Voltar para o Espírito Santo, depois de tudo o que vivi ao lado de Inocêncio, doeu mais do que eu poderia ou gostaria de admitir, sempre fui solta, nunca gostei de criar raízes em outras vidas, mas desde que o conheci tudo mudou aqui dentro e eu me vi completamente apaixonada por aquele homem, por seu toque, seu gosto, seus beijos e o calor de seu corpo contra o meu, como eram ardentes as nossas noites, juntos éramos como adolescentes nos descobrindo, nos amando com fervor e eu que sempre fui livre desejei nunca mais sair dos braços dele.
Cinco meses já haviam se passado desde o dia em que dissemos adeus, inúmeros foram os convites que fiz pedindo para que ele deixasse Ilhéus, as dores e mágoas, o passado para trás e comigo viesse para escrevermos um futuro, até mesmo Inácia, uma mulher incrível que conheci, o pediu várias vezes, mas nada seria capaz de tirá-lo daquelas terras onde viveu e morreu a única mulher que ele amou e amaria, tola fui eu por pensar que eu poderia alcançar o coração de Inocêncio, enquanto ele tinha o meu em suas mãos eu não era nada além do que uma simples paixão que se apagou tão rápido quanto se acendeu, entender o meu lugar foi o melhor que pude fazer e aceitar que eu nunca poderia competir com o amor que ele sente por sua falecida esposa, Maria Santa, então o que me restou foi apenas esconder os meus sentimentos, arrumar minhas malas e me despedir, dizer adeus ao homem que amei desde o dia em que nossos olhos se encontraram pela primeira vez, o homem que tive em meus braços, mas que nunca foi meu.
Eu gostaria de ter vindo sem me despedir, assim a dor, talvez, seria menor, mas não fui capaz, estávamos juntos na cerimônia do casamento de um de seus filhos, José Augusto, e após a cerimônia decidi que seria o momento certo para partir sem que notassem a minha ausência, afinal era um dia de celebração, quem perceberia a falta de uma estranha?
Enquanto eu estava no quarto arrumando as minhas malas me permiti fechar os olhos por alguns instantes e recordar tudo o que vivemos juntos, Inocêncio e eu, naquele quarto, por mais que eu nunca tenha tido o amor ou o coração dele, as lembranças daqueles dias sempre serão minhas, bem como as lágrimas que derramei enquanto me despedia do conto de fadas que só existiu em mim. Perdida em meus pensamentos acabei não percebendo que Inocêncio me observava, mas quando o mesmo percebeu as malas ele não entendeu o que estava acontecendo e me fez diversos questionamentos, em meio a minha emoção a única coisa que pude e consegui fazer foi beijá-lo como nunca antes, nosso último beijo, o adeus que eu nunca quis, mas fui obrigada a dar.
Inocêncio tentou evitar que eu fosse embora, mas eu não podia continuar tentando ocupar um lugar que não me cabia, Mariana havia me falado que Inocêncio nunca estaria pronto para seguir em frente e por mais que eu não gostasse eu tinha que admitir que ela estava certa e por isso apenas peguei minhas malas e corri para o carro que me aguardava na entrada da fazenda, Inocêncio veio atrás de mim tentando conversar, entender, mas eu sabia que se eu tivesse continuado ali eu não teria forças para resistir e ir embora, num último ato de coragem eu apenas o olhei, passando suavemente a mão em seu rosto me despedi, me lembro bem de seu olhar confuso e perdido ao me ouvir dizer "eu te amo, Inocêncio, mas não posso ser sua segunda opção, não posso competir com esse amor que você sente por ela, não posso ser sua paixão momentânea, eu preciso cuidar de mim e do meu coração", eu precisava partir e sem mais dizer ou querer ouvir apenas entrei no carro e fui embora enquanto meu coração ficava para trás, desde então nunca mais nos vimos ou nos falamos.
As coisas em minha fazenda estavam melhores, consegui colocar em prática tudo o que aprendi com ele e os investidores desistiram da ideia da venda, pelo menos alguma coisa eu consegui manter comigo, pelo menos algo continuaria sendo meu, sempre amei esta fazenda e hoje tenho um motivo a mais para querer mantê-la comigo, pois foi aqui que nos beijamos e amamos pela primeira vez e por mais que pareça loucura de minha parte dizer isso, parece que ainda consigo sentir o cheiro dele em meus lençóis, em meu corpo, por toda casa.
Eu quero poder esquecer ou não amar tanto este homem, voltar para vida que eu tinha antes dele e talvez por isso eu tenha convidado Conrado, um velho amigo, para vir jantar comigo, eu precisava me distrair com alguém e desligar meus sentimentos e pensamentos, apenas fingir por alguns instantes que Inocêncio nunca existiu em minha vida, mas a verdade é que eu não estava nenhum pouco animada para este jantar, porém sempre fui boa em disfarçar e Conrado era uma excelente pessoa, já tivemos nossos momentos juntos e eu sei que ele seria capaz de me fazer esquecer, mesmo que por algumas horas, aquele que insistia em não sair do meu coração.
Optei por colocar um vestido preto um pouco colado ao meu corpo acompanhado de um salto também preto e uma leve maquiagem, prendi meu cabelo em um coque um pouco bagunçado e no pescoço coloquei um colar com um pequeno diamante, fazia tempo que eu não me vestia assim, mas nesta noite eu queria ser uma outra Aurora, uma que deixei no passado. Assim que terminei de me arrumar percebi luzes pela janela do meu quarto, Conrado havia chegado, pontual como sempre! Respirei fundo, passei a mão sobre o vestido e antes de sair do quarto notei que havia chegado uma mensagem em meu telefone, mas meu convidado já estava aqui e eu não queria deixá-lo esperando, coloquei o meu melhor sorriso no rosto e desci ao seu encontro, mas ao descer as escadas e chegar na sala de entrada percebi que talvez ter lido a mensagem tivesse sido a melhor opção, pois não era Conrado quem me aguardava com um lindo sorriso em seus lábios e sim, Inocêncio.
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Afterglow
RomanceCinco meses desde o último beijo, o último toque, seria isso tempo o suficiente para te esquecer ou você já havia me tornado totalmente tua?