Capítulo 43-LONDRES EM DEZEMBRO

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Chegamos em dezembro e com ele o inverno, o clima frio e chuvoso. Os  dias são nublados, com um pouco de chuva, mas sem muitas tempestades. Nesse período do ano, passear e andar de bicicleta pela cidade se torna menos viável. Os dias são mais curtos e as noites mais longas. As noites podem ser mais geladas, caindo para perto de 0 °C ou até menos que isso. Por ser mais frequente a chuva, há possibilidade de neve, mas não é tão frequente! É mais comum haver neblina, especialmente nas manhãs e noites, criando aquela atmosfera típica de inverno londrino. A famosa neblina das histórias de Agatha Christie e Sherlock Homes!

Quanto ao Natal, esse é o feriado mais importante da Inglaterra, pois é quando acontece a confraternização das famílias, mesmo que não sigam alguma religião. Diferente do Brasil, comemora-se no almoço do dia 25 de dezembro e não na ceia do dia 24.

No dia 24 de dezembro, geralmente se tem o costume de amigos saírem para comemorar, assistir espetáculos, participarem de missas ou alguma celebração religiosa!

Ocorrem os Festivais de inverno em diferentes áreas, com comidas típicas, patinação no gelo e mercados natalinos. A programação cultural é intensa, com concertos, balés e exposições. E, claro, muitas compras de Natal! Em Hampstead temos o Christmas Festival, uma feira local, com luzes, mercados e brinquedos!

Há várias pistas de gelo espalhadas por toda a cidade, já montadas no final de novembro e costumam ficar até janeiro. Quanto mais perto do Natal, mais cheias ficam as pistas, a concorrência é maior, principalmente quando começam as férias escolares. A pista de gelo mais frequentada é a Winter Wonderland que fica no Hyde Park.

Outro evento interessante e muito divertido é a Santa Run, uma corrida que acontece todos os anos onde várias pessoas se vestem de Papai Noel. Quem organiza o evento é a instituição Great Osmond Steet Hospital (GOSH), na qual se dedica às crianças com problemas graves de saúde. A cada ano, o trajeto, o horário e o dia da corrida são divulgados no site do hospital. Já em Londres, duas igrejas ótimas para assistir às missas e concertos de Natal são a Westminster Abbey e a St. Paul's Cathedral.

Eu, que não gostava desse período do ano, me vi encantada com as ruas bem iluminadas e movimentadas, com lindas decorações! Harry não aprovava muito minhas saídas, ficava preocupado. Então, só saía se fosse acompanhada por Laura e com o Robert nos levando! Apesar do frio, que não é nada agradável, tenho arriscado em sair nesses dias.

Hoje, em especial, não saí, resolvi ficar quieta em casa. Sentia uma dor no baixo ventre, semelhante a uma cólica menstrual. Harry, preocupado, me levou logo cedo na minha ginecologista, que nos acalmou, informando que era normal e a dor passa de forma espontânea. Seria uma adaptação do útero ao desenvolvimento do bebê. Mas mesmo assim, recomendou repouso. Harry verificou em sua agenda que poderia tirar o dia para ficar em casa. Laura também me acalmou, mesmo que ela tenha gerado seus filhos de forma natural, sua experiência contava bastante para me acalmar e acalmar Harry. Eu, deitada na cama, com meu macbook, olhava minhas redes sociais e, de repente, me deparei com um e-mail de um de meus irmãos. Pedro, meu irmão mais velho, dizia que estava com saudades, sentia imensamente por não participar do meu casamento e que, pelo pouco que lia sobre mim e Harry, parecia que estávamos muito bem e felizes! Deu notícias do meu outro irmão, dos sobrinhos! Eu respondi que não se preocupasse e, assim que pudesse, eu e Harry retornaríamos ao Brasil e os visitaríamos. Contei sobre minha gravidez e me despedi, enviando beijos a todos.

Harry, que sempre foi discreto a respeito, nunca me obrigou a contar sobre minha história familiar. Mas, ao ver o e-mail, perguntou se eu me sentia à vontade em contar para ele sobre essa questão. E eu vi que já estava na hora de me abrir com ele.

— Minha relação familiar foi muito conturbada, Harry! Eu vivi uma infância e uma adolescência onde as críticas, a agressão psicológica, a falta de apoio eram presentes! Meu pai, um homem trabalhador que não deixava nada faltar para nós, infelizmente tinha um lado muito rude ao tratar sua mulher e seus filhos!

— Compreendo! Mas nunca sentaram e discutiram isso, claramente com ele? Ou ele era avesso ao diálogo? Pergunta Harry.

— Sim, não nos dava a oportunidade ao diálogo! Mamãe, muito submissa, não sabia enfrentá-lo. Quando fazia, era humilhada! Ocorriam discussões que poderiam levar o dia todo! Não tínhamos paz em nossa casa! Meu pai faleceu de forma muito triste! Me sentia muito culpada, porque, ao me tornar adulta, comecei a enfrentá-lo e falava coisas nas quais até hoje me arrependo por ter falado! A sensação do desamor era muito grande! E meus irmãos também sofreram muito, mas eu, por ser a única filha, sofria mais ainda, por visões muito machistas e que até, influenciavam meus irmãos!

— Entendi! Que difícil, meu amor! Agora tudo fica mais claro para mim! Sua dificuldade ao lidar com elogios, o medo ao se entregar em nosso relacionamento. Mas não fique com essa culpa! Acredito que tenha sido uma filha incrível e uma ótima irmã! Tanto que seus irmãos estão tentando se aproximar! Me conforta, Harry!

 —Vamos fazer assim, quando estiver certa a tourné, ao irmos para o Brasil, vamos visitá-los. Não sei se vamos conseguir levar nossa pequenina, mas quem sabe! Então, os conhecerei e vou ver o reencontro amigável entre vocês. Tudo bem para você? Pergunta Harry.

— Sim! Eu me considero uma pessoa abençoada, porque tenho um marido incrível e que me compreende tanto, que até me emociona! Prometi para mim mesma que nossa filha vai ter uma vida totalmente diferente! Ela vai saber o que é apoio, amor, o que é ser valorizada, conhecer o diálogo e não terá um ambiente de brigas e ofensas entre os pais!

— Não mesmo! Nossa filha será apoiada em seus sonhos. Lógico que conhecerá as regras, o que é certo e errado, mas terá sua independência e conhecerá desde cedo o que é amar verdadeiramente as pessoas, o quanto é importante o respeito, a gentileza, que ninguém está aqui para satisfazer as suas vontades, então, ser humilde, entender que todos são iguais e devem ter tratamento digno. Fala Harry, me olhando com aqueles olhos verdes, como esmeraldas.

Desliguei meu macbook, ao fazer a menção de levantar, Harry me repreendeu e pegou o aparelho de minhas mãos e o guardou.

— Fique aí, mocinha. Hoje está de repouso! Nada de esforços sem necessidade! Já pedi para Mila ver um caldo reforçado para você e depois vai ficar aí quietinha! Amanhã vou precisar sair, tenho que ver com o pessoal da Capital FM sobre a apresentação de final de ano, vou com o Jeff e combinarmos tudo direitinho com eles.

Tomei o caldo, mas , depois, me levantei com todo cuidado para escovar os dentes e tomar um banho. Ao sair do banheiro, Harry se encontrava deitado, lendo. Deitei e recostei minha cabeça em seu peito. Harry fechou o livro e me aconchegou mais a ele. Desligou a luminária e ficou ali, abraçado comigo e acariciando meus cabelos.

— E essa menininha? Está comportada? Pergunta Harry.

 —Sim, está calminha aqui, deu umas mexidinhas hoje, mas deve estar quentinha e com preguiça! Respondi!

—Será que teremos uma pequena Juliana que detesta o frio? Tadinha, precisará se acostumar! Fala Harry, sorrindo!

Harry me beijou, se desenrolando do abraço que me aconchegava e se ajeitou para que eu me encaixasse nele .Formamos uma  concha e ele colocou, como faz ultimamente, a mão em minha barriga. Adormecemos, então, abraçadinhos, os pés enrolados um no outro e sonhando com nossa filhinha!

LOVE OF MY LIFE 2Onde histórias criam vida. Descubra agora