Prólogo
Em meio às colinas verdejantes de Santa Aurora, onde o tempo parecia seguir seu próprio ritmo, a jovem Teresa Alvarenga crescia imersa nas tradições de sua família. A fazenda, herança dos Alvarenga, guardava segredos que poucos ousavam mencionar em voz alta. Entre histórias e lendas, uma misteriosa herança passava de geração em geração: algo que poderia mudar o destino de quem o possuísse.
Na tentativa de compreender o peso desse legado, Teresa se vê envolvida em um evento inesperado, transportada para um tempo e lugar que não reconhece. Perdida entre o passado e o presente, ela precisará desvendar os mistérios de sua família e do estranho poder que agora a cerca.
O que Teresa descobrirá pode alterar tudo o que ela acredita saber – sobre si mesma, sua história e o mundo ao seu redor.
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Brasil, 1906
O Brasil de 1906 era um país em transição, onde o passado aristocrático se chocava com as promessas de modernidade. A abolição da escravatura, ainda recente na memória do povo, deixava cicatrizes profundas nas relações sociais e econômicas. As vastas fazendas de café, sustentáculo da riqueza nacional, continuavam a dominar o cenário, enquanto a república recém-instaurada lutava para se firmar, ainda fragilizada pelas incertezas políticas e pela desigualdade.
As ruas das grandes cidades, como o Rio de Janeiro, estavam tomadas por burburinhos sobre a chegada do progresso. O presidente Rodrigues Alves, em seu mandato, iniciava o ousado projeto de modernizar a capital. Surtos de febre amarela e varíola forçavam a remodelação urbana, com amplas avenidas surgindo onde antes havia becos e cortiços. A promessa de um futuro mais saudável e civilizado trazia consigo a dor da demolição de lares e a expulsão dos mais pobres.
Nas fazendas, o cheiro do café recém-colhido enchia o ar, mas sob o aroma doce pairavam inquietações. O êxodo de antigos escravos e a chegada de imigrantes europeus, italianos, espanhóis e portugueses, alteravam as dinâmicas do trabalho. Enquanto muitos viam nessa migração um novo começo, outros temiam a desestruturação das tradições agrárias e familiares.
O progresso também cortava os céus e os campos. As primeiras linhas férreas serpenteavam por entre montanhas e planícies, conectando os estados e prometendo encurtar as distâncias de um país colossal. O telégrafo unia as vozes dos poderosos, e as fábricas, ainda tímidas, começavam a mudar o ritmo de vida nas cidades.
Eram tempos de avanços tecnológicos e novos desafios. O Brasil tentava caminhar rumo ao futuro, mas os ecos do Império ainda ressoavam pelas paredes das grandes casas de fazenda. O café seguia como o ouro negro, sustentando a elite latifundiária, enquanto o povo sonhava com dias mais justos.
Foi nesse cenário que Teresa Alvarenga viveu, entre o peso das tradições e as promessas incertas do que estava por vir. A fazenda de sua família, uma relíquia da era imperial, era seu mundo, mas a jovem sabia que o mundo lá fora estava mudando, e em breve, mudaria também o seu destino. O Brasil de 1906 pulsava entre o velho e o novo, e Teresa, como tantos outros, encontrava-se no limiar dessa transformação.
[...]
O crepúsculo tingia o céu de laranja e dourado sobre a elegante propriedade dos Alvarenga. No centro da vasta plantação de café, no estado do Rio de Janeiro, na pequena Vila de Santa Aurora, destacava-se uma magnífica mansão, símbolo da riqueza e influência da família. Era lá, em uma noite tranquila, que Isabel Alvarenga se preparava para dar à luz sua primeira filha.
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A Lenda do Véu de Ouro
FantasyVila Santa Aurora, 1906. Escondida entre as montanhas da capital, Rio de Janeiro, a pacata Vila Santa Aurora guarda segredos ancestrais. Ana Teresa Alvarenga, uma jovem da aristocracia local, herda um véu dourado de sua avó, um objeto aparentement...