Eu sou lésbica.
Não há nada de extraordinário nisso, nem de vergonhoso. É apenas uma constatação, como dizer que tenho olhos castanhos ou que gosto de café.
Sempre soube do que gostava e até mesmo me forcei a gostar do meu gênero oposto. Mas era inútil. Era como tentar enxergar uma cor que não existe, ou sentir um sabor que não se pode nomear. Eu não me encaixava naquela convenção social, naquele papel que me atribuíam. Eu queria ser eu mesma, livre e autêntica. Como fazer isso em um mundo que me julga, que me condena, que me exclui? Como viver a minha verdade sem ferir a dos outros, sem me expor ao risco, sem me sentir culpada ou infeliz? Essas são as perguntas que me atormentam, que me fazem duvidar de mim mesma, que me impedem de ser feliz. Eu sou lésbica, mas isso não me define. Eu sou muito mais do que uma palavra, do que uma categoria, do que uma etiqueta. Eu sou um ser humano, com sentimentos, sonhos, medos e desejos. Eu sou uma mulher, que ama outras mulheres, que quer ser amada por elas, que quer compartilhar a vida com elas.
Eu sou lésbica, mas isso não é tudo. Isso é apenas uma parte de mim, uma parte que eu não posso negar e nem quero. Eu sou lésbica, e isso é apenas o começo.
Meu primeiro beijo com um menino... bem, ele foi um completo desastre. Não pelo fato dele ser um garoto, até porque, na época, eu achava que sentia uma super atração por ele.
Como eu te odeio, heterossexualidade compulsória!
Mas pelo fato dele ser um péssimo beijador, que não sabia dosar a língua, os dentes e a saliva. Foi uma experiência horrível, que me deixou com nojo, raiva e vergonha. Eu queria fugir dali, mas não podia. Eu tinha que fingir que tinha gostado, que tinha sido bom, que tinha sido normal. Eu tinha que manter as aparências para não levantar suspeitas, não decepcionar ninguém e nem me expor ao ridículo.
Eu tinha que ser como os outros, como se espera que uma menina seja, como se impõe que uma menina seja. Eu tinha que negar a mim mesma, a minha essência, a minha verdade. Eu tinha que ser lésbica em segredo, em silêncio. Eu tinha que viver uma mentira, uma farsa, uma ilusão.
Então, meu primeiro beijo com um menino... bem, ele foi o último.
Entretanto, não se trata de como lidei com minha sexualidade na adolescência. Existem coisas bem maiores para que eu me preocupe, nesse momento.
E é aí que entra Alexia Câmara e nosso mútuo abandono aos prazeres carnais em pleno último ano do colegial! Veja bem, esta é a época que todos os jovens despirocam da vida e aproveitam todas as festas em que podem comparecer. E elas são muitas. Mas eu e Alexia decidimos não seguir a corrente, não nos deixamos levar pela euforia coletiva.
Fizemos um pacto, um acordo, uma promessa. Nós decidimos nos dedicar aos estudos, aos livros e aos projetos. Queríamos um futuro brilhante, uma carreira de sucesso, uma vida plena. Nós não queremos perder tempo com paixões passageiras, com aventuras sem sentido, com ilusões vazias.
O ano foi favorável. Alexia e eu finalmente terminaríamos o ensino médio, então, entramos no seguinte consenso: focar nos estudos e esquecer todas as safadagens possíveis.
Sem distrações, sabe? Era um plano simples, mas eficaz.
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𝐓𝐎𝐃𝐎𝐒 𝐎𝐒 𝐁𝐄𝐈𝐉𝐎𝐒 𝐐𝐔𝐄 𝐄𝐔 𝐍𝐔𝐍𝐂𝐀 𝐓𝐄 𝐃𝐄𝐈
ContoAlexia e Adhara. Duas almas que se encontraram na infância e se tornaram uma só. Uma amizade que resistiu ao tempo, às provas e aos sonhos. Uma amizade que as levou ao vestibular, ao triunfo, mas, também, à separação. Porque o mundo não é justo...