INVASÃO DE PRIVACIDADE

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REENCONTRAR Luna depois de tanto tempo foi um choque. Era algo tão inacreditável que nem nos meus melhores sonhos eu poderia ter imaginado. Meu coração disparou, e por um momento, tudo ao meu redor pareceu sumir, exceto ela.

“Então... Tchau,” foi o que ela conseguiu dizer, sua voz soando hesitante, como se não quisesse realmente partir. Seus cabelos pretos e longos, agora com leves ondulações, balançaram suavemente. O corpo dela, antes tão familiar, agora havia se transformado, carregando a beleza e a confiança de uma mulher. Seus olhos, levemente claros, encontraram os meus por uma última vez, e eu não consegui formular uma resposta útil. Só acenei, deixando que ela passasse por mim, enquanto o perfume familiar dela me envolvia, trazendo uma enxurrada de memórias.

Entrei no banheiro e me inclinei sobre a pia, apoiando as mãos na borda fria. Liguei a torneira, deixando a água fluir, e com uma das mãos, levei um pouco de água até minha nuca, tentando me refrescar e acalmar o turbilhão dentro de mim. Meu reflexo no espelho mostrava uma mulher confusa, tentando processar o que havia acabado de acontecer.

De repente, ouvi um celular vibrar. Verifiquei o meu, mas não havia nenhuma notificação. Olhei para o lado e vi um celular sobre a pia. Era um modelo bom, mas simples, com uma capinha transparente. Na parte de trás, duas fotos estavam guardadas. Em uma delas, havia um garoto loiro, uma ruiva de cabelos curtos, e... ela. Luna sorria, um sorriso largo e despreocupado. As pernas da ruiva estavam apoiadas no colo dela, e as mãos dela descansavam sobre as coxas da outra. A imagem sugeria uma intimidade que me fez sentir um leve desconforto, uma pontada de ciúmes que eu não esperava.

Peguei o celular e o guardei no bolso, saindo rapidamente do banheiro e deixando a longa fila para trás. Meus passos eram rápidos, quase urgentes.

“Eu já vou indo,” falei, tentando soar casual. Carol, que estava observando as colegas dançarem, virou-se para mim, surpresa.

“Ué, por quê?” perguntou, levantando-se para ficar na minha altura.

“Não tô no clima de festa,” murmurei, balançando as mãos em agitação, tentando disfarçar o desconforto. “Quero descansar.”

“Eu acho que vou com você,” Carol disse, olhando ao redor como se estivesse entediada. “Parece que não tem mais nada de interessante nessa festa.” Ela colocou o copo na mesa, decidida.

“Então tá bom. Vamos chamar a Gabi,” sugeri, procurando por ela entre a multidão.

“Ela não está aqui,” Carol respondeu, fazendo um estalo com a boca. “Saiu com um pessoal.”

Franzi o cenho, surpresa. “Pessoal? Que pessoal?”

Carol deu de ombros, sem muita preocupação. “Não sei, era um garoto loiro e uma garota. Acho que eles eram brasileiros, mas não tenho certeza.”

“Vamos embora. Quando chegarmos ao hotel, ligo para ela e pergunto se está bem,” falei, pegando no braço de Carol e a puxando para fora da boate.

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A NOITE, que muitas vezes era silenciosa, hoje estava barulhenta demais, preenchida pelos ecos do meu próprio pensamento. O fato de ter reencontrado uma das pessoas que um dia foi das mais importantes na minha vida parecia um sonho distante.

A sensação de não saber se milkshake de morango ainda era sua bebida favorita, se ela ainda amava assistir friends enquanto devorava chocolates, ou se ainda insistia em vestir aquelas camisolas de desenhos animados para dormir… Ou se astronomia ainda era sua paixão secreta. Tudo isso me atingia como uma maré de nostalgia. A sensação de não conhecer mais uma pessoa que um dia você conhecia até o mais profundo do profundo era angustiante, quase sufocante.

DESTINO | ROSAMARIA MONTIBELLEROnde histórias criam vida. Descubra agora