Prólogo - One time i loved

589 58 25
                                    

Tive que mudar a história porque eu literalmente não fazia ideia de pra onde a outra estava indo. Perdão por ser maluca, espero que gostem dessa versão aqui. 

«----------------------------------------------»

Miranda Priestly

Quando deixei a Inglaterra para trás, eu tinha apenas dezoito anos. Parti de forma tão abrupta e silenciosa quanto uma fugitiva de guerra, e, embora não houvesse explosões ou tiros, a realidade que me cercava não era menos devastadora. A sensação era de que a qualquer momento, o chão poderia desmoronar sob meus pés.

Cheguei aos Estados Unidos sem qualquer suporte além do colo silencioso de minha mãe e do olhar severo de minha irmã. Estávamos sozinhas nessa nova vida, desarraigadas e, acima de tudo, sem a figura imponente de meu pai. Ele se recusou a vir conosco, como se o peso de sua própria história o prendesse ao solo britânico.

— Eu escolhi este destino, filha — ele disse, com a firmeza de quem já conhecia o desfecho muito antes de eu compreender o início. — E devemos arcar com nossas escolhas até o fim.

Na época, sua teimosia me consumiu de uma revolta amarga. A juventude me cegava para a profundidade de sua decisão, para o sacrifício que ele silenciosamente aceitava. Mas hoje, tantos anos depois, consigo enxergar a honra perversa em sua recusa. Respeito-o por isso, ainda que tenha sido esse respeito forjado pelo entendimento tardio dos pecados que ele carregava.

Se perguntarem a alguém qual é o país mais corrupto do mundo, a resposta quase sempre será previsível: Afeganistão, Egito, Colômbia, México... Lugares onde a corrupção se exibe como uma ferida aberta. Mas poucos sabem que, sob a neblina elegante e os costumes antigos da minha amada Inglaterra, a podridão se esconde tão profundamente quanto em qualquer outro lugar.

A verdade é que muitos dos proprietários de empresas e, se desejarmos ir mais fundo, até membros da realeza, possuem contas em paraísos fiscais. Uma boa parte de suas fortunas é inexplicável sob os olhos da lei. Minha querida terra britânica, embora envolta em sigilo, é um cenário de sombras onde as próprias leis são um capricho. E meu pai, por muitos anos, ocupou o trono sombrio daqueles que lideram esses grandes crimes.

Eu lembro de olhar pela janela do avião naquela primeira viagem para Nova York, tentando ignorar o aperto frio no meu peito. A cidade abaixo era uma massa de luzes e sombras, um labirinto onde as pessoas se perdiam tão facilmente quanto se encontravam. Foi ali, naquela cidade brutalmente honesta, que decidi que não seria fraca, não como minha mãe parecia ser, não como meu pai a enxergava.

O que ele não sabia, ou talvez soubesse, era que o mesmo sangue corria em minhas veias. A habilidade de mover peças sem ser vista, de transformar uma fraqueza em força, de usar o silêncio como arma — tudo isso eu herdei dele. Não precisava dos métodos de meu pai para entender o poder. Ele era feito de acordos sussurrados em corredores escuros, de cifras em contas ocultas. Eu, por outro lado, tecia meu império com tecidos finos e olhares afiados, mas as raízes eram as mesmas.

Quando comecei na moda, ainda jovem e inexperiente, a lembrança dele estava sempre presente, mesmo que eu fingisse ignorá-la. Eu sabia que a indústria não era tão diferente do mundo que ele habitava. Há segredos aqui também, e cada olhar, cada palavra trocada entre um brinde e outro, é parte de um jogo. Um jogo de poder.

Com o tempo, percebi que minha verdadeira força vinha dessa compreensão intrínseca de como o mundo realmente funciona — não o mundo idealizado, mas o mundo das sombras. A moda, assim como os negócios sujos de meu pai, é feita de ilusões, de tramas invisíveis que sustentam o que é visível. E, assim como ele, aprendi a reinar nesse espaço sem hesitação, sem misericórdia.

Not a Fairy TaleOnde histórias criam vida. Descubra agora