▪️ capítulo 01 ▪️

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HARRY

Heroína.

Não vou tocar nessa merda por nada. Eu devo isso a Niall. Isso o roubou da minha banda, de Mitch, e de mim. O irmão mais novo de Mitch e meu melhor amigo teve uma overdose. Ele nos deixou despedaçados e em carne viva. Expostos ao público, nossas feridas sangrando para todos verem.

Esfregando a palma da mão sobre o rosto, tento desesperadamente manter a dor trancada no vazio cavernoso do meu coração. Quando estou aqui, com eles, não quero que eles vejam que morro um pouco a cada dia, sem ele.

Eu te odeio, Niall.

O pensamento é como lama amarga rastejando em minhas veias, me infectando pior do que qualquer impacto cruel do pó marrom. Eu não o odeio. Eu nunca pude. Por isso ele morreu. Porque eu não podia dizer não a ele. Eu não conseguia fazê-lo ver que ele estava se matando lentamente. E agora, sem ele, sou eu quem está morrendo.

A música alta retumba, zumbindo através de mim, lembrando-me que não estou sozinho em minha casa enorme. Existem centenas de malditas pessoas circulando por aí. Berlim Scandal é a banda alternativa mais quente que este país já viu desde os anos 90, quando Nirvana dominava as paradas. Nosso estilo grunge é considerado, uma homenagem ao passado. Abrimos para grandes artistas como Pearl Jam, Alice in Chains e Foo Fighters, que ainda arrasam, claro, apesar de fazer essa merda há décadas.

Onde eles mantêm sua antiga base de fãs com a idade dos meus pais, Berlim Scandal está ganhando todos os Alex Turner e pequeninos fanáticos por nossa vibração sombria. Somos diferentes, mas familiares.

Vendável pra caralho. Graças à Harose Records.

Irritação revira meu estômago. Malik nos seduziu. Aparecia em quase todos os shows, a maioria ainda simples, eramos apenas garotos tentando fazer funcionar, buscando um gostinho de fama. Mas Zayn estava lá, pronto para dar o bote, elogiando e nos adorando. Mitch, nosso guitarrista, implorou a mim, Dougie e Ashton para assinar com Harose. Ainda estávamos feridos por causa de Niall e cedemos em busca de um despertar, queríamos reanimar, voltar a viver, e principalmente:

Dinheiro.

Agora, estamos nadando nele, e já fazemos isso desde que escrevemos nossos nomes nas linhas pontilhadas. Percorremos 26 estados em questão de meses. Nosso álbum de estreia, Hurt Me, ganhou platina três vezes, mais que milhões de pessoas em todo o mundo se encontram obcecados com a nossa música.

Isso é tudo o que sempre sonhamos. O que queríamos desde o início. Somos ricos, populares e temos nossos paus chupados às vezes três vezes por noite. Todo mundo está feliz... exceto eu.

Mitch pode empurrar a morte de seu irmão há dois anos para dentro de um buraco e bater na tampa para mantê-la fechada, sufocada, mas eu não sou assim. Com cada música que escrevo eu coloco no microfone, revivo a dor da noite em que ele me deixou. A dor é arame farpado em volta do meu coração, penetrando no órgão quebrado e sangrando.

Cada dia é pior que o último. Eu faria qualquer coisa para anestesiar a dor constante dentro de mim, mesmo que isso signifique criar dor do lado de fora.

Pego meu maço de cigarros antes de puxar um e pressioná-lo entre os lábios. Abro meu isqueiro Zippo, um que Niall me deu, e estudo a chama enquanto meu cigarro balança nos meus lábios. Quente. Laranja. Brilhante. Seu velho truque de festa era manter a chama na pele o máximo que podia e provar quão durão ele era. Acendo o cigarro, aspiro o ar suave e contaminado, então estendo a palma da mão para provocar a chama do Zippo sob a minha pele rosa.

Uma dor quente e ardente irrompe na palma da mão, enviando sinais de aviso correndo pelas minhas terminações nervosas.

Eu não fujo.

HURT ME | l.s versionOnde histórias criam vida. Descubra agora