☆ Prólogo ☆

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Elliot Parker

Odeio segundas-feiras. São os piores dias da semana, não só porque tudo começa de novo, mas porque a energia das segundas é preguiçosa, tumultuada e cansativa. A probabilidade de coisas darem errado em uma segunda é bem maior do que nos outros dias.

Mas eu odeio esta segunda-feira mais do que todas as outras.

Porque é a segunda-feira onde as aulas começam. Sei que é normal, muitos alunos mudam de escola ao passar para o ensino médio. Mas a cidade também é nova. Foram mudanças demais em pouco tempo, o que é suficiente para deixar minha ansiedade no nível mais alto. Também existe o pequeno problema de eu ser a pessoa mais azarada do mundo. Sério. E quando se é azarado você aprende a reconhecer os pequenos sinais que a vida te dá para não sair da cama. Nesta segunda específica, eu recebi muitos.

Meu despertador não tocou, eu não encontrei meus tênis preferidos, minha mãe não pôde me dar carona para a escola e, para completar, choveu de madrugada, o que significa que as ruas estão cheias de poças d'água e os carros parecem fazer questão de passar espirrando água e lama em mim.

É uma segunda-feira perfeita.

As árvores resplandecem sobre o brilho dourado do sol que se projeta através das nuvens cinzentas. Um filete de luz escorre entre as folhas e faz um arco-íris pequeno nascer na copa das árvores amontoadas do parque. O efeito é lindo, faz as gotículas de água nas folhas parecerem cristais minúsculos. Quero deitar no chão e desenhar aquilo. Quero ficar aqui e ver todas as nuances que se formam quando...

— Sai do meio da rua, garoto! — A buzina alta me faz pular para trás. Um motorista franze o cenho ao passar por mim.

Corro para a calçada. Não percebi que estava atravessando a rua enquanto andava olhando para cima, meus olhos ainda estão grudados nas árvores do parque. É mais um item para colocar na longa lista de sinais de que eu deveria ter ficado na minha cama: eu quase fui atropelado.

Tudo bem. É só a terceira vez que acontece esse mês.

Aperto o passo até a cafeteria mais próxima. Sei que o dia será longo e preciso de grandes quantidades de cafeína se quiser aguentar. Quando finalmente chego à escola, os corredores estão vazios. O café ainda está quente em minha mão e isso me tranquiliza de alguma forma. Estou nervoso. E fico ainda mais ao transitar através do longo corredor e perceber que esqueci o número da sala da primeira aula.

Eu sei que anotei em algum lugar, só esqueci onde coloquei a anotação.

A escola é familiar, eu a conheci quando vim realizar a matrícula junto com meus pais, semanas antes. Olho a porta de cada sala para ver se magicamente me lembro do número. A sensação cortante de pavor e ansiedade faz meu estômago se revirar, então começo a listar soluções para tudo que pode dar errado, só para que eu saiba o que fazer caso algo aconteça. Me preparo até mesmo para os olhares curiosos que sei que vou receber assim que entrar em sala. Minhas mãos estão suando frio apesar do calor fumegante que emana do copo de café.

Nos mudamos há pouco tempo, no início do verão. Minha mãe recebeu uma ótima proposta de um escritório de advocacia e a mudança também nos fez ficar mais próximos dos meus padrinhos. A cidade é ótima, mas eu não estou conseguindo me adaptar. Não que eu tenha deixado algum amigo para trás com a mudança mas, ainda assim, é desconfortável. E eu não sou exatamente o tipo de pessoa que gosta de sair da zona de conforto. Não me adapto bem a mudanças, mesmo que possam ser boas.

O pior é que realmente achei que essa mudança fosse ser boa, mas tudo continua igual. Isso é mais decepcionante do que qualquer coisa. Acho que não posso esperar muito da escola. Eu quero me encaixar, mas dificilmente sou a pessoa que faz amigos. Não é que eu seja tímido, só tenho dificuldade de me aproximar do resto do mundo. Além disso, eu só consigo ser eu mesmo depois de atingir certo nível de intimidade. Então, tudo isso é muito complicado.

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