Abismo

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Taehyung estava sentado em uma cadeira de couro na sala reservada, as luzes fluorescentes acima lançando um brilho pálido e frio sobre ele. À sua frente, o psiquiatra, Dr. Minseok, observava-o com olhos treinados, notando cada nuance de sua postura, cada respiração irregular. No canto da sala, uma câmera registrava cada momento da sessão, transmitindo ao vivo para uma sala adjacente onde Jungkook, os pais de Taehyung, e a diretora da escola assistiam em um silêncio tenso.

Taehyung mantinha o olhar fixo no chão, as mãos trêmulas descansando em seu colo. O som do relógio na parede era a única coisa que preenchia o silêncio sufocante entre eles.

— Taehyung — Dr. Minseok começou, com uma voz suave, mas firme. — sinto muito que você esteja passando por tudo isso. Sei que não deve ser fácil. Pode me contar o que está acontecendo com você?

Taehyung permaneceu em silêncio por um longo tempo, as palavras presas na garganta como uma bola de espinhos. Quando finalmente falou, sua voz estava rouca, como se tivesse sido arrancada à força de dentro dele.

— Eu... eu não sei por onde começar. — murmurou, ainda evitando o olhar do médico.

— Comece pelo que está te machucando mais agora. — o Dr. Minseok sugeriu. "O que está te pesando no peito?"

Taehyung fechou os olhos, tentando segurar as lágrimas que ameaçavam escapar. Ele sabia que não poderia mais fugir da escuridão que o consumia.

— Eu não aguento mais viver.. —  ele disse finalmente, sua voz tremendo com a confissão. — Todos os dias... eu acordo com esse peso, como se estivesse me afogando. Eu queria... Eu queria que tudo isso acabasse."

Na sala ao lado, Jungkook arregalou os olhos, a dor que ele sentia atingindo-o como uma marreta no peito. Ele se inclinou para frente, apertando as mãos em punhos enquanto lutava para processar as palavras de Taehyung. Os pais de Taehyung também estavam em choque, a mãe dele levando uma mão à boca para sufocar um soluço, enquanto o pai apertava os olhos fechados, a culpa e o arrependimento estampados em sua expressão.

Dr. Minseok permaneceu calmo, sabendo que precisava guiar Taehyung através dessa confissão dolorosa.

— Por que você sente que não pode mais continuar? — ele perguntou, mantendo sua voz suave, mas insistente.

Taehyung hesitou, mas as palavras começaram a fluir, lentas e pesadas como chumbo. 

— Eu tenho esses sonhos... esses pesadelos... Eles não me deixam em paz. Sempre é a mesma coisa, repetindo, repetindo, até eu acordar, suando e gritando...

Ele começou a tremer enquanto descrevia os pesadelos que o assombravam. 

— Eu vejo Baekhyun... Ele está segurando uma faca, e Jungkook... Jungkook está na minha frente, implorando por ajuda, mas eu não consigo me mexer. Eu estou congelado, e então... então Baekhyun... ele... — A voz de Taehyung se quebrou, e ele respirou fundo antes de continuar, as lágrimas agora escorrendo livremente por seu rosto. — Ele mata Jungkook na minha frente. E eu não posso fazer nada. Eu só fico lá, assistindo... E o sangue... o sangue está em todo lugar.

Na outra sala, Jungkook sentiu uma onda de náusea subir por sua garganta, seu corpo tremendo incontrolavelmente. O horror de ouvir o que Taehyung estava passando era quase insuportável. Ele queria correr até aquela sala, abraçar Taehyung, dizer a ele que estava tudo bem, que era só um sonho... mas ele sabia que não podia. Tudo o que podia fazer era assistir, impotente, enquanto Tae desabafava suas dores mais profundas.

— Esses sonhos parecem muito reais para você, não é? — o Dr. Minseok perguntou, seu tom gentil, mas focado.

 — Sim. — Tae sussurrou, apertando as mãos no colo até os nós dos dedos ficarem brancos. — Eu... eu comecei a achar que eles eram uma espécie de presságio. Como se... como se eu estivesse destinado a ver Jungkook morrer... e fosse minha culpa. Eu sou fraco... tão fraco...

Na outra sala, o pai de Taehyung fechou os olhos com força, a dor em seu peito crescendo a cada palavra que ouvia. Ele sabia que, de certa forma, ele havia contribuído para aquele sentimento de fraqueza em seu filho. As palavras cruéis que ele jogara em Tae durante anos, tentando "endurecê-lo", estavam agora voltando para assombrá-lo. Ele nunca quis que chegasse a esse ponto, nunca quis que seu filho sentisse que não valia nada.

— O que mais está te machucando, Taehyung? — o Dr. Minseok incentivou, percebendo que havia mais que Taehyung precisava soltar.

— Meu pai. — Taehyung disse finalmente, com a voz carregada de dor. — Ele... ele sempre me disse que eu era um fardo. Que eu não era o filho que ele queria. Eu tentei... tentei ser melhor, tentei ser o filho que ele queria, mas... nada do que eu fazia era suficiente.

As palavras saíram de sua boca como facas, cortando não só a si mesmo, mas a todos na outra sala. O pai de Taehyung deixou escapar um gemido baixo, as lágrimas finalmente rolando por suas bochechas. Ele sabia que tinha falhado como pai, que havia permitido que sua frustração e suas expectativas irreais corroessem o relacionamento com seu filho. E agora, vendo o resultado devastador de suas ações, ele mal podia suportar o peso da culpa.

— Eu apanhei muito. — Taehyung continuou, como se estivesse se libertando de um fardo insuportável. — Mas as palavras... as palavras dele doem mais do que qualquer tapa. Ele dizia que eu era fraco, que nunca seria homem de verdade. Eu comecei a acreditar nele.

Dr. Minseok acenou com a cabeça, absorvendo tudo o que Tae dizia. 

— E você acha que, por causa disso, você não tem valor?

— Sim. — Taehyung respondeu, sua voz baixa, quase inaudível. — Eu sinto que... se eu desaparecesse, tudo ficaria melhor. Kook não precisaria se preocupar comigo. Meu pai... meu pai teria paz. Eu só queria... acabar com toda essa dor.

Do outro lado do vidro, Jungkook não conseguia mais conter suas lágrimas. Elas corriam livremente por seu rosto enquanto ele ouvia as palavras devastadoras de Taehyung. Ele nunca soube o quão profunda era a dor que o garoto carregava, o quão perto ele estava de perder alguém que significava o mundo para ele. Jungkook se sentia impotente, afogado em uma maré de emoções que ele não conseguia controlar.

Na sala, o Dr. Minseok se inclinou ligeiramente para frente, sua voz firme, mas compassiva.

— Taehyung, você é muito mais forte do que pensa. Você sobreviveu a tudo isso, e ainda está aqui. Isso é prova de uma força que talvez nem você saiba que tem.

Tae balançou a cabeça, os olhos marejados agora fixos no chão. Ele começou a bater levemente na própria cabeça, como se quisesse afastar os pensamentos dolorosos que o consumiam. 

—Eu... Eu não consigo... Isso nunca vai parar... Eu só quero que pare...

Desesperado, Taehyung começou a murmurar o nome de Jungkook, sua voz carregada de angústia. 

— Kook... Kook... por favor... Me ajuda...

Dr. Minseok, percebendo que a situação estava se agravando, acenou discretamente para a câmera. Na outra sala, Jungkook não hesitou. Ele se levantou de um salto e correu para a sala ao lado com o coração acelerado, temendo o pior.

Ao entrar, Jungkook encontrou Taehyung encolhido na cadeira, ainda batendo levemente na cabeça e sussurrando seu nome. Sem pensar duas vezes, ele se ajoelhou ao lado dele, segurando suas mãos com firmeza, mas com delicadeza.

— Tae, estou aqui. — Jungkook sussurrou, a voz trêmula, tentando acalmá-lo. — Você não está sozinho. Eu estou aqui...

Taehyung ergueu os olhos para Jungkook, as lágrimas escorrendo pelo rosto, e sua voz saiu carregada de desespero. 

— Kook... Por favor... Faça isso parar. Eu não aguento mais. Faz tudo isso parar, por favor.

Jungkook sentiu seu coração se partir ao ouvir o pedido de Tae. Ele envolveu Taehyung em seus braços, apertando-o com força, tentando transmitir a ele todo o amor e conforto que podia. 

— Eu vou te ajudar, Tae. Eu vou fazer isso parar...eu prometo.

Enquanto segurava Taehyung em seus braços, Jungkook sentiu a determinação crescer dentro dele. Ele estava decidido a fazer tudo o que estivesse ao seu alcance para ajudar Taehyung.

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⏰ Última atualização: Aug 17 ⏰

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