Teresa e Leônidas, ainda atordoados pela intensidade do que haviam vivenciado, encontraram-se em um lugar completamente diferente. O ar ao redor deles era mais leve, quase irreal, e um céu azul, desprovido da familiar tonalidade esbranquiçada das cidades industriais do início do século XX, se estendia acima. O chão, que momentos antes era um jardim de terra batida, agora se transformara em um tapete verdejante de grama bem aparada.
Flores exóticas, de cores que eles nunca haviam visto, desabrochavam ao redor.Leônidas, atordoado, começou a olhar ao redor com olhos arregalados e descrença estampada em seu rosto. Ele tentou compreender o que estava acontecendo, mas cada nova visão era um golpe em sua lógica já debilitada. Ao longe, ele viu estruturas de vidro e metal que se erguiam como colossos do horizonte. Carros de formas estranhas, sem cavalos à vista, passavam em alta velocidade por estradas asfaltadas, e ruídos desconhecidos enchiam o ar.
O som de buzinas, o ronco dos motores, e vozes metálicas que pareciam falar sozinhas saindo de pequenos dispositivos presos aos ouvidos das pessoas. Leônidas deu um passo para trás, o coração batendo acelerado, enquanto uma onda de pânico começava a tomar conta de seu ser. Ele era um homem de razão, um advogado formado nas melhores universidades, e nada em seus livros o preparara para isso. "Não pode ser...", ele murmurou, sentindo o peso de um mundo que escapava de sua compreensão.
Teresa, por outro lado, embora igualmente assustada, já estava familiarizada com aquele tempo não era uma novidade apesar de surpreendê-la como da primeira vez ela sentia um misto de uma curiosidade e medo. Diferente de Leônidas, ela sempre fora aberta ao inexplorado, ao desconhecido, e agora seus olhos castanho oliva, que tantas vezes sonharam com um mundo além de Santa Aurora, cintilavam de fascínio.
Mas mesmo para ela, esse novo tempo era avassalador. A opinião dela não havia mudado muito desde a última vez ainda achava as vestimentas esquisitas, curtas demais, muito reveladoras. As roupas das pessoas eram estranhas, sem espartilhos ou vestidos longos, os homens não usavam chapéus, e muitos exibiam desenhos em seus corpos e piercings que, no tempo dela, seriam considerados impensáveis. Os sorrisos das pessoas eram gentis, mas os olhares curiosos e desinteressados ao mesmo tempo.
Teresa olhou para Leônidas, que parecia à beira do colapso, e sentiu a necessidade urgente de confortá-lo, mas ela própria precisava de consolo.Leônidas, com o coração acelerado, fixou os olhos em Teresa, procurando uma âncora em meio ao caos. "Teresa, o que fizemos? Onde estamos? Isso... isso é feitiçaria?", ele sussurrou, a voz trêmula, enquanto o desespero começava a dominá-lo.
Ele, que nunca acreditara nas histórias fantásticas que ouviu durante a infância, agora se via mergulhado em uma delas, sem qualquer esperança de acordar.Teresa, por sua vez, sabia que precisaria de toda a sua coragem para guiar Leônidas nesse novo mundo. Ela segurou sua mão com firmeza, sentindo a frieza e o tremor de seus dedos, e forçou um sorriso encorajador. "
"Meu querido, foi para cá que eu vim da última vez," disse Teresa, sua voz carregada de uma mistura de ansiedade e determinação. Leônidas a olhou com olhos arregalados, a boca entreaberta, sem conseguir esboçar nenhum som. Ele parecia lutar para encontrar palavras, mas elas não vinham. Era como se a realidade ao seu redor estivesse se desfazendo, e ele não conseguia sequer compreender o que acabara de ouvir.
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A Lenda do Véu de Ouro
FantasíaVila Santa Aurora, 1906. Escondida entre as montanhas da capital, Rio de Janeiro, a pacata Vila Santa Aurora guarda segredos ancestrais. Ana Teresa Alvarenga, uma jovem da aristocracia local, herda um véu dourado de sua avó, um objeto aparentement...