Aquela luz dourada que emanava do véu preencheu o quarto de Teresa com uma intensidade quase insuportável. Ela tentou enxergar através do brilho, mas seus olhos não conseguiam focar em nada além daquela luz ofuscante. Seus sentidos começaram a se embaralhar, e ela sentiu um torpor como se uma anestesia estivesse lentamente tomando conta de seu corpo. O peso das emoções e a intensidade da luz a fizeram perder a noção do tempo e do espaço.
De repente, o brilho diminuiu e, quando Teresa conseguiu abrir os olhos novamente, percebeu que não estava mais no seu quarto diante do velho baú. Em vez disso, estava em pé no meio de uma cidade completamente desconhecida, diferente de tudo que já tinha visto. As casas ao seu redor eram altíssimas, tão altas que pareciam quase tocar o céu. Eram feitas de materiais estranhos, com superfícies lisas e brilhantes que refletiam a luz do sol de maneira peculiar. Havia janelas enormes em cada uma dessas construções, e ela mal conseguia acreditar no que via.
A confusão e a surpresa tomaram conta dela. Teresa olhou ao redor, tentando entender o que estava acontecendo, mas a cidade ao seu redor parecia saída de um sonho estranho e impossível. As ruas não eram de terra como estava acostumada, mas cobertas por um material duro e escuro, algo que ela não sabia explicar. Carruagens modernas, sem cavalos, passavam rapidamente, movidas por algum tipo de energia que ela não conseguia compreender. Eram de metal, com janelas de vidro, e produziam um ruído constante e ritmado enquanto deslizavam pelas ruas.
As pessoas ao redor dela vestiam-se de maneira chocante, com roupas que, para Teresa, eram incrivelmente curtas e reveladoras. Elas usavam pequenos pedaços de pano em torno de suas silhuetas, deixando braços, pernas e até mesmo parte do abdômen à mostra. Para Teresa, aquilo era impensável, e ela se sentiu completamente fora de lugar, como se fosse uma criatura exótica e esquisita em meio àquelas pessoas.
Enquanto caminhava pelas ruas, ainda tentando processar o que estava vendo, Teresa notou que todos a olhavam com curiosidade. As pessoas paravam para observá-la, algumas com expressões de surpresa, outras com sorrisos discretos, como se ela fosse uma aparição inusitada naquele cenário cotidiano. Ela se sentia deslocada, vulnerável, e o pânico começou a crescer dentro dela.
Tentando entender onde estava, Teresa viu uma placa em uma das esquinas que indicava o ano: 2023. Ela parou por um momento, encarando os números como se não pudessem ser reais. "Isso não pode estar acontecendo...", pensou, o coração disparado. "Eu devo estar sonhando... um sonho estranho, terrível e completamente diferente de qualquer outro."
O mundo ao seu redor parecia uma versão bizarra e incompreensível do futuro. Ela não reconhecia nada: as carruagens modernas, as ruas pavimentadas com aquela substância dura e fosca, as pessoas vestidas de maneira tão diferente... Tudo era um enigma. Ela se sentia como uma peça de um quebra-cabeça que não se encaixava em lugar algum.
Em meio a esse caos, Teresa tentou se concentrar. "Preciso acordar", murmurou para si mesma, mas nada mudou. O mundo ao seu redor continuava, sólido e real, e a angústia começou a tomar conta dela. Ela não sabia onde estava, nem como tinha chegado ali, mas uma coisa era certa: aquele não era o seu tempo, não era o seu lugar.
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A Lenda do Véu de Ouro
FantasyVila Santa Aurora, 1906. Escondida entre as montanhas da capital, Rio de Janeiro, a pacata Vila Santa Aurora guarda segredos ancestrais. Ana Teresa Alvarenga, uma jovem da aristocracia local, herda um véu dourado de sua avó, um objeto aparentement...