na porta. Meu Deus, ele vai me seguir por todos os lugares dessa casa?
― Linda, podemos conversar? ― ele pede, apreensivo.
― Sim, claro.
Tenho que conter a minha vontade de revirar os olhos e apenas respondo tranquilamente, enquanto passo o algodão molhado no meu rosto.
― Eu não sei como te dizer isso. Acho que não tem jeito fácil, mas é algo que eu venho pensando há muito tempo e que eu queria te falar. ― olhei de canto de olho para ele, fazendo um movimento com a cabeça para o encorajar a falar. ― Eu acho que não 'tô mais feliz. E, porra, foi legal e maneiro no começo, mas ando tendo uma sensação estranha, tendo vontade de fazer coisas de solteiro... E não é justo com você, gata.
Enquanto ele falava, eu não parei um segundo de tirar a maquiagem. Estava mais focada no espelho.
― Entendi. ― foi tudo o que eu disse.
― Você me escutou, Letícia? ― seu tom era mais irritado agora.
― Sim! ― dei os ombros. ― Se você não 'tá feliz, então não 'tá feliz. Não tem o que fazer...
― 'Tá... Mas você entendeu o que eu disse? ― ele cruzou os braços com o cenho franzido.
― Sim. Cada um para o seu lado, né? ― apenas olhei para ele quando terminei de tirar a maquiagem e joguei o algodão no lixo.
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Linha Tênue
FanficLetícia Lourenço, uma delegada da Polícia Federal, da divisão de combate ao crime organizado e repressão a entorpecentes, se vê envolvida numa relação de gato e reto com o conhecido capitão do BOPE, Capitão Roberto Nascimento. Tão arrogante, antiéti...