Júlia saiu para tomar sorvete com Ana naquela tarde.
Estava nítido que a nossa protagonista estava tensa com a saída. Não sabia dizer como começava uma relação com alguém, e principalmente, não sabia o que era uma relação e se queria se embrenhar em uma justamente com uma garota.
Na última madrugada ela não conseguiu dormir, dormiu pouco e de cansaço quando já era dia. Entre giros e mais giros na cama se perguntava frequentemente o que seus pais, seus avós, amigos e até mesmo o pastor ia achar disso.
E quando eu digo "disso", é porque Júlia é daquelas que sofre por antecedência, o que até então parecia um flerte inocente com requintes de segurar o cabelo para vomitar após uma festa de arromba, na cabeça da nossa rebelde era um relacionamento de cinco anos com 9 gatos adotados e um apartamento cheio de plantas.
Às vezes eu queria dizer para Júlia que estava tudo bem quebrar expectativas dos outros. Não somos máquinas para fazer os outros felizes o tempo todo. Nosso único compromisso era com a nossa própria felicidade, não com a de outrem. A gente deve fazer aquilo que é bom e que é certo para a gente.
O outro que se lasque e vá catar coquinho.
Foi assim que eu construí uma carreira e fui o que fui em vida.
Júlia jamais chegaria ao posto de âncora do Jornal Nacional se perguntando se o pastor,a mãe, o cachorro ou qualquer outro intrometido ia gostar disso.
Essa é minha opinião.
E se eu tiver oportunidade de mostrar isso em sonho pra ela eu vou mostrar.
Tô aproveitando para falar isso agora, porque vai que alguém me dá igual me deram a oportunidade de ler os pensamentos dela né. Bem na pegada Lei da Atração, O Segredo ou qualquer outra baboseira esotérica do tipo.
Após esse monólogo chato pacas que eu fiz vocês lerem até aqui, eu vou voltar até o que realmente importa que é nosso reality show favorito.
Era um domingo de sol, ela desceu a ladeira rumo a Praça Tiradentes e parou na frente da sorveteria, onde era possível ver várias cadeiras e mesas com guarda sol e uma portinha aberta singela de uma casinha branca colonial.
Ela estava inquieta, mas não se mexia, não ia de um lado pro outro como normalmente pessoas ansiosas fazem, mas ficou dura que nem um pedaço de pau com as mãos no bolso do short. Pressionava as mãos com tanta força para baixo que eu achava que ela ia arrancar a peça de roupa a qualquer momento.
Ela olhava de um lado para o outro, mesmo agora sabendo onde a crush morava. Júlia não parava de pensar que queria logo que ela chegasse ao local combinado, olhou o celular e viu a hora que Ana mandou a última mensagem, avisando que estava se arrumando: faziam 25 minutos.
Não trocaram outras mensagens desde então.
E se por acaso vocês quiserem saber o que elas conversaram durante a madrugada, eu digo para vocês: nada demais.
Ficaram trocando ideia e se conhecendo um pouquinho mais, coisa boba.
Julia estava distraída olhando para tela do celular quando sentiu duas mãos tapando seu olho e um corpo da sua altura atrás do seu:
— Adivinha quem é. — Disse claramente a voz de Ana. Como eu conseguia ouvir os pensamentos de Júlia, consegui sentir também seu coração batendo tão forte que fazia eco na cabeça.
— Acho que é o Michael Jackson. — Ela estava tão nervosa que fiquei surpresa que ela conseguiu soltar uma piada e ainda por cima sem gaguejar.
— Irri! — Brincou Ana quando saiu de trás de Júlia e para a surpresa de todos, digo eu e Júlia, ela fez um moonwalk.
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Ovelha Negra [COMPLETO]
Roman d'amourVinda de uma família fundamentalista cristã, Júlia busca uma vida normal como estudante da OFOP em Ouro Preto. Mas ao se mudar para a República das Loucas, um reduto feminino com história desde os anos 1980, ela se vê envolvida em um turbilhão de no...