Outra Vez?

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— Vamos lá, Hermione! — pediu Gina Weasley, insistente. — Já descobrimos o seu segredinho sujo sobre o Malfoy.

Hermione bufou, irritada com a persistência da amiga. Sentada no sofá da sala comunal da Grifinória, ela observava os outros, esperando sua decisão. Odiava aquele jogo, e todos sabiam disso. Odiava ainda mais que os mesmos participantes de quatro meses atrás estivessem ali novamente.

Por que Blaise Zabini e Pansy Parkinson estavam ali? Sabia que eram amigos de Draco, mas desde quando Gina havia se aproximado o suficiente para convidá-los para a sala comunal da Grifinória? Hermione suspeitava que Gina estava testando as normas sociais de Hogwarts, talvez querendo ver como as outras casas reagiriam a essa nova e estranha aliança.

O ambiente estava carregado de tensão. As sombras das chamas dançavam nas paredes, criando uma atmosfera quase claustrofóbica. O crepitar do fogo era o único som a preencher o silêncio desconfortável, enquanto o calor sufocante contrastava com o frio inexplicável que Hermione sentia por dentro — uma lembrança do beijo com Draco que a assombrava. A mistura de desejo e culpa a consumia. Como deveria agir agora, na frente de todos? Como deveria olhar para Draco sabendo o que sentia, sem ter certeza do que ele sentia?

— Talvez ela esteja com medo de revelar que, na verdade, deu o primeiro beijo com o Fred ou sei lá — provocou Rony, arrancando risadas de Pansy.

Hermione notou Draco apertando os punhos, os nós dos dedos ficando brancos. Seus olhos cinzentos lançavam faíscas de frustração, e seus lábios, agora comprimidos em uma linha fina, tremiam ligeiramente. Cada movimento dele parecia carregado de uma raiva contida, prestes a explodir.

— Por que não cala a boca, Weasley? — Blaise, sentado ao lado de Gina, rugiu em resposta.

Desde aquele jogo idiota, Hermione e Rony haviam se falado muito pouco. Quando seus olhos se encontravam, havia um misto de culpa e ressentimento. Rony jamais entenderia completamente o que a atraía em Draco — e talvez nem ela mesma entendesse. Era doloroso perceber que, apesar de sua amizade, havia uma barreira entre eles que talvez nunca fosse superada.

Hermione havia decidido perdoar Rony há algum tempo, o que irritou Draco, levando à primeira briga deles após o beijo em frente ao quadro da Mulher Gorda. O problema não era o fato de ela e Rony voltarem a ser amigos, mas sim as provocações constantes do ruivo quando Malfoy estava por perto.

Ela e Draco não estavam oficialmente juntos, mas, mesmo sem demonstrar interesse por outros garotos, não podia afirmar que Draco estava apenas com ela. A lembrança de Draco tentando provocá-la com Pansy, após uma das provocações de Rony, fazia seu estômago se revirar. Ela odiava como cada vez mais seu coração parecia ignorar sua mente, que insistia em alertá-la sobre os perigos de confiar em alguém como Draco Malfoy. Mas, de alguma forma, ela sentia que havia mais nele do que deixava transparecer.

Draco havia mudado ao longo dos meses, revelando um lado mais cuidadoso — como quando a ajudou a pegar os livros que derrubara na biblioteca, sem uma palavra sarcástica. Esses pequenos gestos, como tratá-la com uma gentileza inesperada e até mesmo ser educado com os amigos dela, faziam Hermione questionar se o Draco arrogante e cruel estava desaparecendo. No entanto, havia momentos em que sua antiga arrogância e insegurança ressurgiam, como quando ele ficava irritado ao vê-la conversando com Rony, o que a deixava em conflito sobre quem Draco realmente era agora. Ele estava mudando de verdade ou apenas manipulando suas emoções?

Seus amigos demoraram a aceitar a história, assim como Hogwarts inteira, depois que Lilá Brown os vira em um dos corredores e espalhou o rumor por toda a escola, exagerando os fatos em seu relato. Contudo, Draco havia se mostrado uma pessoa diferente até para Harry, o que facilitou as coisas para todos — menos para Rony. Hermione sabia que nunca seria fácil para ele, e duvidava que algum dia ele aceitasse aquilo de bom grado. Ela também sabia que o verdadeiro obstáculo seria Narcisa e Lucius Malfoy.

— Vamos logo, Hermione! — insistiu Gina mais uma vez.

Hermione revirou os olhos e olhou para o loiro sentado no chão à sua frente, que a encarava com uma expressão indecifrável. Será que ele também estava lembrando do beijo? Ou estava apenas brincando com seus sentimentos? Relutante, ela concordou com a cabeça. A ruiva soltou uma exclamação de vitória, deixando Hermione apreensiva sobre o que viria a seguir.

— Vocês já sabem como funciona — disse Gina, antes de girar a varinha que já estava no centro da roda.

Hesitante, Hermione sentou-se no espaço vago no chão, ao lado de Blaise e Gina, evitando se sentar ao lado de Draco. Sentia o olhar dele queimando em sua direção, mas se recusava a olhar para ele. Não queria que os outros percebessem a tensão entre eles.

A varinha girou até parar na própria Gina. Pansy Parkinson, que estava do outro lado da garota, sorriu.

— Verdade ou consequência? — perguntou a morena com sua voz irritante.

— Consequência.

— Vá até o dormitório dos garotos e acorde Dino Thomas com uma declaração — desafiou Pansy, fazendo Gina se avermelhar, enquanto Harry, ao lado de Malfoy, tentava disfarçar a tosse.

— O que pensa que está fazendo, Parkinson? — Hermione perguntou, irritada.

— Não se intrometa, Sabe-Tudo — retrucou Pansy.

Hermione abriu a boca para responder, mas foi interrompida pelo pigarro de Gina.

— Tudo bem, Hermione... É só uma brincadeira — tranquilizou a amiga, olhando para Harry de modo questionador, que mantinha um olhar mortífero no rosto.

Gina se levantou, seguida por Parkinson, que a acompanhou até o fim das escadas. Hermione se sentiu desconfortável, imaginando o que a sonserina poderia estar tramando.

Enquanto as duas estavam fora, o silêncio tomou conta da sala. Rony trocava palavras inaudíveis com o amigo ao lado, tentando acalmá-lo, embora sem sucesso. Blaise Zabini parecia conversar com Draco apenas com o olhar.

Hermione olhou brevemente para o loiro, que agora estava ao seu lado, sem Gina entre eles. Como isso aconteceu? Draco Malfoy? Ele era seu inimigo, aquele que a chamara de sangue-ruim por anos. Tudo era extremamente confuso. E ainda mais confuso era o fato de que, apesar de tudo, ela sentia algo por ele. Toda vez que o via, uma mistura de emoções tomava conta de seu peito — desejo, medo, raiva. Era como se estivesse sendo puxada em direções opostas, uma parte dela desejando confiar nele, enquanto a outra se perguntava se não estava cometendo o maior erro de sua vida.

Draco a encarou no mesmo instante, esboçando um sorriso charmoso. Ele arqueou uma sobrancelha e se inclinou em sua direção. Hermione sentiu um arrepio percorrer sua espinha.

— Admirando a beleza Malfoy, Granger? — sussurrou ele, a voz carregada de ironia e expectativa.

— Até parece, Malfoy. — Hermione tentou rir, mas o som que saiu foi forçado, quase nervoso. Sua voz traía a segurança que tentava transmitir, e ela odiou como seu coração batia mais rápido a cada palavra que ele dizia. Draco, por sua vez, percebeu a hesitação e sorriu, sabendo que a tensão entre eles era palpável, quase sufocante.

— Ah, Granger, não se engane — murmurou ele, os olhos fixos nos dela, a voz carregada de uma promessa silenciosa. — Admita, Sabe-Tudo — insistiu ele, a tensão entre eles crescendo a cada segundo.

— Não há nada para admitir, Doninha — respondeu ela, irônica, voltando a atenção para os amigos, ignorando Draco completamente. Mas, por dentro, seu coração estava acelerado, e ela se perguntava até quando conseguiria manter aquela fachada.

Verdade ou Consequência? (Dramione)Onde histórias criam vida. Descubra agora