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21/04/2024

Margarida Albuquerque

17:47

Estou dentro do carro no estacionamento da creche onde a Madalena vai depois da escola.

Ontem tive que ir com a minha bebé para o hospital de urgência. 41°C de febre que não baixavam de maneira nenhuma. Levou soro e pronto, ficou bem.

É a hipocrisia do cancro: prega-nos os maiores sustos e depois não acontece nada. O pior é quando não há sintomas. Não há absolutamente nada que possamos fazer, não sabemos o que se está a passar sequer. E aí sim, aí pode acontecer o pior.

Saio do carro e observo as crianças a brincar no pátio da creche. Toco à campainha e, de dentro do edifício, abrem-me o pequeno portão através de uma espécie de campainha.

- Mamã! - a minha filha corre até mim, o que me faz baixar e dar-lhe um abraço. E que bom que é esse abraço.

- Isso é tudo saudades? - rio-me - Vai buscar a tua mochila.

A mais nova faz o que lhe digo enquanto a senhora que trabalha na creche vem falar comigo como faz normalmente.

- Olá Dona Elvira, como está? - cumprimento-a com um beijinho.

- Tudo bem minha querida, e com vocês? A Madalena ontem não veio, está tudo bem? - a Dona Elvira é das pessoas mais queridas que conheço. Mora num prédio perto do meu e assim que me mudei para Lisboa procurou saber se eu tinha filhos. Quando lhe disse que sim, ofereceu-se para "dar uma ajudinha" com a vaga para Madalena. É como se me tivesse metido uma cunha, e sou-lhe eternamente grata por isso, a dificuldade em encontrar creches está cada vez maior.

- Sim está tudo bem, apenas tivemos de ir ao hospital. Outra crise daquelas...

(...)

A minha filha chega com as suas coisas e despedimo-nos da funcionária depois de alguns minutos de conversa.

Entramos no carro e coloco a playlist dos ABBA que a Madalena adora. Sabe todas as músicas, é uma mini super fã. É assim que vejo a boa educação que lhe estou a dar.

(...)

Assim que chegamos a casa a Madalena pede-me para ligar ao seu tio. Pego no meu telemóvel e ligo por chamada de vídeo ao meu irmão.

- O que foi? - é assim que o Martim me atende do outro lado do telemóvel.

Mania dos rapazes atenderem sempre como se fossem uns brutos mal criados.

- Olá maninho, está tudo bem comigo sim, obrigada por perguntares - ironizo.

- Engraçada - está sentado na mesa da cozinha a comer qualquer coisa.

- A Madalena quer falar contigo - passo o telemóvel à mais nova.

- Timmm! - diz assim que lhe dou o aparelho para as mãos.

- Olá Maiena - as minhas crias, como gosto de lhes chamar, continuam a falar sobre as coisas mais aleatórias possíveis.

Something between UsOnde histórias criam vida. Descubra agora