Eu acredito que no coração permanece

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— Veja só o que esse cretino fez com você! — Falou Kouyou, indignado. — Eu deveria prestar queixas contra esse sujeito.

Eu precisava de ajuda e bater nos aposentos do meu pai não era a melhor opção, muito menos procurar Akira na terceira classe. Kouyou pareceu ser a pessoa certa para me ajudar em um momento tão crítico quanto aquele.

— E falar o quê, Kouyou? Yutaka estava furioso e com certeza soube do beijo. Aquele filho da mãe colocou alguém para me vigiar e eu não suspeitei de nada. Eu deveria ser mais esperto. Aiii, Kouyou... Isso doi — reclamei, enquanto ele tentava limpar a ferida em meu rosto.

— Não exagere, homem, e não precisa se culpar tanto. Você só foi fazer um favor a um amigo e acabou se divertindo. Não tem nada de errado nisso. — Ele disse, descartando a gaze, pegando outra com a pinça para limpar meus lábios. — Como você poderia prever que aquela noite terminaria em um beijo? Você não tem que se preocupar com o Yutaka, seu pai ou o noivado. Foque em você e nos seus sentimentos pelo Akira.

Como ele podia pensar assim? Como eu esqueceria esse fardo em minha vida? Yutaka não me deixaria em paz se eu não fizesse alguma coisa para mudar isso. E com certeza o Akira pagaria por algo que sequer tem culpa. Ele de fato me beijou, porém eu aceitei de bom grado aqueles lábios nos meus. Eu poderia tê-lo afastado, mas como se de alguma forma eu desejava aquilo?

Era certo afirmar que eu estava confuso quanto aos meus sentimentos, no entanto, eu tinha consciência do que senti durante aquele beijo e como gostaria de desfrutar daquela sensação gostosa novamente. Céus, o que eu faço?

Confiei a Kouyou o meu medo de que Yutaka estragasse tudo no jantar, fazendo algo contra Akira. Para a minha surpresa, ele disse que tinha um plano. Perguntou-me onde encontrar o loiro e eu lhe expliquei como chegar à terceira classe.

O que esse maluco está querendo aprontar? Eu não acredito que o Kouyou, um barão, queira ir sozinho para um lugar como aquele. Não é porque ele é bonzinho que precisa me ajudar desse jeito. Ele, diferente de mim, tem uma imagem a zelar. Como o Yutaka mesmo disse, eu estou falido, minha família está vivendo de migalhas e logo todo mundo vai saber disso. Isso se já não sabem.

No dia seguinte, tive um encontro com Kouyou, mas ele não quis tocar no assunto do jantar. Disse apenas que eu podia ficar tranquilo, que tudo havia sido resolvido. Eu estava prestes a perguntar mais detalhes, mas meu pai chegou e quis participar da conversa.

— Só queria saber como o Takanori está se sentindo, com todas essas marcas, não parece bem. Na minha opinião, o monstro que fez isso com ele deveria ser jogado no mar. — Kouyou falou alto o suficiente para que Yutaka e os outros senhores que estavam fumando charutos o ouvissem. Eu engoli em seco, com o coração na boca, enquanto ele já se afastava. — Com licença.

Assim que meu amigo se foi, meu pai agarrou meu braço com força, me puxando para perto de si. Seu rosto estava vermelho de raiva, e seus olhos lançavam faíscas. Eu estremeci, com medo de saber o que ele iria dizer.

— O que você está fazendo aqui, sem nem uma gota de maquiagem? Volte para o seu quarto e chame a Michiko para lhe ajudar. Agora! — Ralhou meu pai, próximo do meu rosto e eu senti o sangue gelar nas veias.

Ele não estava nem um pouco interessado em saber o que havia acontecido para eu aparecer assim. Ele só queria que eu escondesse as marcas. Eu precisava mostrar a ele o que Yutaka havia feito comigo e mal comecei, ele já cortou a conversa.

— Você acha mesmo que eu vou ter compaixão de um imbecil como você? Se você arruinar esse noivado, eu juro que vou jogar você do navio, eu mesmo. Então, não me provoque. — Eu me senti um idiota por ter pensado que ele ficaria do meu lado. Afinal, eu era um imbecil, como ele mesmo disse. — Vá logo arrumar essa cara de doente, antes que eu perca a paciência.

My Heart Will Go On (Reescrita)Onde histórias criam vida. Descubra agora