Capítulo 5

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O sol mal havia surgido no horizonte, lançando uma luz fraca e fria sobre a mansão dos Mikaelson, quando Katherine decidiu que era o dia perfeito para uma de suas atividades sombrias. Ainda vestida com seu habitual vestido preto e listras, ela desceu silenciosamente as escadas, atravessando a casa sem fazer ruído algum, como uma sombra viva que se movia sem ser notada. Katherine havia passado a noite em claro, como de costume, imersa em seus pensamentos e ideias peculiares.

Naquela manhã, ela tinha um plano diferente em mente — algo que envolvia seu peculiar amigo Boris. Boris não era o tipo de amigo que se espera de uma garota da idade de Katherine, mas ela nunca foi o tipo de garota que seguia as expectativas de ninguém, muito menos as de sua família. Boris era alto, magro, sem pelos, com pele clara quase translúcida, grandes orelhas, presas de vampiro proeminentes e bolsas marcantes sob os olhos. Vestia sempre um casaco branco de boticário que lhe dava um ar antiquado, completado por botas cinza claro que faziam ecoar um som suave de cada passo.

Ela encontrou Boris perto do grande carvalho no jardim dos Mikaelson, esperando pacientemente como sempre fazia, com sua expressão solene e intrigante. Ao lado dele, Haiku, sua amiga silenciosa e fascinada por poesia gótica, observava com um olhar curioso e um sorriso discreto.

“Hoje é o dia, Boris,” Katherine anunciou calmamente, pegando uma pá de um pequeno galpão próximo. “Vamos lhe dar um funeral digno.”

Boris piscou lentamente, sem mostrar qualquer sinal de surpresa. Ele parecia aceitar a ideia de um funeral, mesmo que não houvesse uma razão aparente para tal evento. Talvez para ele, assim como para Katherine, as razões não fossem tão importantes quanto o próprio ritual.

Haiku, de pé ao lado de Boris, assentiu com um leve sorriso. "Funerais têm algo de poeticamente final, não têm?" ela comentou, com sua voz suave e quase etérea. Katherine apenas assentiu, começando a cavar com uma determinação serena. A terra era macia e fria sob a pá, e a manhã estava tranquila, exceto pelo som abafado do metal contra o solo.

Enquanto Katherine cavava, Haiku recitava suavemente alguns versos de um poema gótico que havia escrito na noite anterior, sua voz se misturando ao canto distante dos corvos. “A escuridão abraça aqueles que o mundo rejeita, na morte, todos nós encontramos nosso verdadeiro lar...”

Os Mikaelson, sempre ocupados com suas próprias vidas e intrigas, começaram a perceber a atividade incomum no jardim. Rebekah, a primeira a ver a cena pela janela da cozinha, franziu a testa, intrigada. “O que Katherine está fazendo agora?” ela murmurou para si mesma antes de chamar Elijah, que logo se juntou a ela na janela.

Elijah, com sua expressão de costume reservada, observou a cena com um misto de curiosidade e desaprovação. “Parece que nossa sobrinha está cavando uma cova,” ele comentou, seu tom tão neutro quanto possível. “E, se não me engano, os amigos dela estão ao lado dela.”

Klaus logo apareceu, atraído pela conversa. “Katherine e sua fixação pelo mórbido,” ele disse, balançando a cabeça. “O que ela pretende fazer com uma cova?”

Rebekah deu de ombros, um sorriso relutante no rosto. “Talvez seja melhor não saber.”

Enquanto isso, Katherine continuava a cavar, a cova crescendo gradualmente mais profunda. Boris permanecia impassível ao lado do buraco, ocasionalmente inclinando a cabeça como se estivesse contemplando um pensamento distante. Haiku, por sua vez, permanecia em silêncio, observando a cena com seu olhar pensativo.

Quando Katherine julgou que a cova estava funda o suficiente, ela largou a pá e se virou para Boris. “Muito bem, Boris. Acho que é hora de você entrar.”

Boris, sempre tão obediente e sem protestos, começou a se mover em direção à cova. Mas antes que ele pudesse entrar, uma nova voz interrompeu o processo. Era Kol, que havia se aproximado do grupo, sua curiosidade finalmente superando sua relutância em se envolver nos estranhos passatempos de Katherine.

“O que exatamente você acha que está fazendo, Katherine?” Kol perguntou, tentando não rir. “Enterrando seu querido amigo? Ele ainda está bem vivo, se é que alguém pode dizer isso dele.”

Katherine olhou para Kol com seu olhar enigmático e inexpressivo. “Estou dando a ele o funeral que merece,” ela respondeu, como se isso explicasse tudo.

Kol riu, claramente se divertindo. “Bem, não me interprete mal, mas talvez você devesse esperar até que ele esteja um pouco mais... morto?”

Katherine deu de ombros. “Morte é apenas uma formalidade, Kol.”

Os outros Mikaelson, agora reunidos na varanda para assistir ao que claramente era um evento bizarro até para os padrões da família, observavam com expressões variando entre divertimento e descrença. Klaus cruzou os braços, seus olhos brilhando com um toque de humor. “Isso é realmente necessário, Katherine?”

Katherine suspirou dramaticamente. “Suspiro,” disse ela, mais para si mesma do que para qualquer outro. Ela se virou para Boris com uma expressão que misturava afeto e leve exasperação. “Não se preocupe, Boris. Não vamos te enterrar hoje. Irei te dar o desconto de amigos e familiares.”

Boris, por sua vez, parecia indiferente ao cancelamento de seu próprio funeral. Haiku soltou uma risadinha, e Katherine não pôde evitar um pequeno sorriso. Ela sabia que a maioria de sua família nunca entenderia seu fascínio pelo macabro, mas também sabia que eles nunca poderiam mudar quem ela era.

Com a cova inacabada ainda no chão, os Mikaelson lentamente se afastaram, deixando Katherine, Boris e Haiku sozinhos mais uma vez. Elijah, porém, parou por um momento, observando Katherine com um olhar mais ponderado.

“Você realmente é única, Katherine,” ele disse suavemente antes de se virar para entrar na casa.

Katherine observou seu 'tio' se afastar antes de se voltar para seus amigos. “Vamos, Boris, Haiku. Temos muitas outras coisas sombrias para fazer hoje.”

E com isso, eles deixaram o local do "quase" funeral, as risadas suaves de Haiku ecoando pela manhã enquanto eles voltavam para a mansão, prontos para o que quer que o dia sombrio lhes reservasse a seguir.

Continua...

Notas da autora:
Espero que tenham gostado e se gostou deixa a estrelinha e se possível um comentário.

Bjs.

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