4- Isabela Valente.

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Encaro meu reflexo no espelho

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Encaro meu reflexo no espelho. Estou com uma séria dúvida entre usar a camiseta listrada laranja ou a listrada verde. Troco pelo menos uma seis vezes até decidir usar a laranja. Depois visto meu macacão, coloco os All Stars amarelos e meus brincos de estrela. Pego minha mochila e dou uma rápida arrumada em meus cachos verdes. Acho que nunca tinha me arrumado tanto para sair de casa em um sábado. Se fosse um dia comum, eu estaria sentada em frente à escrivaninha, escrevendo de pijama. Mas hoje é o primeiro dia do estágio, então quero estar pelo menos apresentável.

Saio do quarto e vou até a sala avisar minha mãe que estou pronta. A encontro analisando a decoração da estante com muita cautela. Outro fato sobre mamãe, ela reorganiza toda a decoração da casa

pelo menos duas vezes por semana. O único lugar que ela nunca muda nada é o meu quarto. Só eu arrumo e decoro ele. Sei como gosto das coisas.

- Mãe, podemos ir.- Digo e ela volta à realidade.

- Deixa eu ver esse look. Dá uma giradinha aí.

Eu giro lentamente para que ela possa analisar minhas roupas. Ela abre um sorriso e faz um certinho com as duas mãos. Também sorrio. Sei que esses certinhos não foram por causa da roupa. Ela ainda está preocupada comigo por conta da minha crise. Mesmo que tenha sido há quatro dias. Acho que ela tem medo que aconteça de novo. A gente sabe que vai acontecer de novo, sempre acontece. Mas ainda vai demorar. Me sinto bem melhor agora. Só estou um pouquinho nervosa com o começo do estágio.

- Vamos?- Minha mãe pergunta pegando sua bolsa.

- Bora! - Sorrio e vou em direção à porta.

Estou tentando me manter positiva, para cima. Não quero que os pensamentos negativos me dominem. Já foi ruim o suficiente na terça.

Durante todo o trajeto de carro até o Jardim Botânico eu e mamãe ouvimos e cantamos músicas do ‘Secos e Molhados’. É divertido. Minha mente se manteve ocupada durante toda a viagem. Quando mamãe estacionou o carro em frente ao Jardim Botânico, eu me sentia tranquila. Desço e me espreguiço. Pego minha mochila no banco de trás. Mamãe me observa.

- Tem certeza que não quer que eu vá contigo? - Ela pergunta.

- Não precisa, mãe. Eu tô bem. Consigo ir sozinha. - Eu a tranquilizo.

Ela me olha por alguns segundos, vem até mim e me dá um abraço apertado. Eu a abraço de volta.

- Eu vou ficar aqui perto pro caso de tu precisar de mim. - Mamãe diz. - Qualquer coisa me manda mensagem.

- Pode deixar, mãe. - Digo e ela me dá um beijo na testa.

Ando em direção ao portão de entrada do Jardim Botânico. Antes de atravessá-lo, respiro fundo e digo a mim mesma que está tudo bem. Lá dentro tenho que andar um pouco até achar a recepção.

- Bom dia! O que gostaria? - Diz alegre a moça da recepção quando eu me aproximo.

Travo de cara. É como se eu esquecesse quem sou e o que estou fazendo. Parece que o chão desapareceu e eu estou voando. Sem saber voar. A sensação é horrível. É como se afogar no mar. Só que no ar. "Não, Darcy! Calma. Tá tudo bem. Respira.", penso. Respiro. Seguro meu amuleto da sorte, um colar com pingente de estrela. Sempre faço isso quando estou nervosa.

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