My Heart Will Go On (Reescrita)

E você está aqui no meu coração

Ao entrar no quarto, meu pai surgiu como um fantasma, questionando meu paradeiro. Olhar para ele após as revelações recentes ainda era um tormento. Como ele podia se relacionar com Yutaka ao mesmo tempo que me jogava nos braços do mesmo homem? Minha mente se recusava a encontrar qualquer resposta plausível. Sua crueldade era monstruosa.

Antes que eu pudesse responder, meu noivo interveio, informando ao meu pai que eu estava com Kouyou e que tudo estava em ordem. Sem dúvidas, ele se referia à presença de Akira, que ainda me intrigava.

Como o loiro havia conseguido se esconder dos capangas de Yutaka? Precisava de uma explicação e ansiava por reencontrá-lo o mais breve possível. Apesar da agradável companhia de Kouyou, eu não poderia colocar em risco nem ele, nem Akira. A situação era demasiado arriscada e eu precisava encontrar outra forma de nos vermos.

Tanto meu pai quanto Yutaka me concederam um tempo para um banho relaxante e para me vestir adequadamente para o jantar. Ainda faltavam algumas horas, mas eu precisava desse tempo para me recompor e organizar meus pensamentos.

Após algum tempo sozinho em meu quarto, ouvi batidas na porta. Era Kouyou, vindo confirmar que Akira havia escapado da primeira classe e também me entregar o desenho. Meu amigo me alertou sobre a importância de cuidar daquela obra e eu concordava plenamente. Por isso, guardei o desenho no cofre, onde estaria seguro das garras de Yutaka.

Conversamos por mais algum tempo e aproveitei para agradecer a Kouyou por sua ajuda. Ele, por sua vez, teceu elogios ao desenho feito por Akira horas antes.

— Eu não sei se teria essa coragem. Como você conseguiu ficar... Nu na frente dele assim? — Ele perguntou, sussurrando a última parte da frase.

Aquilo me pareceu absurdo, vindo de Kouyou, que era incrivelmente lindo em todos os aspectos e sempre me pareceu cheio de si. As pessoas dariam tudo para ver cada curva do seu corpo, isso era um fato.

— Eu não sei explicar, Kouyou. Eu... Estava abalado, chateado e queria desafiar. Foi a forma que encontrei. Aconteceram coisas e sei que o Akira não tem culpa de nada. Pelo contrário, ele foi um fofo e aceitou meu pedido sem reclamar. Preciso também te agradecer por ter me emprestado o colar, mesmo que sem sua autorização. Me desculpe por ter mexido nas suas coisas — pedi, me sentindo envergonhado após o momento ter passado. Eu nunca deveria ter feito isso, mesmo que fosse com um amigo.

— Não precisa se desculpar. Eu te emprestei o meu quarto e tudo que estava nele era seu para usar. Não se preocupe com isso. E além do mais, o Coração do Oceano ficou incrivelmente belo em você. — Ele disse, sorrindo. E eu sorri com seu elogio sincero.

— E agora você vai me contar direitinho o motivo de ter ficado chateado ao ponto de pedir algo assim para o loirão lá. Anda, desembucha.

Contei tudo que vi e como me senti com essa nova realidade. Kouyou compartilhou dos meus sentimentos. Era inconcebível que meu próprio pai fizesse algo assim pelas minhas costas. Eu me sentia traído, usado. Por mais que eu nunca tenha gostado de Yutaka ou concordado com o casamento, saber que ele se deitava com meu pai tornava tudo ainda mais revoltante.

Kouyou se despediu, precisando se arrumar para o jantar. Por mais bizarro que parecesse, o jantar tinha hora marcada. Já vestido, aguardei o momento de seguir para o salão. Para minha surpresa, ou talvez nem tanto, um dos capangas de Yutaka me aguardava na porta do quarto. O ignorei, buscando soluções para me livrar daquela sombra constante.

Durante o jantar, permaneci em silêncio. Observava os passageiros da primeira classe se vangloriando de suas posses e planos para o futuro em terra firme. Meus pensamentos se voltavam para a possibilidade de descer a rampa do navio em direção a uma nova vida. Uma vida vibrante, repleta de amor e experiências que me foram negadas pelas amarras que me prendiam.