Capítulo VI - POETISO SUBMERSO

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Coloco meu casaco cinza para me proteger do frio. Saio para a estrada de terra e, a cada passo que dou, molho cada vez mais as minhas meias. Paro. Sento na escada da casa da frente, retiro meu tênis, minhas meias e as deixo no meio do chão. Pego meu sapato e jogo pelo portão. Isso é viver. Eu odeio ter que usar qualquer tipo de calçado. Se eu pudesse andar descalça para sempre, isso sim seria ótimo. Estou nem aí de ter que pisar no barro e ficar suja, é algo que eu não pude fazer no Alasca. Três pisadas na neve, sem nada nos pés, eram o suficiente para eu ficar doente. Minha resistência era muito baixa.

Continuo a andar quando chego à frente do portão de Matt e bato nele. A porta da sala se abre e Louise aparece.

— Lana! Você saiu daqui sem avisar ninguém! — Em suas mãos as chaves que eu joguei pelo portão. — Você está descalça? Vai gripar nessa chuva!

— O barro estava entrando em minhas meias... Ainda com esse frio passando pelos meus pés, seria pior.

Ela abre o portão e eu entro.

— Sente-se na sala. Ligamos o aquecedor que ganhamos do nosso tio, de Natal. Você vai ficar bem aquecida aqui dentro — afirma ela com tranquilidade.

Acho que eu preciso é de outra coisa para me aquecer: um copo de chocolate quente. Seria ótimo. Ou... Ficar perto de Matthew. Seria bem melhor. Espera. O que eu acabei de pensar? Ai, meu Deus. Sempre brigo com os meus pensamentos.

Entro e passo meus pés no pequeno tapete que fica na entrada. Juliana está sentada no chão da cozinha comendo algo e acena para mim. Aceno de volta.

— O Matthew esta lá em cima. Quer dar um oi para ele? — pergunta Louise me dando uma caneca com chocolate.

— Vou sim. Obrigada pelo chocolate.

Como ela sabia que eu vim vê-lo? Será que está estampado em minha testa "Olá, vim ver o Matthew Miller..."? Louise, mesmo bêbada, deve se lembrar do furo que dei ontem.

Subo as escadas e, olhando pela grande janela que se encontra ao meu lado, ainda fico um pouco triste por saber que minha mãe voltou a fumar. Alguns dos meus amigos de treze anos já fumam todos os dias. Eu me importo, sim, mas sei que eles não podem chegar ao ponto que minha mãe chega quando ela traga. Ou podem? Sei lá. Mas família é família. Parece que a única forma de ela ficar feliz é saciar sua dor com algo que a destrua ainda mais por dentro e, infelizmente, ela não melhora e nem fica estável: ela apenas se mata lentamente.

Chego ao quarto de Matthew e o vejo sentado em sua cama, de costas para a porta. A luz do sol que entra por sua janela deixa o seu cabelo ainda mais brilhante. Aproximo-me dele e vejo que ele está desenhando uma borboleta em um quadro. Não tenho mais dúvidas de que é ele quem desenha essas belas pinturas ao meu redor. Ele olha para trás.

— Lana! — Ele sorri para mim e coloca seu lápis em cima da cama. — Se eu soubesse que você estava aqui teria colocado uma camiseta! Como você sabe, aqui em cima faz muito calor.

Ele me abraça e meu coração acelera. Sinto novamente o cheiro de seu perfume. E, aquecida, não sabia que com seu abraço eu me sentiria tão confortável. Ficamos abraçados cinco segundos.

O seu corpo é bonito, um pouco atlético. Deve jogar futebol como os meus amigos. Ele coloca uma camiseta branca.

— Não quero te incomodar, se você está com calor... — Eu digo olhando para ele.

— Tudo bem, você não me incomoda, não, Lana — ele me fala sentando em sua cama. Sento ao seu lado.

— Me desculpe por eu não ter te esperado. Eu saí sem avisar porque eu precisava voltar para casa o mais rápido possível — culpo-me.

Nostalgia Não Está Apenas em VHS | DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora