Um salto fora da linha

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Acordo com batidas insistentes na porta. Meio grogue, abro a porta e fico surpresa com quem eu vejo. Sim, Jordan Chiles. Ela não espera que eu abra a boca e já adentra o quarto falando da maneira mais alta possível.

Jordan: É hoje, Simone! Não tenho mais unhas, estou tão ansiosa.

Simone: Calma, Jordan.

Jordan: Como você consegue ficar tão calma?

Simone: Eu só acho que ficar nervosa não ajuda em nada.

Jordan: E a Rebeca?

Nesse momento, engulo seco. Como assim ela sabe da Rebeca? Meu Deus, o que eu faço agora—

Jordan: Você não tem medo de perder pra ela hoje?

Respiro aliviada. Então era sobre isso que ela estava falando.

Simone: Bom, eu vou dar o meu melhor e vai ser isso.

Jordan: Talvez você não precise de ajuda, mas eu sim. Estou disposta a molhar a mão dos juízes se necessário, mas naquele pódio eu piso hoje.

Jordan sai pisando fogo antes mesmo que eu possa retrucar. Fico olhando para a porta fechada por um momento, processando o que acabou de acontecer. Depois, começo a me preparar para o dia de competição.

Enquanto me arrumo, tento focar nas minhas rotinas, mas minha mente continua voltando para a noite anterior com Rebeca. A lembrança do beijo em frente à Torre Eiffel ainda me deixa com um sorriso bobo no rosto, não consigo evitar.

Chego ao ginásio e o ambiente está lotado. As arquibancadas estão cheias, principalmente de brasileiros, e consigo sentir a energia de competição no ar. O nome dela, como sempre, está sendo entoado. Será possível que até o nome dela me cause borboletas no estômago?

Não consigo evitar e meus olhos a buscam. Rebeca está do outro lado do ginásio, e nossos olhares se cruzam por um breve momento. Ela me dá um sorriso, e sinto uma onda de calor percorrer meu corpo. Nunca me senti assim na vida... De repente, volto a mim e percebo que estou muito desconcentrada. Preciso focar, então faço todo o treinamento com o padrão "robozinho", como meus fãs carinhosamente me chamam. Sou a última a apresentar no solo, estou nervosa, mas lembro de que treinei por anos para chegar aqui.

Enquanto faço os últimos ajustes no meu uniforme, sinto uma mão no meu ombro. Viro-me e vejo Rebeca, seu sorriso suave me acalmando.

Rebeca: Boa sorte hoje, linda. Sei que você vai arrasar.

Simone: Obrigada, Rebeca. Boa sorte pra você também.

Ela me dá um breve abraço antes de se afastar. O contato foi rápido mas me deixou tão feliz.

A competição começa e as ginastas da outra equipe apresentam suas rotinas. A tensão no ar é palpável. Chega a vez de Rebeca fazer sua performance antes de mim. Ela entra no tablado com confiança e graça, cada movimento executado com tanta precisão. Quando ela termina, o público vai à loucura.

Minha treinadora se aproxima rapidamente.

Treinadora: Simone, a Rebeca fez um salto flip flap flop. Para garantir o ouro, você vai precisar colocar mais dificuldade na sua performance, fazendo o salto flip flap duplo mortal carpado com piruetas cravado.

Meu coração dispara. Estou nervosa por ter que competir diretamente contra Rebeca, mas sei que preciso dar o meu melhor. Respiro fundo e entro no tablado. Cada movimento que faço é calculado e preciso, mas a pressão é imensa. Quando chega o momento do salto, sinto a adrenalina correndo pelo meu corpo.

Executo o salto flip flap duplo mortal carpado com piruetas cravado, mas ao aterrissar, um pé pisa fora da linha. Sinto uma onda de decepção me invadir. Sei que isso vai me custar pontos preciosos.

Termino a rotina com a cabeça erguida, mas por dentro estou despedaçada. Saio do tablado e vejo minha treinadora, que me dá um olhar duro e nada reconfortante.

Naquela olimpíada Onde histórias criam vida. Descubra agora