☆ Beta Crucis ☆

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Lucien Aster

Estaciono Verônica na entrada da escola. O dia está ligeiramente quente e úmido, o que é incomum, mas combina com a atmosfera de um domingo. Eu com certeza preferia estar em casa, mas Adrian me fez prometer que viria.

O primeiro pavilhão da escola está silencioso. É esquisita a sensação de ver vazio um lugar que costuma estar cheio, mas isso muda quando saio para a área externa, ao lado do campo de futebol. As barraquinhas coloridas estão montadas e dispostas em fileiras, cheias de acessórios coloridos feitos à mão, roupas e comidas diversas. O cheiro de pipoca e algodão doce preenche o ar e os vários estandes de doação estão bem no centro.

Quando começo a achar que não foi uma ideia tão ruim ter vindo, percebo que ele está aqui. E é claro que ele está aqui, Elliot parece estar em absolutamente todo lugar. Só que agora tem essa coisa esquisita que antes não existia. Meu instinto mais comum seria ir até ele e falar qualquer coisa sobre a roupa ridícula que ele está usando ter sido achada na doação, mas sinto que não posso mais fazer isso. Não agora que todos sabem que eu deixei ele gritar comigo. Prefiro me manter distante.

De qualquer forma, é estranho que eu não consiga desviar os olhos dele. Elliot está muito envolvido em algum tipo de brincadeira idiota com a irmã de Adrian, onde ela atira amendoins e ele tenta agarrar com a boca. É meio patético.

Ele está usando uma blusa amarela e uma jardineira jeans de lavagem clara toda salpicada de tinta colorida e extremamente curta, as meias de arco-íris chegam até as coxas fazendo um contraste muito esquisito com as botas plataforma marrons. Nada parece ser feito para combinar, mas é estranhamente chamativo, de um jeito que não deveria ser. Principalmente porque a roupa é curta demais.

Quando percebo no que estou pensando, sinto vontade de voltar para casa. Não quero me torturar com isso de novo, mas só a imagem de Elliot Parker com o brilho da pele oliva reluzindo ao sol, o rosto corado e os cabelos bagunçados é o suficiente para me fazer repensar toda minha heterossexualidade. Não faço ideia do porque ele mexe tanto comigo só por existir. O pior é que ele não está nem tentando chamar minha atenção. Meus olhos parecem atraídos involuntariamente para ele.

Sinto meu coração acelerar de um jeito nervoso. É tão ridículo que eu me sinta assim. Eu não deveria ser desse jeito. Não parece certo, só parece estranho e incômodo. Esse sentimento me enche de raiva e eu sei que seria fácil demais direcionar essa raiva para ele, mas não consigo sentir raiva de outra pessoa além de mim mesmo.

— Admirando a vista, Luc?

— Hã? O quê?

Adrian está parado ao meu lado com um sorrisinho idiota e sugestivo no rosto. Não faço a menor ideia de onde ele surgiu.

— Relaxa, eu também acho que é uma bela vista — ele continua. — Eu mesmo já olhei, antes de ser comprometido, óbvio.

— Do que você tá falando?

— Você parecia hipnotizado pela bunda do Elliot — ele ri.

— Como você é idiota — digo, sorrindo. — Eu estava olhando a sua irmã.

Adrian fecha a cara no mesmo instante, me fazendo gargalhar.

— Nem pense nisso.

— Admirar não mata ninguém — dou de ombros. — E você não precisa se preocupar, ela não é lésbica?

Ade respira de forma aliviada ao lembrar.

— É, é mesmo. E ela tem bom gosto também, nunca ficaria com um idiota como você.

— Eu achei que você era meu amigo! — Digo, colocando a mão sobre o peito em um gesto afetado.

— Não, eu só falo com você porque você precisa de alguém pra te chamar de idiota — ele sorri.

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