𝐏𝐀𝐑𝐓𝐄 𝐈𝐈: 𝐄𝐋𝐀 𝐏𝐀𝐑𝐓𝐈𝐔

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O ano letivo foi muito tranquilo, dispensamos todos e qualquer um que pudesse se interessar por nós

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O ano letivo foi muito tranquilo, dispensamos todos e qualquer um que pudesse se interessar por nós. O foco era passar para a Universidade mais concorrida do estado, logo, tínhamos que liderar o ranking inexistente de melhores alunos da turma e para isso, era necessário trabalhar duro.

Sempre estávamos juntas. Almoçávamos juntas, estudávamos horrores na biblioteca do instituto e, vez ou outra, dormíamos juntas também. Sempre para fins acadêmicos, é claro.

As férias se aproximavam como um sonho, e o pesadelo do exame admissional da faculdade também. Mas era certo: aquelas vagas eram nossas! Estudamos demais para que outro pudesse ocupá-las.

Não era por ambição, mas por vocação. Eu queria me aventurar na química e ser uma pesquisadora de prestígio; Alexia, queria design e moda e já tinha um talento danado! Cada uma com seu dom, sua paixão, seu destino.

O plano era perfeito: sermos aprovadas no mesmo semestre, nos mudarmos para Natal e alugar um apezinho nas proximidades da Universidade Federal - o sonho de todo jovem interiorano devido à alta concorrência.

Mas o que é o sonho senão uma ilusão? O que é a realidade senão uma decepção? O que é a vida senão uma aventura?

Quando saiu o resultado que tanto esperávamos, a emoção foi tão grande que pulamos de encontro uma à outra. Não sei como, mas bati meus dentes grandes nos dela. Por lapsos de segundo, senti a textura macia daquela boca carnuda na minha. Foi muito estranho, considerando o fato de sermos melhores amigas. Fato curioso sobre essa lésbica que vos fala: nunca beijei uma mulher, mas isso é assunto para outra hora. Deve ter sido por isso a causa do meu estranhamento, porque, em menos de um segundo depois, Alexia continuava a balançar os braços desordenadamente, como se nada tivesse acontecido.

Mas o que aconteceu? Foi um acidente, um descuido, um capricho do destino? Ou foi um sinal, uma revelação, uma tentação? O que senti naquele instante fugaz? Foi surpresa, repulsa, indiferença? Ou foi curiosidade, atração, desejo? O que pensou Alexia sobre aquele contato involuntário? Foi um erro, uma ofensa ou uma brincadeira?

Preferi não pensar e apenas ignorei, creio eu que ela fez o mesmo, pois o assunto morreu antes mesmo de nascer.

Como o mundo não é de açúcar, havia um pequeno senão... Minhas aulas só iriam começar no segundo semestre, enquanto as de Alexia já se iniciavam na semana seguinte.

Era oficial, eu estava sozinha durante seis meses. Seis meses sem ouvir sua zombaria sobre as misturas que eu costumava comer e forçá-la a fazer o mesmo. A ideia de passar tantos dias sem ela fazia minhas mãos tremerem. Mas por que tremer? Por que sofrer ou chorar? Não era uma separação, mas um intervalo. Não era um adeus, mas um até breve.

Não era um término, mas um começo.

E veja bem, eu logo me recuperei!

Encarei aquilo como meu semestre de férias. Eu aproveitaria para devorar tudo o que eu pudesse sobre química. Meu objetivo era chegar na faculdade já ensinando os calouros desorientados! No entanto, o rosto da minha pequena máquina infernal se entristeceu alguns instantes após divagar sobre a diferença no nosso calendário de aulas.

𝐓𝐎𝐃𝐎𝐒 𝐎𝐒 𝐁𝐄𝐈𝐉𝐎𝐒 𝐐𝐔𝐄 𝐄𝐔 𝐍𝐔𝐍𝐂𝐀 𝐓𝐄 𝐃𝐄𝐈Onde histórias criam vida. Descubra agora