Capítulo dezoito: final... será?

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O estágio de Ana começava apenas no próximo período, as provas tinham acabado. Aparentemente foram bem, por isso já contavam com a ida às suas cidades natais nas férias.

Ana tinha gripado naquela última semana, por isso não pode ir até a Tenda avisar das férias e dar um último abraço semestral em Mãe Jussara.

Júlia tinha tirado as tranças no dia anterior, por isso quando estendeu a mão e disse:

— Bença, mãe. — Jussara tomou um susto. A mãe de santo estava limpando a frente da tenda com uma vassoura.

— Que susto, Júlia! Quase não te reconheci. — Jussara aproximou a mão de Júlia do rosto dela e fez o sinal da cruz. — Já sei, se tirou as tranças vai voltar para casa.

— Sim, por um mês. Eu e a Ana.

— Entra na casa dessa nega véia que tem recado. — Jussara era uma mulher negra, corpulenta e sempre usava um belo ojá na cabeça. Ojá é o turbante.

O filho dela era ogã na casa, ele estava repousado no canto mexendo no celular.

— Filho, pega a roupa do malandro para sua mãe. — O menino entrou no quartinho e voltou com uma blusa listrada vermelha e branca, um chapéu panamá branco com uma faixa vermelha. Mãe Jussara foi para o banheiro, mudou de roupa e voltou com a roupa no corpo. Foi até o congá, bateu a cabeça três vezes e vestiu a guia de malandro.

— Toca o ponto do meu Zé, filho? — Enquanto o menino se aprontava Júlia foi até a porta da tenda e fechou, um pedido da Mãe.

"Eu menti pra ela, Zé...

Disse que não gostava dela, Zé."

O ponto começou a tocar na voz do Miguel, o filho da Mãe Jussara.

Ele continuou por um tempo até que cantou:

"Oh Zé, eu nunca vi malandro chorar por uma mulher"

Daí ele começou a tocar o atabaque com uma força que Júlia nunca ouviu. Não demorou muito, quase nada, Mãe Jussara começou a se remexer e colocou o chapéu que estava na mão de Júlia.

A protagonista chorava.

Chorava copiosamente.

Ela não sabia se era o ponto, ou se era entidade.

Só sabia que estava dificil controlar o choro.

Enquanto ela chorava o Zé Pelintra da Mãe Jussara dançava lindamente, ele pediu um pito pra ela, um cigarro.

— Oh menino. Pode continuar a tocar. — Miguel tinha parado. Seu Zé deu um trago poderoso no cigarro, saindo muita fumaça. — Ih, a moça tá chorando, siminino.

— Chora não, moça. Seu coração sabe bem o que deve ser feito.

— É esse o recado, seu Zé? — Júlia estava frustrada com a resposta que recebeu.

— Se eu decidir por você estou tirando seu livre arbítrio. — Julia abaixou a cabeça. Triste. Mais algumas lágrimas caíram.

— Só você, filha. Sabe das suas dificuldades, só você sabe do seu rumo, só você sabe a sua verdade. Eu vejo tudo, isso é verdade, mas eu não sou capaz de dizer por você.

Júlia deu uma fungada profunda.

— Vou fazer um negócio por você.

Ele pôs o chapéu na cabeça dela, pediu pro Miguel parar de cantar e começou a cantar ele mesmo.

"Toma cuidado, nego... Que eu vou dizer como é que é: Malandragem boa é malandragem de mulher."

Júlia fechou os olhos, respirou fundo. Aos poucos começou a sentir o corpo tremer por inteiro.

Ovelha Negra [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora