𝐂𝐡𝐚𝐩𝐭𝐞𝐫 𝐓𝐡𝐫𝐞𝐞: 𝐀𝐫𝐞𝐧𝐚

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[ARENA]

Um raio de sol atravessa as persianas que cobrem as janelas do meu quarto, e acorda-me.
Acordo e penso apenas numa coisa.

É hoje. O dia da Seleção.

Tento controlar a minha ansiedade e nervosismo respirando fundo algumas vezes.
Levanto-me, e miro a roupa escolhida pelo Governo para a Seleção. Retiro do meu armário uma t-shirt simples preta e por cima uso o casaco preto com o símbolo de Lusting e o símbolo dos Combatentes. Visto as calças a combinar com o casaco e finalmente calço as botas negras por cima das calças.
Desço as escadas em direção à cozinha, onde encontro o meu pai a preparar o pequeno-almoço.

— Bom dia, Nix!

— Bom dia, pai.

— Como te sentes? — pergunta o meu pai lentamente, talvez com receio da minha resposta.

— Bem.

Olho para ele enquanto tento falar com tranquilidade. A sua expressão mostra apenas que não acredita na palavra que acabei de dizer.

— Estou nervosa... tenho medo. — refiro cabisbaixa. — Tenho tanto medo de ser selecionada, medo de sair da cidade... medo de nunca mais voltar a casa.

Sinto lágrimas começarem-se a formar nos meus olhos e a querer formar rios pela minha face, mas não o permito e seco as lágrimas, com as costas da mão, antes que elas fluam.

O meu pai larga a faca que usava para espalhar manteiga pelas torradas e atravessa a bancada que nos separa. Olha para mim durante pouco mais de 1 segundo e então, abraça-me.

Oxalá este momento durasse para sempre. Mas não dura, e mais rápido do que eu pretendo, separamo-nos.

Ele pousa as mãos nos meus braços e agacha-se um pouco, o suficiente para ficar da minha altura.

— Não te preocupes, meu amor, vai correr tudo bem. Nós vamos estar a torcer por ti. — O seu sorriso motivador contagia-me e também eu sorrio.

Começo-me a afastar dele para me sentar na cadeira, pronta para desfrutar da refeição, quando ouço algo que me deixa transtornada.

— E mesmo que sejas selecionada, lembra-te que é pela Cura. É um sacrifício pela sobrevivência da Humanidade.

Não acredito no que estou a ouvir. O meu sorriso desaparece e o que antes era conforto tornou-se agora raiva. Raiva do meu pai, mas ainda mais raiva do Governo, por lhe implantar esta mentalidade do sacrifício e da dor que poderá ser compensada pela descoberta de uma cura, cura essa que nos permitirá salvar do misterioso e mortífero vírus que abalou o mundo há mais de 50 anos.

— Acreditas mesmo nessa merda? — Sou tomada pela revolta e não consigo controlar as palavras que tinha guardadas há muito dentro de mim. — Como é que consegues dizer isso, mesmo sabendo que há grandes chances de nunca mais voltares a ver a tua filha na vida? Como consegues viver contigo mesmo?

O meu pai parece chocado com as minhas palavras, mas prossigo.

— Como consegues acreditar nesta treta? Achas mesmo que cinco crianças vão conseguir encontrar uma cura? ELAS NEM SEQUER SABEM O QUE PROCURAM! — Gritos começam a ser expulsos da minha boca sem controlo. — O GOVERNO MATA CRIANÇAS HÁ MAIS DE 50 ANOS E VOCÊS NÃO SE IMPORTAM. NINGUÉM SE IMPORTA. — Paro para respirar e consigo acalmar o meu coração enraivecido. — Para vocês importa apenas que exista uma salvação... Estão tão desesperados para que o mundo volte a ser o que era, que se esquecem que talvez nem sequer haja uma maneira de o fazer. — Caminho para mais perto do meu pai e olho a sua alma através dos seus olhos. — Mandar crianças para enfrentar a morte não é a solução, mas vocês estão demasiado cegos pelo medo para perceber isso.

𝐏𝐑𝐎𝐉𝐄𝐂𝐓 𝐕𝐈𝐕𝐄𝐍𝐓𝐈𝐒Onde histórias criam vida. Descubra agora