ELEVADOR

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Uma das piores coisas em jogar um jogo de sorte era quando você perdia. Ainda mais quando você perdia para sua melhor amiga.

"Olha, eu só vou lá porque eu quero, tá?" falei com a porta entreaberta, apontando para a ruiva que estava esparramada na cama com um sorriso de canto nos lábios.

"Fala baixo, estou tentando relaxar," ela murmurou, fechando os olhos de forma exagerada, como se estivesse realmente se concentrando no relaxamento. Sem resistir, mostrei o dedo do meio para ela, o que fez com que ela risse alto.

Fechei a porta do quarto, ainda ouvindo a risada abafada de Lívia, e fui em direção ao elevador. Esperei pacientemente até que as portas se abrissem e entrei. O caminho até o saguão foi tranquilo, embalado pela música suave que saía do alto-falante do elevador.

Quando as portas se abriram, fui direto para a saída e encontrei o entregador esperando com minha comida em mãos. Peguei o pacote, paguei e agradeci rapidamente antes de voltar ao elevador. Apertei o botão do meu andar, e as portas começaram a se fechar. No último segundo, uma mão se esticou, impedindo que elas se fechassem completamente.

"Dexter?" Falei, surpresa ao ver o rosto familiar aparecer diante de mim. "Oi..."

"Oi, Luna, né?" ele respondeu com um sorriso, clicando no botão do seu andar antes de se virar para mim.

Antes que eu pudesse responder, o elevador de repente deu um solavanco e parou. As luzes piscaram, e senti meu coração disparar por um segundo.

"Ah, não..." murmurei, olhando para o painel de controle. Dexter soltou uma risada nervosa, mas eu pude ver a preocupação nos olhos dele.

"Isso não é bom," ele disse, a voz meio trêmula. "Eu não posso morrer agora. Só tenho 20 anos!"

Eu ri, tentando aliviar a tensão. "Calma. Tenho certeza de que não vamos morrer." Cruzei os braços, tentando manter a calma enquanto ele respirava fundo, claramente tenso.

Ele se encostou na parede do elevador, passando a mão pelos cabelos de um jeito nervoso. "Eu sei, mas essas coisas sempre acontecem nos piores momentos, sabe? Tipo, a gente tá aqui sozinhos e já é de noite," ele disse, o olhar inquieto se movendo pelo espaço apertado.

Eu não consegui evitar de rir da expressão de pânico exagerada no rosto dele. "Você anda assistindo muitos filmes, Dexter. Relaxa."

Sentei no chão do elevador, cruzando as pernas de forma casual. "Senta aqui," eu disse, dando um tapinha no chão ao meu lado. "Acho que podemos conversar até alguém nos tirar daqui."

Dexter hesitou por um momento, mas logo deslizou pela parede e se sentou ao meu lado, ainda meio nervoso. "Então, o que vamos fazer para passar o tempo?" ele perguntou, esfregando as mãos nas calças, claramente tentando se acalmar.

Olhei para ele, notando o quanto sua expressão preocupada me lembrava de Lucca, meu irmão. "O que você veio fazer em Paris além de trabalhar, claro?" perguntei, tentando mudar de assunto, vendo o garoto respirar pesado.

Os olhos de Dexter se suavizaram ao ouvir a pergunta. "Eu só vim a trabalho mesmo," ele falou, dando de ombros.

Assenti fracamente. "Eu também só vim a trabalho," respondi, e ele concordou com a cabeça, parecendo um pouco mais relaxado.

Ficamos em silêncio por um momento.

"Você..." ele apontou para mim, tentando parecer casual. "Mora no Brasil mesmo ou mora fora, sei lá?" perguntou, colocando a cabeça apoiada nos joelhos.

"Eu moro no Rio," falei, vendo o garoto me olhar surpreso.

"Sério? Eu também!" ele exclamou, com um brilho nos olhos, e eu sorri pela sua empolgação.

DESTINO | ROSAMARIA MONTIBELLEROnde histórias criam vida. Descubra agora