Pais e Filho

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"Aegon,

Preferi não passar a noite no seu quarto como tanto implorou-me. Me senti mal o suficiente apenas de estar sozinho em um cômodo com você quando não havia nenhuma testemunha para o fato de que não fizemos nada impróprio. Eu não mudaria nada que aconteceu, no entanto. Nossa conversa fora difícil porém deveras esclarecedora. Agora tenho a plena e absoluta certeza que você deve vir conosco e que eu devo fazer de você meu esposo. Teremos uma vida feliz. Prometo jamais obrigar-lhe a fazer nada que não queiras. Prometo também meu silêncio, seus segredos estão seguros comigo, se tornaram meus também.
Caso não se lembre, eu sugeri que voássemos para Dragonstone para que você pudesse ter um bom momento. Agora vejo que talvez não sejamos permitidos, eu disse isso na emoção do momento, sem pensar direito. Mesmo assim, Prometo dar a você e ao seu menino o direito de se despedirem depois de tantos anos - e prometo também que pela tarde faremos algo agradável, mesmo que seja por aqui.

Com carinho,
Jace."

Aegon achou essa carta ao seu lado na cama. Ele raramente recebia cartas, apenas de Daeron quando o irmão mais jovem lembrava de sua existência - não poderia culpá-lo, raramente lembrava que havia algum irmão além de Aemond. -. Lendo-a, lembrou-se de partes da noite anterior até então esquecidas pela sua mente que ainda não havia acordado totalmente. Sentiu-se envergonhado, é claro. Nunca será fácil expor suas maiores fragilidades, seja para quem for.

Levantou-se e viu que já era tarde, já que seu desjejum não estava em sua mesa e sim uma sopa. Isso acontecia com certa frequência, nem sempre Aegon acordava pela manhã, era mais comum vê-lo acordar de tarde. Elio raramente o acordava cedo, diferente dos outros criados, ele preferia deixar Aegon dormir. Enquanto isso, ele arrumava algo, e sempre havia algo, já que o príncipe era muito bagunceiro. E no tempo livre ele apenas sentava e encarava o quarto que jamais poderia ter.

A sopa parecia aguada, os legumes flutuavam nela e o cheiro não era dos melhores. Aegon não iria comer aquilo. Ele se sentou em sua cama enquanto pensava na carta de Jacaerys e como havia se exposto completamente.

Falar sobre Baelor nunca seria fácil para si, e agora alguém além de seus antigos criados, seus pais e Mellos sabiam sobre isso.

Tais criados foram mortos para que a notícia jamais se espalhasse.

Tudo sobre aquela época era obscuro. Lembrar-se de seu primeiro cio era como ter um pesadelo acordado. Às vezes, Aegon poderia ouvir a voz dele e até mesmo vê-lo na escuridão, como se ele estivesse prestes a atacar. Aegon ainda sentia suas mãos calejadas em seu corpo, sentia o peso de seu corpo sobre si, sentia-o dentro de si, rasgando-o. Essa era a sensação. Antes de ser consumido pela febre do cio, Aegon precisou enfrentar a fúria de um alfa duas vezes maior que si, duas vezes mais velho que si e duas vezes pior que si. Ele não era virgem na época, porém mesmo assim sentiu que algo fora tirado de si. Sua liberdade, sua escolha, sua dignidade, mas principalmente sua esperança. Depois de fugir daquela casa empoeirada a qual fora levado sem sua vontade, ele nunca mais olhou para o futuro com esperança.

Naquele dia, no momento que o primeiro guarda avistou Aegon, com seus olhos estupidamente violetas e cabelos tão claros que era óbvio sua origem, andando nas ruas usando apenas um grande edredom para cobrir-se, ele levou-o imediatamente a Rainha.

Alicent não o questionou. Tudo que ela disse foi "você não é meu filho." e nada mais. Sua feição demonstrava alguma tristeza, porém suas ações não eram gentis. A falta de pureza pareceu pesar mais na balança do que o fato de que o filho dela estava completamente machucado e com a pior expressão de horror que o mundo já havia visto. Ele a chamou de mamãe e implorou com o olhar por consolo, mas tudo que Alicent fez foi pedir que criadas trouxessem roupas e uma capa para cobrir os pecados de seu primogênito, e depois ela mandou-o direto para Mellos. A Rainha não falou com Aegon por meses, até o momento que seu neto morreu e nasceu.

Guerra Dos Receptores • Jacegon A/B/OOnde histórias criam vida. Descubra agora