Reflexões no Supermercado.

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Aqui estou eu, preparando-me para subir na moto e ir ao supermercado com meu pai. Durante o percurso, me deparo com a beleza do mundo que me cerca e começo a refletir sobre a beleza de tudo o que existe, em seus mais diversos ângulos. Faço uma prece sincera a Deus, ao Criador, sobre uma questão enigmática e conflitante que me assola. A verdade é que fui ao supermercado com a intenção de acalmar a mente e, de fato, consegui.

Voltando às minhas percepções sobre o mundo ao meu redor, começo a conversar com Deus sobre a infinidade de marcas, logotipos e cores; tudo isso me fascinava. Já era hora de descer da moto. Pus os pés no chão e, enquanto retirava o capacete, começo a me separar de uma atmosfera para adentrar outra, única. Entro no supermercado com outros olhos, como se tudo se expandisse. Converso interiormente sobre os diversos produtos no supermercado, os padrões de cores, como eram classificados, nomeados e organizados nas prateleiras. Segui andando ao lado do meu pai, porém não estava presente mentalmente, apenas fisicamente. Dilatava-me os olhos o fato de perceber o quão incrível é a diversidade de pessoas que vão comprar suas coisas: crianças, jovens e adultos, cada um vivendo o mundo sob suas perspectivas, crenças, experiências, sentimentos, intuições. Cada um permeado e exposto a tantos estímulos diferentes, positivos ou negativos, cada um com uma personalidade distinta.

A beleza por trás das relações interpessoais e intrapessoais. Uns em dupla, trio, grupos, outros sozinhos, mas felizes. Outros tristes, angustiados, desesperados, incertos, vazios. Também há quem não vivencie o momento, focado em uma tela de celular. Solteiros, divorciados, juntos, ficantes, mas, sobretudo, famílias. O brilho dos olhos das crianças observando seus pais comprando as coisas, o preço de cada produto, o simples fato de ajudar seus pais preenchendo e tornando aquele dia único e significativo, ou simplesmente pedindo-lhes para comprarem um doce. Pais carinhosos, pais irritados. Crianças felizes, crianças tristes. Pessoas se alimentando, pessoas com dinheiro para se alimentar, pessoas empregadas, em grande contraste com aqueles que não têm nem onde pôr a cabeça. Pessoas que entram no supermercado pedindo moedas ou ajuda porque realmente necessitam, mas outras fazem o mesmo se aproveitando da boa vontade, caráter e educação dos que colaboram. Um espaço de vivências, não apenas um local, mas um lugar. Um espaço para lanchar, onde diversas pessoas podem passar e descansar. Cada funcionário, lutando por seus ideais, tem uma carga horária pesada, chegando cedo, almoçando e jantando tarde, pois o trabalho só acaba tarde, para, no outro dia, recomeçar o ciclo. Cada um também é um ser humano.

As amizades, as relações superficiais, o amor, o carinho ou simplesmente a falta deles, não passam despercebidos. Basta que nos atentemos à nossa existência. Uma microscópica fração de um único produto contém incontáveis átomos, infinitos. Imagine a soma de todos os produtos do supermercado, que eu passaria horas para contar visivelmente, sendo calculados minuciosa e microscopicamente? Infinitos Universos dentro de um mesmo Universo. Uma única fração de um produto já é suficiente para dar sentido à minha existência. Uma eternidade. E quantos Universos surgem no meu transcrever de pensamentos em forma de texto? Que complexidade gritante, abismante, e que fascina e entusiasma qualquer um.

Como é gracioso saber que um lugar pode me trazer tanta paz, que posso encontrar de fato Deus, que Ele sabe quem eu sou e que me dá, com seu design cósmico, infinitas possibilidades de ser feliz. A própria arquitetura que Ele faz revela Sua grandiosidade e Glória. Agora já é hora de voltar para casa. Subo na moto novamente e me recordo que, momentos antes de irmos ao supermercado, ajudei meu pai a ajustar o corta-pipas da moto, uma atitude simples e que só percebi a preciosidade e beleza minutos depois. No caminho de volta para casa, vi jovens correndo na rua, jogando bola. Felizes, maior riqueza não há. Um sentimento gritante de liberdade. Sem as imposições de ninguém, apenas sendo eles mesmos e corroborando para aquilo que foram planejados: a vida.

Por outro lado, há aqueles que, por suas inseguranças, externalizam o que internamente está em conflito, exibindo-se de forma que, por meio da validação externa, possam acalmar essa confusão e barulheira. Também há quem necessite de roupa, quem passe constantemente pelo frio, quem necessite de um ombro amigo, um abraço, carinho, comida, lar, roupas. A injustiça e as máscaras caem, pessoas morando nas ruas, gatos e cachorros passando fome, precisando do básico e merecedores de tudo aquilo que a Constituição nos assegura. Aqui, não há céu, inferno ou purgatório, mas a própria realidade tão crua quanto é. Não há ninguém melhor do que ninguém: um contraste e sobreposição, opacidade e transparência, um conjunto de linhas tênues, verdades e mentiras, coisas supérfluas e necessárias, dualidades. Tudo mostra os benefícios e malefícios; ninguém é detentor de Deus, e sim, Deus é a Verdadeira Verdade. Um constante desvendar das dualidades, nada passando despercebido.

Nesse trajeto, já vivi suficientemente eternidades. A cabeça esfria e acalma; a presença de Deus em meu coração se faz dúctil e tão resistente quanto o diamante. Queria poder colocar todas as infinidades de Universos no papel, mas, como são infinitas, viverei infinitamente explorando esses Universos. E apenas cada letrinha dessa nos leva a infinitas possibilidades e probabilidades de Universos. O sentido da vida é explorar, buscar, construir, se aventurar e lançar-se no infinito.

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