No silêncio

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         Ainosuke se encontrava no silêncio do seu apartamento, deitado no sofá da sala observando o teto, luzes apagadas e apenas o brilho da cidade lá fora adentrando pela janela que levava a varanda. Com o livro que Tadashi lhe emprestará sobre si ele repassava cada pequeno detalhe daquele dia, fazia algumas horas que estava ali, tempo suficiente para escurecer o céu e ele não perceber. Para quem visse de fora poderia até dizer que ele era louco, estava a horas olhando para um teto branco sem nada de especial, mas para Ainosuke aquele teto branco era como um telão de cinema onde ele assistia repetidas vezes aquela cena de Tadashi na luz do sol tendo os cabelos levemente bagunçados pela brisa.

        Um homem de muitos talentos, que era bom em qualquer coisa que se propusesse a fazer, entre tais talentos existia o da pintura, talento esse que fora de certa forma obrigado a refinar por ordem das tias com quem morou durante muitos anos, e agora ele agradecia por saber pintar pois colocaria em uma tela toda a beleza daquele homem que morava na porta a frente da sua. Não era suficiente ter aquela lembrança apenas na memória e ele tinha habilidades boas o suficientes para passar aquela imagem para uma tela.

       Ainosuke sempre manteve materiais de pintura guardados por pura precaução, por quê vez ou outra ele tinha pequenos surtos de inspiração e precisava pintar, algo que estava acontecendo naquele momento. Levantando-se do sofá e saindo de seu pequeno transe Ainosuke se dirigia ao um pequeno quarto onde mantinha seus materiais guardados, o chão coberto por papel pra evitar manchar pelas tintas que vez ou outra pingavam do pincel, as paredes com alguns quadros já pintados, tubos de todas as cores e pincéis de todos tamanhos por cima das mesas alocadas próximas as paredes. Era um quarto grande em questão de espaço, mas com telas recostadas nas paredes e mesas com tantas coisas se tornava um "pequeno" ateliê.

      Se preparava para passar aquela imagem gravada na mente para um quadro físico. Com uma blusa branca já com algumas manchas de tinta e uma calça também manchada ele preparava as tintas, um quadro já no cavalete, as luzes ligadas, os pincéis num pote ao lado do quadro e um pote com água para lavá-los quando necessário. Ainosuke sentava-se em seu banco para iniciar, com um carvão ele começava o esboço claro e simples sem muitos traços, a partir do momento em quê sentou ali seu relógio interno desligou e ele não se deu conta de mais nada ao seu redor, o tempo parou para ele.

       A noite inteira de frente aquele quadro, começado com calma e feito cada pincelada com mais calma ainda, teria que sair perfeito, precisava sair perfeito, algumas vezes ao longo da noite Ainosuke fora até a cozinha pegar um lanche e água também um pouco de café para beber ao longo da noite. O dia já amanhecia e ele ainda estava ali de frente aquele quadro que nem sequer estava perto de estar completo, mas que ele não se importava, levaria o tempo necessário para deixá-lo tão perfeito quanto a cena que presenciou.

    – Será que eu paro agora? – conversando sozinho ele disse pra si mesmo.

    Estava ali a horas, nem sabe quantas, não tinha dormido ou tomado banho, esperava a primeira camada secar bem para continuar, então sim precisava parar. Uma mão no queixo e outra no cintura, descansando em uma das pernas ele olhava a tela inclinando a cabeça verificando se os tons das cores estavam bons, já via o quadro completo quando a campanhia o acordou de vez. Indo em direção a porta ele xingava quem quer que fosse que havia atrapalhado seu pensamento. Quando abriu a porta ele retirou todos os xingamentos anteriores pois Tadashi o olhava sorrindo desejando bom dia.

     – Oi. Tá tudo bem? – Ainosuke perguntou estranhando a visita repentina, visita que não se importaria em receber nem que fosse 3 da madrugada.

     – Tudo sim, eu só vim te devolver seu celular que esqueceu lá em casa, desculpa eu só percebi agora de manhã porquê tava tocando logo cedo.

     – Não, tudo bem, eu nem percebi que tava sem ele. – Ainosuke disse se afastando liberando espaço para Tadashi entrar.

     – Não percebeu que não teve barulho logo cedo, ou você nem dormiu? – Tadashi disse apontando pro estado de Ainosuke que estava coberto por tinta.

    – Ah, isso? Eu tava pintando. Pode me dar uns minutinhos enquanto tomo um banho? Pode ficar aqui eu já volto pra gente conversar. – Ainosuke disse indo pro quarto.

     – Eu só vim te devolver o celular eu já tô indo embora. – Tadashi falou já querendo sair.

       Tadashi estava querendo sair dali o mais rápido possível, estava quase surtando por causa do cheiro que tinha ali, o cheiro do apartamento era o mesmo de Ainosuke, um aroma agradável que lhe despertava sentimentos desconhecidos. Surto esse que só piorou quando Ainosuke apareceu na porta do quarto já sem a blusa.

     – Só 15 minutos, é rapidinho eu saio e faço um café pra gente, pra retribuir o almoço de ontem. Pode ficar a vontade.

    – Não! Espera...

     Antes de terminar de falar Ainosuke já tinha voltado pro quarto e Tadashi só ouviu o barulho da porta do banheiro sendo fechada. Ele não poderia ir embora agora, ele não sabia como Ainosuke reagiria se quando saísse não visse ele lá então apenas resolveu ficar e saiu andando pela sala olhando cada cantinho tentando descobrir porquê se sentia tão eufórico quando estava perto de Ainosuke. Andando pela casa ele se deparou com uma porta entreaberta, Tadashi não conteve a curiosidade e resolveu olhar um pouco se deparando com uma tela banhada pela luz do sol que entrava pela janela do quarto. No silêncio daquele quarto ele estava hipnotizado pela beleza não só daquela única tela, mas também por todas aquelas telas que estavam ali.

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⏰ Última atualização: Aug 25 ⏰

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