☆ Áries ☆

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Lucien Aster

Eu lembro com exatidão do dia em que vi Elliot Parker pela primeira vez.

Lembro do cabelo preto cheio de cachos bagunçados e do jeito que a pele escura fazia contraste com os olhos verdes. Acho que nunca vi olhos naquele tom tão intenso de verde. E isso realmente me deixou desnorteado. Eu senti meu peito queimar, literalmente. Não sei exatamente porque o odiei no momento em que o vi. Não foi só por causa do café derramado, existia algo a mais nele que me incomodava profundamente.

Mas eu só percebi que realmente tinha algo de errado comigo quando o vi ficar vermelho. Foi estranho a sensação que aquilo gerou em mim. Como se existisse um tipo de botão de eletrochoque no meu corpo que ele conseguiu apertar. Não sei bem o porquê, mas achei adorável. E é óbvio que fiquei ainda mais confuso. Não tinha nada de adorável naquele garoto. Ou em garoto nenhum.

Eu não entendi o que estava acontecendo comigo, mas tentei repetir a mim mesmo diversas vezes que não era nada. Sou adepto do método de ignorar o problema até ele desaparecer, mas não foi o que aconteceu.

Consegui que me liberassem mais cedo por causa da queimadura e quando cheguei em casa, meus pais estavam brigando. Eu já estava acostumado às brigas insuportáveis e infinitas, mas naquele dia a briga foi diferente. Minha mãe finalmente descobriu as traições do meu pai e decidiu pelo divorcio. Um misto de mágoa e fúria cresceu dentro de mim. Eu estava tão confuso com tudo. Estava acostumado com as brigas, é claro, mas não achei que eles realmente fossem se divorciar.

Uma avalanche de emoções estranhas despertou no fundo do meu peito.

Então, sim, eu me lembro do dia em que conheci Elliot, porque foi quando meu mundo começou a desmoronar.

Fiquei ainda mais desesperado quando, naquela noite, eu sonhei com ele. A madrugada foi turbulenta. Demorei séculos para dormir tentando esquecer os meus pais e no meio de todas aquelas sensações ruins, eu sonhei justamente com ele. Eu nem o conhecia. Não fazia sentido algum ele estar nos meus sonhos, mas aconteceu. Eu vi a pele brilhante sobre a minha, flashes de seus lábios entreabertos quando eu o puxei pela blusa, cachos bagunçados, sobrancelhas grossas e olhos verdes flamejantes.

Acordei ofegante, assustado.

Minha mente estava entrando em colapso porque eu estava daquele jeito por um garoto. E aquilo não deveria ser possível. Nunca tinha acontecido antes. Não podia estar acontecendo. Só... não podia.

Então fiz a coisa mais óbvia a se fazer: tentei esquecer tudo aquilo. Acho que pensei que se fingisse que nunca aconteceu, então nada teria realmente acontecido. Mas conforme o tempo foi passando, as coisas foram piorando. E chegaram ao nível em que estão agora.

Eu vi a lembrança de quando o conheci se desvanecer na minha frente enquanto encarava os mesmos olhos verdes que atormentaram minha mente durante anos. Mas agora é diferente. Eles contém uma dose severa de ódio, uma raiva amarga. Um fogo que pode me incendiar.

Percebi que fui longe demais.

Eu não estava preparado para sentir o pânico que me dominou ao ver Elliot se debatendo e perdendo as forças dentro da piscina. No início eu achei que fosse drama, mas logo percebi que era algo mais sério, então precisei tirá-lo de lá. Os minutos em que ele ficou desacordado foram horríveis. Aquela agonia gelada de vê-lo sem reação serpenteou em minha nuca, seguida de um alívio extremo quando ele recobrou os sentidos.

Vi o medo em seus olhos assustados quando se virou para mim e uma culpa pesada inundou meu peito. Mas aquele medo foi substituído rapidamente por algo que eu conheço muito bem: ódio. Elliot estava com ódio de mim. E eu sei que ele tinha todas as razões para estar. Eu sei que mereci cada palavra. Eu consegui. Agora ele me odeia tanto quanto eu o odeio. Eu só não sei se é isso mesmo que eu quero.

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