A Vizinha

Retorno

Estou prestes a compartilhar algo que talvez nunca tivesse coragem de contar a ninguém pessoalmente. O que você vai ler aqui não é apenas mais uma fantasia ou devaneio juvenil; é uma história real, parte da minha vida, um período em que as coisas começaram a mudar de forma inesperada e intensa. Escrevo para que esses momentos não se percam nas brumas do tempo, e talvez, de alguma forma, para reviver a beleza que essas lembranças ainda carregam. Esta é a história das minhas primeiras experiências, da descoberta de um lado meu que até então era desconhecido. E ao compartilhar isso com você, um desconhecido, sinto como se estivesse dividindo um segredo que por muito tempo guardei só para mim.

Nunca fui o tipo de garoto que se destacava na multidão. Eu era apenas mais um rosto comum no meio da galera. Não era o mais alto, ou o mais bonito, nem o mais atlético. Na verdade, passava despercebido pela maioria das pessoas. Acreditava que, se eu sumisse amanhã, poucos notariam minha ausência.

Foi essa invisibilidade que me levou a entrar na academia aos dezesseis anos. Não que eu ache que músculos resolveriam todos os meus problemas, mas quem sabe não me ajudariam a finalmente chamar a atenção de alguém? A verdade é que eu estava cansado de ser o cara que ninguém vê. Queria que olhassem para mim, que notassem a minha presença. Queria que as meninas começassem a me enxergar de uma maneira diferente. Talvez com um pouco mais de força e algumas mudanças no meu corpo, eu conseguiria ser mais do que apenas "mais um".

Foi então que Jane apareceu. Ela havia se mudado para a casa da mãe, uma mulher baixinha e de voz esganiçada, que morava bem em frente à minha casa. Eles eram uma família bastante problemática. O esposo de Teresa, Seu Antenor, um senhor negro com um corpo que um dia foi bem atlético, se aposentou como servidor público e se rendeu de vez ao álcool, a cada 15 dias se embriagava e dava um show na rua das vinte e duas horas até o nascer do sol. O filho mais novo de Teresa, Orelha, foi preso por tráfico de drogas, deixando para Teresa um neto de 5 anos para cuidar que todas chamavam de Orelhinha por causa do pai.

Jane estava de volta à casa da mãe. Antes, havia se mudado para um bairro distante com seu namorado, um cara estranho, de cabelo longo na altura dos ombros, que escondia a calvície com um boné. Nem vale a pena mencionar o nome dele aqui. Mesmo com apenas dez anos, nunca entendi como aquele relacionamento funcionava. Ela sempre foi o crush de todos os garotos da rua. Na época, Jane tinha vinte anos. Era uma loira de um metro e sessenta, que raramente sorria, mas quando o fazia, mostrava que seu sorriso era bonito, fechando seus olhos castanhos e revelando dentes brancos cercados por lábios rosados. Aos vinte, sua beleza só crescia, revelando as características da miscigenação típica das brasileiras. Tinha cabelos loiros e pele clara, lábios rosados e olhos castanhos, mas o corpo trazia a silhueta de uma mulher negra, com seios médios e um volume impressionante da cintura para baixo. A cintura fina que anunciava curvas capazes de capturar qualquer olhar. Os olhares mais atentos sempre iam direto para as nádegas cobertas por um vestido fino de lã que era de costume Jane usar. Fingia nunca ouvir ou prestar atenção aos rapazes que soltavam suas cantadas. Acredito que por isso dificilmente a víamos sorrir. Um sorriso, mesmo que de leve, poderia significar outra coisa para os rapazes.

Talvez tenha sido por isso que arranjou de namorar um rapaz de um bairro diferente. Qual não foi a tristeza de todos ao descobrirem seu namoro. A surpresa ainda foi maior ao verem o afortunado que havia conquistado o coração precioso de Jane. Se ninguém da região era suficiente para domar aquela graciosidade de mulher, como um rapaz sem adjetivo nenhum havia conseguido? O assunto rendeu por uma semana nas rodas de conversa, desde os rapazes mais triste e desconsolados até as senhorinhas fuxiqueiras. Lembro que era o assunto principal do domingo quando o namorado de Jane desceu com ela de mãos dadas do taxi e foram almoçar na casa da mãe Teresa.