ᴠɪɢᴇꜱɪᴍᴏ ꜱᴇɢᴜɴᴅᴏ.

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O seu azul viajou de regresso para o atraente rosto do único rapaz capaz de lhe chegar ao coração até aos dias atuais. Encontrou-o de olhos fechados enquanto tinha os dedos cruzados por cima do seu abdómen. Um sorriso involuntário cresceu nos lábios da loira. A serenidade que caracterizava tão bem o jogador nascido no Funchal era infectuosa, num bom sentido. A tormenta vivida pela finalista de arquitetura serenava com Henrique.

De facto, toda a situação era ridícula. Começando pela atitude tomada por Henrique, passando pela insistência de Carolina em duvidar do que lhe havia dito, há dois dias, e terminando no facto de não saber o que fazer perante tanto avanço e recuo por parte de toda a gente que tem um lugar na sua vida. Não podia simplesmente lhes virar as costas por mais que possuísse essa vontade. Verdade seja dita, cada um parecia ter uma opinião a dizer – opinião distintas, diga-se de passagem – e a única que deveria opinar sobre a situação e à sua vida era Beatriz, sem dúvida alguma.

Um suspiro até discreto escapou por entre os seus lábios carnudos. Subiu as suas íris azuis até ao teto branco, considerando qual seria o passo adequado, ou melhor, o seu próximo passo. Tinha de tomar uma decisão, mesmo que não fosse a mais correta. Novamente, o seu olhar encontrou o caminho de volta para o moreno que permanecia em silêncio e de olhos fechados. Estranho, mas compreensível. Beatriz conhecia Henrique o suficiente para perceber que o próprio estava envergonhado e desiludido com as suas próprias ações, uma vez que tinha magoado a pessoa de quem mais gosta.

Sem hesitações, os seus suaves lábios colaram-se à testa do jogador num carinhoso beijo, que tencionava tranquilizar o coração apertado e agitado do próprio. Posteriormente, sentindo o olhar intenso dele a queimar no seu rosto, a estudante de arquitetura descansou a cabeça no peito atlético do profissional de futebol e levou a sua mão esquerda à mão direita do mesmo a fim de entrelaçar os seus dedos com os dele. Fechou os olhos com um sorriso na cara ao sentir os lábios de Henrique no topo da sua cabeça.

- Perdoa-me. – Henrique quebrou o silêncio que perdurou na divisão escura e entre o casal por curtos minutos.

- Está tudo bem, Henrique. – Ainda de olhos fechados, Beatriz procurou tranquilizar o moreno. – No final, tudo foi esclarecido, por isso, já passou. – Concluiu a sua ideia, voltando ao silêncio. No entanto, o seu subconsciente estava acordado com os seus impetuosos pensamentos, o que a obrigou a afastar a ideia do silêncio por enquanto. – Já não há mais nada a vir ao descoberto, pois não? É preferível que se saiba já do que mais tarde e, especialmente, por outras pessoas. Evita-se confusões, também. – Procurou dar a conhecer o seu ponto de vista.

- Da minha parte, não há nada mais escondido. – Henrique respondeu com o polegar a acariciar a mão da jovem estudante.

Beatriz empregou um movimento de cabeça ligeiro em sinal afirmativo a fim de mostrar ao moreno que o tinha escutado e, de seguida, remeteu-se ao silêncio, mais uma vez, visto que desejava aproveitar o máximo da paz proveniente do silêncio. Quanto menos barulho, melhor para si, uma vez que, para confusão, já bastava a sua própria cabeça.

- Quando fugiste, foi o António a encontrar-te, não foi? – A estudante universitária não evitou revirar os olhos mentalmente quando viu o seu desejo incumprido. Respondeu ao moreno com um acenar de cabeça. – Ele ainda demorou algum tempo ou encontrou-te, logo? – Henrique colocou mais uma questão.

- Escusas de estar a fazer rotundas, Araújo. Vai logo direto ao assunto.

- Desde quando é que te tornaste tão ácida? – Entre leves risos, o madeirense questionou, num tom retórico. – Só estava a tentar perceber se estavas no Seixal para ver se as voltas que nós demos lá foram em vão ou não. – Assim que terminou de falar, ouviu leves gargalhadas por parte da loira.

the story | henrique araújoOnde histórias criam vida. Descubra agora