III. Paris, 2024.

960 184 4
                                    


ELLIE CARTER

As Olimpíadas de 2024 finalmente chegaram, trazendo consigo uma avalanche de emoções. Paris, com toda a sua beleza e história, parecia quase surreal, como se eu estivesse dentro de um sonho. Mas ao mesmo tempo, essa viagem era uma realidade intensa e complexa para mim. Não se tratava apenas de competir, de lutar pelo ouro com a seleção americana; havia uma promessa em jogo, uma promessa que fiz à minha filha.

Lily estava tão animada desde o momento em que aterrissamos. Seus olhos grandes e curiosos capturavam cada detalhe, e sua empolgação era quase palpável. Para ela, essa era a chance de ver Rebeca Andrade, sua heroína, ao vivo. Para mim, era a oportunidade de proporcionar um momento de alegria genuína para minha filha, algo que ela precisava desesperadamente depois de tudo o que passamos.

Mas havia um peso em meu peito. Chloe deveria estar aqui conosco. Ela deveria estar segurando minha mão, dividindo o fardo e a alegria dessa experiência. Ao invés disso, sou eu que estou tentando ser forte por nossas filhas, carregando essa dor silenciosa e tentando encontrar forças para seguir em frente. Cada sorriso de Lily me lembra do que perdemos, mas também do que ainda temos.

Deus, dai-me forças nesse momento tão difícil!, eu pensava, pedindo aos céus para que o vazio em meu coração se preenchesse.

Quando finalmente chegamos ao hotel, depois de um dia exaustivo de reuniões e treinamentos, tomei um banho, dei banho em Celine e logo encontrei Lily imersa em mais um vídeo, mas dessa vez era de uma tal de Flávia Saraiva. Era quase como se ela estivesse se preparando também, mentalmente se conectando com a ginasta que tanto admirava, conhecendo as amigas dela e sua vida. Eu sentei ao lado dela, tentando absorver um pouco daquela energia infantil, daquela determinação que eu sabia que precisava canalizar para os dias que viriam. Coloco uma fralda em Celine e visto uma roupa bem quentinha nela, já que fazia frio aquela noite e sinceramente a última coisa que eu quero é que minha bebezinha fique gripada. Coloco para tocar uma playlist do Billie Eilish e Celine aos poucos vai parando de se agitar, e adormece em meus braços. Coloco-a no carrinho (que estava sendo seu berço improvisado) e vou dar banho em Lily.

Lavo seu cabelinho, fazendo diversos penteados com a espuma, enquanto ela ria, e eu também, sentindo a leveza daquele momento.

- Mamãe, você acha que a Rebeca já chegou aqui? - a voz de Lily era cheia de expectativa, um brilho nos olhos que me fez sorrir.

- Acho que sim, meu amor - respondi, enxaguando seus cabelos. - E sabe o que é melhor? Amanhã vamos ver a apresentação dela ao vivo.

O jeito que os olhos de Lily se abriram e se iluminaram naquele instante foi tudo para mim. Naquele momento, soube que valeria a pena. Todo o esforço, toda a dor, todas as noites em claro pensando em como manter minha promessa... tudo isso desapareceu quando vi aquele sorriso. Eu faria qualquer coisa por aquele sorriso.

No dia seguinte, consegui uma folga rara dos compromissos do time. Segurei a mão de Lily com firmeza enquanto caminhávamos em direção à arena de ginástica. O ambiente estava carregado de energia, com torcidas de todos os cantos do mundo se reunindo para apoiar seus atletas. Celine estava quieta em seu carrinho, seus olhinhos curiosos absorvendo tudo ao seu redor.

Dentro da arena, Lily estava extasiada. Ela mal conseguia ficar parada, a antecipação borbulhando dentro dela. Quando Rebeca finalmente entrou no ginásio, o mundo pareceu parar para minha filha. Seus olhos estavam fixos na ginasta, e eu pude ver a conexão profunda que Lily sentia com aquela mulher a quilômetros de distância de nossa casa.

Enquanto Rebeca se movia com graça e precisão, vi Lily vibrando de alegria, cada movimento era como um feitiço sendo lançado sobre ela. E naquele momento, percebi o quão importante era para Lily ter alguém em quem se espelhar, alguém para admirar e aspirar ser. Era algo que eu não podia dar a ela, não de forma tão pura e poderosa. Mas Rebeca podia, e isso era tudo que importava.

Quando a apresentação terminou, e os aplausos ecoaram pela arena, eu soube que aquele era um momento que Lily nunca esqueceria. E nem eu. Ver minha filha tão feliz, tão plena naquele instante, me deu uma paz que eu não sentia há muito tempo. Talvez, apenas talvez, estivéssemos começando a encontrar nosso caminho de volta à felicidade.

𝐇𝐄𝐀𝐑𝐓𝐒, ᴿᵉᵇᵉᶜᵃ ᴬⁿᵈʳᵃᵈᵉOnde histórias criam vida. Descubra agora