REENCONTRO

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ESTAR EM um ambiente de trabalho inevitavelmente me faz trabalhar, mesmo quando não estou oficialmente trabalhando.

"Luna, pode cobrir pra mim?" Amanda, uma colega de trabalho, pediu, erguendo a câmera com um olhar quase desesperado. "Preciso ir ao banheiro," acrescentou, forçando um sorriso que não convenceu.

"Ahh... claro," respondo com um sorriso sem graça, pegando a câmera das mãos dela. Observei enquanto Amanda se afastava, sabendo muito bem que o banheiro não era seu verdadeiro destino.

Virei-me em direção à Lívia, que me observava. Apontei para a câmera, mostrando o que minha decisão de ficar em um lugar cheio de fotógrafos havia me rendido. Lívia, com seu cabelo curto balançando levemente, sorriu de um jeito culpado, murmurando um "desculpa" quase inaudível.

Suspirei e ajeitei o boné na cabeça, tentando me concentrar. Levantei a câmera, ajustei a lente e comecei a capturar as jogadoras em quadra, cada clique ecoando a inevitabilidade de estar naquele lugar.

O jogo já estava no terceiro set, e o Brasil vencia com facilidade. Faltava pouco para acabar, os minutos finais se aproximavam.

"Isso que é dedicação, hein? Trabalhando até quando não precisa," ouvi uma voz masculina atrás de mim. Um arrepio de irritação percorreu minha espinha antes mesmo de eu virar a cabeça lentamente. E, como eu já temia, lá estava André, aquele cara que não aceitava um "não" como resposta.

Forcei um sorriso enquanto ele se aproximava, invadindo meu espaço pessoal sem a menor cerimônia. "Só estou esperando a Amanda voltar do banheiro," respondi, abaixando a câmera e tentando ignorar o fato de que ele agora estava próximo demais.

"Ah, claro. Pensei que você já tinha entrado para a minha equipe," ele disse, soltando um sorriso de canto que parecia tão desagradável quanto o perfume que ele havia aplicado em excesso.

"Suas orações não fizeram efeito," retruquei, mantendo a voz firme. Ele arqueou uma sobrancelha, claramente surpreso e um tanto irritado pela minha falta de interesse.

"Ainda não, mas poderiam funcionar se você fizesse um esforço," ele insistiu, inclinando-se ainda mais perto. O cheiro intenso de perfume me fez recuar um passo, mas ele simplesmente continuou a avançar. "Sabe que uma vaga está sempre disponível para você, é só pedir," murmurou próximo ao meu ouvido, sua voz carregada de uma autoconfiança que me dava náuseas.

"A equipe do Léo está incrível," falei, desviando o rosto para evitar o cheiro do perfume e tentando cortar a conversa de uma vez.

"Não é o que parece," ele continuou, ignorando completamente a minha tentativa de mudar de assunto. Apontou para Lívia e Nick, que comemoravam o fim do jogo. "Toda a equipe dele está aqui... sei lá, pega mal, não acha?" disse, entortando a boca em um sorriso condescendente.

"Estamos aqui só porque não havia lugar na arquibancada," respondi, meu tom seco, enquanto olhava ao redor. Foi então que percebi que o jogo já havia terminado, e eu podia finalmente me afastar dele.

"Tá bom, vou fingir que acredito," ele disse, rindo de forma irritante enquanto dava um passo para trás, mas não antes de lançar um último comentário. "Mas se mudar de ideia, as portas estão sempre abertas," disse, com um sorriso arrogante, antes de finalmente se afastar.

"Idiota," murmurei, revirando os olhos, enquanto me virava para ver meus dois amigos indo em direção ao corredor onde as jogadoras passavam.

"Ei, ei!" Corri em direção a eles, feliz por qualquer desculpa para escapar de André. Eles me olharam sorridentes, ainda radiantes com a vitória.

"Você viu? Ganhamos de três sets a zero!" Lívia exclamou, fazendo um zero com as mãos.

"Eu vi," concordei, soltando um suspiro de alívio. "Podemos ir embora agora? Só preciso encontrar a Amanda para entregar isso aqui pra ela," apontei para a câmera.

DESTINO | ROSAMARIA MONTIBELLEROnde histórias criam vida. Descubra agora