Something between Us

02

14/04/2024

Margarida Albuquerque

10:45

Hoje é dia de Benfica e eu não podia estar mais feliz. Tenho a minha família comigo. Neste momento ainda estão todos a dormir, incluindo a Madalena.

Vou até à cozinha, com cuidado para não fazer barulho e acordar alguém, e tiro do frigorifico um iogurte para comer, pois parece-me ser a opção mais silenciosa.

Quando acabo de comer, estudo um pouco sobre anatomia, é melhor fazê-lo enquanto tenho a sala só para mim. O que não dura muito tempo. 11:17 e sou interrompida pela minha mãe.

- Bom dia meu amor - beija-me a testa com o seu carinho incomparável.

- Bom dia, Dona Carmo - chamar-lhe Dona Carmo é uma piada interna na nossa família. Não sei onde começou, desde sempre que lhe chamamos Dona Carmo em vez de lhe chamarmos "mãe" ou, no caso do meu pai, apenas "Carmo". Provavelmente começou  nalgum dia em que ela estava stressada com o meu pai e ele disse "Calma Dona Carmo". Di-lo muitas vezes, sempre com a sua ironia e boa disposição.

Tirando os momentos em que está a ver futebol, não me lembro de ver o meu pai mal humurado ou stressado, claro que todos temos maus momentos, mas ele não tem nada mais do que isso.

- Já comeste? - perguntou, com o seu instinto maternal.

- Sim já, queres que te faça alguma coisa para comer?

- Deixa estar, eu faço. O que estás a estudar?

- Anatomia. Não é horrível, mas está longe de ser divertido.

- E a faculdade como vai?

- Vai bem. - Apenas lhe digo isto. Mas é mentira. Não vai nada bem. Quer dizer, as notas são boas e a média continua alta, mas mal consigo conjugar a maternidade com a faculdade. É tão difícil. Mas ela não precisa de saber disso, as preocupações dela já são de mais, não precisa das minhas também.

- Bem, vou deixar-te estudar, aproveita enquando a tua filha não acorda. - Depois de dizer isto volta a dar-me um beijo na testa e senta-se no sofá a dar festinhas ao cão.

(...)

13:44

Já estamos todos prontos para almoçar, menos o Martim que ainda nem acordou.

- Mas como é que ele dorme tanto? - pergunto, impaciente. - Vou acordá-lo. Não metam a mesa, é castigo por ter acordado tão tarde!

O Martim dormiu no meu quarto e os meus pais dormiram no quarto de hóspedes. Eu acabei por adormecer no sofá e fiquei por lá a noite inteira.

Entro no meu quarto e o Martim ainda dorme como um bebé. Como é que alguém dorme tanto? Ele não se deitou assim tão tarde!

- Acorda idiota! - atiro-lhe uma almofada à cabeça.

Ele coloca a cabeça em baixo da almofada de modo a não me conseguir ouvir.

- Vá lá Martim, são três da tarde e combinei com a Alice às 16:30 na Luz! - talvez tenha exagerado um bocado nas horas, nem duas são, quanto mais três... mas isso ele só precisa de descobrir quando se levantar.

(...)

Quando acabámos de almoçar eram 14:27. Acho que pela primeira vez não estou atrasada.