Bronze, princesa.

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Ana Carolina havia retornado de Paris com uma medalha de bronze pendendo em seu pescoço, um peso que lhe lembrava constantemente do sonho adiado. Havia partido com suas companheiras de seleção em busca do ouro, mas, mais uma vez, o destino as afastara da glória tão desejada. A dor que carregava em seu peito era profunda, uma ferida que se abria toda vez que revivia os momentos de falha. Como maior bloqueadora do mundo, sentia-se responsável por cada ponto perdido, por cada bola que não conseguiu parar. Em sua mente, não havia desculpas, apenas o eco amargo da culpa. Três dias haviam se passado desde que pisara de volta em solo brasileiro, e o desânimo só crescia, dia após dia.

A única pessoa com quem Ana Carolina queria estar era Priscila Daroit, sua colega de time, e agora, sua melhor amiga. Priscila também carregava um fardo pesado no coração. Fora cortada da seleção de forma abrupta, sem aviso prévio. O técnico Zé Roberto comunicara a decisão de forma seca, deixando Priscila com seu sonho olímpico despedaçado. Aos trinta e seis anos, sabia que as chances de competir em outra Olimpíada eram escassas. A idade avançava, e a cada ano que passava, via a possibilidade de realizar seu maior desejo se afastar, até quase desaparecer. Mas, mesmo em meio a sua própria dor, Priscila mantivera contato com Ana Carolina. Todos os dias, sem falhar, elas se falavam, mesmo que fosse por apenas trinta minutos, apesar dos treinos intensos e das partidas.

Naquela noite, apesar da chuva persistente e do frio que cortava o ar, Ana Carolina foi até a casa de Priscila. As duas estavam sentadas no sofá da sala, a luz suave das lâmpadas criando um ar aconchegante, apesar da tristeza que pairava no ar. Os olhos de Ana Carolina estavam inchados de tanto chorar, enquanto Priscila, que compartilhava o mesmo sonho de ser campeã olímpica, sentia os próprios olhos se encherem de lágrimas. Sem dizer uma palavra, ela começou a acariciar os cachos pretos da amiga, oferecendo o conforto silencioso que só uma amizade verdadeira podia trazer.

"Carol, eu sei como dói," começou Priscila, sua voz suave e compreensiva. "Passei três dias chorando depois que fui cortada da seleção, me culpando por não ser boa o suficiente. Eu entendo sua frustração, especialmente porque, para quem mira o ouro, o bronze parece nada. Eu sei que você e as meninas estavam focadas nisso."

Ana Carolina balançou a cabeça, tentando conter as lágrimas que ameaçavam cair novamente. "Eu merecia isso, princesa linda, assim como você merecia estar lá comigo e com as meninas, realizando nosso sonho. Dizem que Los Angeles está logo ali, mas parece que a gente só nada, nada e morre na praia." Ela limpou as lágrimas com a mão, seu olhar fixo no de Priscila, buscando compreensão.

"Merecíamos," concordou Priscila, com um sorriso triste. "Carol, não se culpe. Você fez o seu melhor. O jogo se desenrolou de um jeito que ninguém esperava. Os bloqueios não aconteceram como você queria, mas isso não muda o fato de que você ainda é a maior bloqueadora do mundo." As palavras de Priscila eram sinceras, ditas com uma convicção que só alguém que conhece as profundezas do fracasso pode ter. Ela segurou os braços da amiga, tentando transmitir através do toque o quanto acreditava nela.

Após as palavras de Priscila ecoarem pela sala, um silêncio denso se instalou entre as duas. Ana Carolina, com o coração pesado e os olhos marejados, não pôde mais conter as emoções que tentara sufocar. Num movimento instintivo, puxou Priscila para mais perto, envolvendo-a em um abraço apertado, como se ali, entre seus braços, pudesse encontrar algum consolo para a dor que as consumia. Priscila se entregou ao abraço, sentindo o calor do corpo da amiga, a respiração entrecortada e o tremor que percorriam Ana Carolina. Foi então que, num sussurro abafado, Ana Carolina deixou escapar as palavras que haviam lhe atormentado desde que pisara de volta no Brasil.

"Prometi que ia te trazer ouro, princesa... Me desculpa." As palavras saíram com dificuldade, carregadas de arrependimento e uma tristeza que parecia não ter fim. Ela encostou a cabeça no ombro de Priscila, como se buscasse refúgio na presença da amiga, sentindo o peso da culpa esmagando seu peito.

Darolana - One ShotOnde histórias criam vida. Descubra agora