☆ Alpha Centauri ☆

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Elliot Parker

Eu tinha seis anos quando meu pai achou que era uma boa ideia nos levar para acampar. E realmente foi divertido. Montamos barracas, assamos marshmallows na fogueira, contamos histórias e olhamos para as estrelas.

Tudo estava indo bem, até que meu pai quis me ensinar a nadar no lago ali próximo. Eu fiquei muito animado. Estava ansioso para aprender a nadar. E é claro que isso me deixou extremamente hiperativo, eu não conseguia parar quieto um segundo. Em determinado momento, quando estávamos na água, minha mãe chamou meu pai e ele me deixou na margem, em segurança. Mas acabei me distraindo pelo fluxo da água, parecia tão belo com aqueles movimentos ondulantes e delicados, parecia tão atrativo... que eu pulei para a água de novo.

E a correnteza me pegou com força.

A água arrastou meu corpo com violência, afundando-o sem dó, eu mal conseguia me debater e gritar por ajuda. Só conseguia sentir o gosto desesperador da água invadindo minha boca, meu nariz e pulmões, enquanto me levava cada vez mais para o fundo, avançando furiosamente sobre mim até que não sobrasse nenhuma bolha de ar.

Eu lutei para voltar para a superfície, mas só consegui ver o mundo escurecendo lá em cima.

E então, tudo foi ficando silencioso.

A água me levou para longe de tudo que eu conhecia e amava. Ela me apresentou a sensação esmagadora do medo, o pavor de estar sozinho em meio a correnteza, a sensação de lutar e ser vencido. O vazio aterrorizante que existe dentro de nós.

Quando tudo escureceu, eu tive a certeza de ter morrido.

Mas acordei no hospital, horas depois.

O médico disse que eu realmente tive muita sorte do meu pai ter conseguido chegar a tempo. Eles tiveram dificuldade em drenar toda a água dos meus pulmões e eu fiquei desacordado por horas, sobrevivi por muito pouco.

Ainda lembro do pânico nos olhos dos meus pais, da culpa por terem me deixado alguns segundos sozinho. E lembro do medo frio que eu mesmo senti. Medo de nunca mais ver as pessoas que eu amava. Medo de que a água pudesse tirar a minha vida de mim, me deixando no vazio. Naquela imensidão escura.

Então, após esse episódio, eu desenvolvi uma certa fobia a lagos, rios, mares e até mesmo piscinas. Eu tentava me manter longe de qualquer coisa que pudesse provocar minha morte por afogamento.

Por isso, neste momento, ver a piscina não muito longe me causa um arrepio de medo.

Eu sinto o vento frio em meu rosto enquanto escuto a batida da música alta e observo a luz azul que emana da água.

Sempre gostei de azul. Gosto do modo como a tinta faz contraste com minha pele e escorre através dos meus dedos enquanto dou pinceladas fortes sobre as telas. Posso pintar o céu ou o oceano profundo. Posso pintar o lugar onde o horizonte encontra as estrelas. Posso pintar o infinito.

Tudo se perde e se encontra em azul.

É a cor da dualidade. A cor de todas as coisas. O lugar onde tudo tem espaço para existir.

É a cor perfeita.

E pensar nisso me faz lembrar que eu poderia estar no meu sótão, cercado de tintas em diversos tons de azul, pintando alguma coisa nova para o seminário de artes, ao invés de estar aqui.

Não é que eu odeie festas, eu só as evito. Elas são um convite para que eu mostre publicamente o quanto sou desastrado. O barulho também me incomoda. E as pessoas.

— Me explica de novo — resmungo, olhando para Gen, que está apoiada casualmente sobre o encosto do sofá. — Por que eu estou em uma festa em plena noite de sexta-feira?

Blue StarsOnde histórias criam vida. Descubra agora