Sinceridade e Decência

106 20 3
                                    

- Não haverá cicatriz, meu príncipe. - Meistre Mellos disse enquanto passava uma pomada de ervas no rosto de Aegon. O cheiro era desagradável.

Mesmo que soubesse que não era um corte grande, Aegon estava acostumado em ter o meistre cuidando de si nos menores problemas. Ele se machucava constantemente. Certa vez seu avô, Otto Hightower, disse que o ômega era capaz de tropeçar no vento.

Aegon era desengonçado principalmente por estar bêbado boa parte do tempo. Mesmo após cerca de oito ou nove anos se embebedando, o corpo do príncipe ainda não havia se acostumado com o álcool.

- Por que sentimos dor de cabeça após chorar? - perguntou de repente.

O meistre olhou surpreso com a pergunta. Aegon nunca o perguntava nada, ele não tinha sede de conhecimento. Mellos até mesmo precisou pensar um pouco antes de responder, já que não havia uma resposta exata para a pergunta.

- O senhor pode não estar bebendo água o suficiente e acaba desidratado após chorar. Seus músculos podem se contrair pelo estresse também e isso causa a dor. Eu diria que a dor não será duradoura, porém posso mandar preparar um chá para tomar após o jantar. - sugeriu e Aegon negou com a cabeça.

- Acho que não mereço que passe. Talvez eu devesse sentir isso para sempre. - disse baixo.

Meistre Mellos olhou com pena para Aegon e suspirou. Todos no castelo gostam de zombar do garoto e de seus hábitos, porém Mellos reconhecia que a vida que Aegon levava era uma forma de fugir de seus conflitos internos e externos, com sua própria família. O garoto nunca pareceu sequer prestar atenção no gosto dos vinhos que toma, tudo que ele queria era o efeito que traria depois.

O sexo, a indecência e rebeldia eram parte da juventude e uma ofensa a Rainha. Aegon buscava na bebida um consolo por suas mágoas e apenas criava mais delas. Ele também buscava amor com os que deitava, porém nunca o achara.

- O senhor não deveria sentir-se dessa forma. Se estava chorando, talvez não esteja agindo por maldade. Independe do que estava acontecendo para angustiá-lo - o meistre pensou por um segundo, tentando manter-se discreto. Ele sabia que o corte era obra de Alicent, porém não deixaria que o príncipe tivesse consciência do quão clara é sua péssima relação com sua mãe. Isso apenas atormentaria mais ele. - o arrependimento e desejo de se punir é um claro lembrete que sua natureza não é maligna. Pessoas que merecem ser punidas dessa forma não choram de arrependimento. Se chorarem, é por pena de si mesmos.

Aegon levantou o olhar pela primeira vez, antes ele permanecia olhando para o nada, não prestando atenção no que o meistre fazia em seu rosto. Ele sorriu levemente, quase com gentileza. Isso não era comum vindo dele.

- Acho que o senhor está certo. Talvez não seja eu quem deva ser punido.

O meistre sorriu de volta e deixou o quarto.

Elio saiu do canto que estava, ele queria dar privacidade ao príncipe e ao meistre. O criado foi em direção ao Aegon com uma escova de cabelo, pronto para refazer pela segunda vez o penteado e arrumar o príncipe novamente.

- Preciso arrumar seu cabelo, meu príncipe. E ajeitar seu vestido também. - pediu, porém Aegon não respondeu.

O príncipe colocou a mão em seu colar, com a estrela de sete pontas. Foi de sua avó um dia, a mãe de Alicent. Ele não chegou a conhecê-la, ela morreu dois anos antes dele nascer.

Sem pensar muito sobre, Aegon puxou o colar com agressividade de seu pescoço, provavelmente quebrando seu fecho. Porém o príncipe não era ruim o suficiente a ponto de quebrar uma joia com tanto valor emocional para sua mãe, então ele apenas colocou na mesa mais próxima. Poderia ser facilmente consertado, porém puxá-lo daquela forma foi uma boa forma de colocar sua raiva para fora.

Guerra Dos Receptores • Jacegon A/B/OOnde histórias criam vida. Descubra agora