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Os dias após a última visita do meu tio passaram como uma névoa. As tarefas na fazenda continuavam, e a avó agia como se nada tivesse mudado, mas dentro de mim, tudo estava diferente. A voz na minha cabeça não tinha ido embora. Ela estava sempre lá, sussurrando coisas que eu não queria ouvir, mas que ao mesmo tempo, me traziam um estranho conforto.Na escola, as outras crianças continuavam a me evitar. Elas me chamavam de esquisita, de robô, mas eu não me importava. Eu não era como elas, e isso me dava um certo alívio. Preferia estar sozinha, com meus livros e com Rosa. Ela era a única que não me julgava, a única que entendia o que eu estava passando.Mas a voz... a voz continuava a me dizer que eu não devia mais suportar. Que eu deveria fazer algo para acabar com a dor, com o medo. Eu tentava ignorá-la, mas ela ficava cada vez mais insistente, mais persuasiva.— Você não precisa aguentar isso, Emy. — Ela dizia enquanto eu estava na escola, tentando me concentrar na leitura. — Eles não ligam para você. Você precisa se proteger.— Eu sei... — Respondi baixinho, mesmo sabendo que ninguém ao meu redor entenderia.A professora notou minha distração, mas ao invés de me perguntar o que estava acontecendo, apenas me deu uma advertência. Como se fosse minha culpa por não prestar atenção. Como se eu estivesse escolhendo ser distraída, estar em outro mundo.Quando voltei para casa, a avó estava na cozinha, preparando o jantar. Ela me olhou rapidamente, mas não disse nada. Eu sabia que ela estava ocupada demais para perceber o que estava errado comigo, ou talvez, ela simplesmente não quisesse perceber.— Emy, vá tomar banho e depois venha ajudar com a mesa. — Ela disse, sua voz dura, como sempre.— Sim, vovó. — Respondi, mas a voz na minha cabeça sussurrou novamente.— Ela não se importa, Emy. Nenhum deles se importa. Você está sozinha, mas não precisa estar.

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