Capítulo 01

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Divórcio é bom com vinho •

   "O silêncio pode ser confortável, pode ser seu lugar de paz e comodidade. Porém, depois que começamos a dividir esse silêncio com outra pessoa, a depender, pode ser tão ensurdecedor quanto cômodo. E é aquilo que dizem, nem tudo que é cômodo, quer dizer ser confortável", Desconhecido.

Portanto, o silêncio na sala de estar do apartamento de Annalise estava eufórico e desregulado — provavelmente, porque  as outras pessoas que estavam ali voltavam a conversar hora ou outra Enquanto outras pediam por silêncio.  Dentre todos, Annalise encontrava-se pô segurando uma taça de vinho em uma das mãos, de vez em quando bebericava aquele círculo de vidro, encostada na parede ao lado da porta.

O que ela fazia? Esperava uma ligação da portaria do seu prédio — pelo menos foi o combinado mais cedo naquele dia entre ela e o seu porteiro preferido. Segundos depois, os corpos presentes congelaram quando o interfone tocou, logo, Annalise o atendeu:

Ele já está subindo!

Disse o porteiro com uma animação contida, ao que parece ele não podia ser ouvido por outrem que estivesse por perto. Sendo assim, esse "outrem" seria o digníssimo de Annalise, Joan.

Joan é um homem alto de beleza comum, nos seus 30 anos de idade. Naquele dia, Annalise e Joan estavam para comemorar suas "bodas de açúcar" ou seus 6 anos de casamento. Para isso, Annalise preparou um evento para os amigos íntimos dos dois, sendo os únicos familiares presentes: a irmã mais velha do Joan e a melhor amiga de Annalise, a qual considerava da família já que se conheciam desde a infância.

Assim, com os pulmões inflados de ar e sorrisos no rosto, todos escutaram com euforia o estalar das chaves, logo após, a maçaneta, fazendo com que a luz do corredor entrasse pela primeira fresta formada pela abertura da porta, clareando parte do local. Nesse momento, ao ouvir os sapatos se chocando com o chão de madeira ao andar e o interruptor sendo ligado, desvendando uma pequena lagoa de pessoas à sua frente com todos gritando "surpresa!", Juan, de fato, ficou bastante surpreso.

Sem nenhum tempo a perder, com um grande sorriso, Annalise se desfaz de sua taça de vinho, deixando-a em cima da pequena mesa de canto, em seguida indo em direção ao seu marido, que ainda com os olhos arregalados pelo susto, soltou o ar de seus pulmões pelo nariz, enquanto olhará para baixo, envergonhado. Juan, de fato, não gostava de atenção.

— Feliz aniversário de casamento!

Diz Annalise, enquanto seus amigos comemoram com sorrisos e taças de vinho para cima como em um brinde. No momento seguinte, como de costume, Annalise inclina seu rosto em direção ao de Juan, para beijá-lo discretamente. Do mesmo modo, como de costume nas últimas semanas, Juan vira seu rosto, deixando que Annalise beijei somente o canto de sua boca.

— Sabe que não gosto disso na frente de outros.

Juan pragueja, de forma soprando, quase tão inaudível que mesmo Annalise não escuta com clareza.

— Irei me trocar!

Informa Juan, para que todos escutem, principalmente Annalise, enquanto afasta-a pelos ombros delicadamente. Enquanto caminha com sua mala em direção ao corredor de onde detém seus quartos e banheiro, agradece a presença de algumas pessoas que estavam no caminho, logo após, desaparecendo no corredor.

Annalise é deixada para trás, sua expressão não passava nada mais do que conformismo. Seu olhar não estava surpreso ou triste, mas paralisado. Seus lábios secos, em provável vergonha de alguém ter visto aquela situação que, apesar de costumeira no íntimo dos dois, Juan normalmente agirá como um casal de fato na frente de outras pessoas.

— Certo, isso você não me contou.

A mulher de pele amarelada e cabelos cacheados do estilo da Carrie de "Sex and the City" sibilou ao lado de Annalise, perto o suficiente para que ninguém ouvisse.

— Não preciso mais. Isso está mais do que na cara.

Annalise respirou fundo, enquanto sentia uma mão acariciar seu ombro.

— Annie, você sabe que pode conversar comigo, não sabe?

Annalise encarou o chão, procurando os olhos de Rebecca logo depois. O par cor de mel a encarava de volta, mas Annie não sabia o que tinha ali, entre pena e tristeza, duvidava de quem estava ganhando. Mesmo assim, assentiu. Logo, voltando a deixar um sorriso forçado surgir em seus lábios, tomando novamente a taça de vinho nas mãos.

Algumas horas depois, algumas — muitas — taças de vinho depois, todos estavam cansados o suficiente para ir embora e como costumavam dizer após eventos que entravam pela madrugada: "foi-se o tempo em que ficávamos até o amanhecer em alguma festa". O que era brincadeira, pois, naquela quinta-feira, a maioria trabalhava pela manhã.

O casal se despedia de todos, levando cada um até a porta do apartamento. Após isso, antes o que eram sorrisos soltos e algumas piadas, virou silêncio, que se instaurou novamente no lugar. Entretanto, era bastante diferente do que de costume.

— Preciso de um tempo.

Annalise não conseguia encarar os olhos de Juan, sua mente estava mais interessada em observar como sua mesa de centro estava empanturrada de pratos sujos. Porém, quando o grupo de papéis fora jogado em cima da mesma, no único espaço limpo, logo, seus olhos miraram aquela palavra que de fato a assustou.

"Divórcio"

Annalise não o dirigiu à palavra. Portanto, pegou o conjunto de folhas de papel em uma das mãos e caminhou em direção a cozinha. Colocou os papéis na bancada ao lado de uma garrafa de vinho tinto e os assinou com a mesma caneta que foi usada horas atrás por Juan, logo acima da sua assinatura estava outra, a do seu futuro ex-marido. Após isso, pegou a garrafa de vinho que estava ali à sua frente e virou dentro de sua boca, sentindo um gosto amargo em seguida.

Annalise sabia o que estava engolindo. Reconhecia esse sentimento. Entretanto, o gosto melhorou um pouco por causa do vinho.

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