Capítulo 34 - Culpa Silenciosa

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Enquanto a mãe de Nat, com a ajuda de Veed, fazia as malas, eu percorria a sala em silêncio, observando as fotos que decoravam as paredes e prateleiras. Cada imagem contava uma história de uma família unida, de momentos felizes e de uma vida que, até recentemente, era normal e despreocupada.

Os meus olhos pousaram numa fotografia de Nat e Veed ainda crianças, rindo ao lado de um lago. Havia outra em que Nat, já mais crescido, exibia um sorriso orgulhoso ao lado da sua mãe, segurando um certificado escolar. Tudo parecia tão simples, tão humano. E foi nesse momento que o peso da culpa caiu sobre mim com uma força esmagadora.

Nat estava em coma por minha causa. Fui eu que o mordi, numa noite em que o controle escapou-me, e agora ele estava preso numa existência limítrofe, nem vivo nem morto, sujeito a transfusões de sangue constantes para impedir a sua transformação total num vampiro. Esta senhora, que me acolhia com desconfiança mas também com hospitalidade, não fazia ideia de que eu era o responsável pela ausência do seu filho amado. A cada imagem que eu via, a recriminação dentro de mim crescia.

A lembrança daquela noite fatídica era um fantasma que não me deixava em paz. Eu não queria que isso acontecesse, não queria condenar Nat a um destino que eu próprio não desejaria a ninguém. Mas o erro já estava feito, e agora ele estava numa cama de hospital, inconsciente, enquanto a sua família se preparava para fugir de um perigo que eu próprio tinha desencadeado.

Enquanto segurava uma foto de Nat com um grupo de amigos, o rosto dele tão cheio de vida e promessas de futuro, senti um nó na garganta. Eu não era apenas o vampiro que ele se tornaria, mas também o carrasco da vida que ele poderia ter tido. E aqui estava eu, na sua casa, rodeado por aqueles que o amavam, sem que eles soubessem que o verdadeiro monstro estava bem à sua frente.

Veed entrou na sala, as mãos ocupadas com uma mala que fechava. Ele olhou para mim, e houve um momento de compreensão mútua. Ele sabia o que eu estava a sentir, e mesmo sem palavras, reconhecia a minha dor.

"Está quase tudo pronto," disse ele, quebrando o silêncio. "Vamos sair em breve."

Eu acenei, devolvendo a foto ao seu lugar. "Veed... Eu nunca quis que isto acontecesse. Nat não merecia isto."

Veed pousou a mala e aproximou-se, os olhos fixos nos meus. "Eu sei, Ram. Sei que não querias. Mas agora temos de concentrar-nos em protegê-los, em mantê-los a salvo. O Nat ainda pode ter uma hipótese, mas só se conseguirmos afastar esta ameaça."

Ele tinha razão. Havia pouco tempo para me perder em arrependimentos. Precisávamos de agir, de garantir que a mãe e a irmã de Nat estavam em segurança, para que pudéssemos focar-nos em encontrar uma solução para o próprio Nat.

Mas a dor continuava ali, presente, enquanto seguíamos em frente. Eu estava determinado a fazer o que fosse necessário para proteger esta família, mesmo que isso significasse sacrificar-me no processo. A minha única esperança era que, de alguma forma, pudesse redimir o erro que tinha cometido e dar ao Nat a vida que ele ainda merecia viver.

Enquanto Veed ajudava a sua tia a terminar as últimas arrumações, eu preparava-me mentalmente para a batalha que sabia que estava por vir. Cada minuto que passava trazia-nos mais perto do confronto inevitável com os Soldados da Luz, e eu não podia falhar novamente. Nat, a sua família, e o próprio Veed... todos dependiam de mim. E eu não podia, não iria, deixá-los desiludidos.

Sinódico de Sangue ( I also have it in the English Version)Onde histórias criam vida. Descubra agora