Verdades

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Depois que ajudei Jane, ela começou a me acompanhar nos treinos na academia. A primeira vez que isso aconteceu, ela estava na porta de casa quando me viu indo treinar. Pediu que eu a esperasse (claro que esperei!) e fomos juntos. De segunda a sexta, às quatorze horas, nos encontrávamos e descíamos a rua juntos. Algumas pessoas desconfiadas, que ainda estavam na rua no horário mais quente do dia, nos observavam indo nos exercitar.

Na academia, Jane continuava a me acompanhar. Ela fazia os mesmos exercícios que eu, mas com menos carga e menos repetições. Durante uma semana inteira, seguiu meu ritmo em cada exercício. Conversávamos sobre bobagens cotidianas, nada muito sério, mas com ela a conversa fluía naturalmente. Jane parecia disposta a não deixar o silêncio se instalar entre nós. No final dos treinos, voltávamos para casa juntos, e na sexta-feira da primeira semana, ela me perguntou:

— O que você acha de mim?

Fiquei surpreso com a pergunta. O que ela queria dizer com isso? Será que eu deveria contar tudo o que eu e os outros rapazes do bairro pensávamos sobre ela? Ou deveria fingir que não estava interessado, para parecer mais valoroso? Jane, certamente, tinha muitos homens aos seus pés. Não iria querer ouvir um adolescente falando bobagens. E se eu dissesse o contrário, que a achava comum, que seus dias dourados já haviam passado? Não! Não mesmo. Jamais diria isso a ela. Seria mentira demais para mim.

Ela me olhou, com os olhos um tanto apreensivos.

— De verdade? — foi tudo o que consegui dizer, tentando ganhar tempo para formular uma resposta.

— Sim, de verdade!

— Eu te conheço tão pouco para ter uma opinião formada...

— E é exatamente essa opinião que eu quero, a verdadeira! E você não me conhece há tão pouco tempo assim, viu? Somos vizinhos há anos, só agora que voltei... Então, não enrola, qual a sua opinião?

— É difícil... falar de alguém que só vi de relance, algumas vezes... e isso na infância. Só agora que começamos a conversar e trocar ideias. Eu gosto da sua companhia. Você é...

— Você está enrolando! Pode falar, já passei por muita coisa, eu aguento!

— Vamos lá, então... Hum... É fácil falar com você. Você é bem expressiva e facilita a conversa para mim. Sempre tive dificuldades em me comunicar com garotas da minha idade, parece que não me conecto e fico distante, mas com você, tudo flui. É suave... Gosto da sua companhia, e seus olhos mostram o que você realmente está sentindo. Quando os vejo, sei que também gosta da minha companhia, porque é...

Chegamos na porta da casa dela.

— Pode continuar. — Jane estava parada com a chave na mão, me encarando.

— É... Perdi a linha de raciocínio... A gente não pode deixar para amanhã?

— Mas amanhã é sábado. Não vou para a academia no sábado, quero descansar. E eu preciso ouvir. Continua.

— Mas aqui... É complicado, sabe?

— O que tem? Estamos em frente às nossas casas.

— Por isso mesmo! Tem muita gente nos olhando... Sabe como é...

— Ah, sim. Entendo... E...

Pausa.

— Quer subir?

Não podia acreditar. Estava sendo convidado a entrar no quartinho de Jane! Claro! Sim, sim, sim! Se houvesse um espelho ali, eu poderia me ver, com o rosto tomado por milhares de sentimentos. Todos sentimentos alegres: confusão, espanto, surpresa, adrenalina. Adrenalina não é um sentimento. Mas é o que lembro de sentir. Um vazio na barriga e um gelo na espinha. Minhas pernas já não tinham mais forças, e meu corpo estava em desespero.

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