IV - Completos

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Mais uma noite não dormida, mas dessa vez acordei com um peso na cabeça e no coração, além do receio em não saber o que se passava na cabeça de Inocêncio após ter presenciado aquele maldito beijo entre Conrado e eu, sei bem que eu não deveria me sentir assim afinal há cinco meses ele havia me deixado partir para uma vida onde voltei a escrever sem ele, porém agora Inocêncio se jogava novamente nas linhas de minha história e misturava suas cores com as minhas.

Desci para tomar café e sabia que teria que encará-lo, tínhamos muito o que conversar, mas era engraçado como pouco dissemos nessas quase 48 horas desde o nosso reencontro, parecia que as palavras haviam se perdido num mar de esquecimento e nossas ações tomado conta do contexto, o que era perigoso, pois palavras não ditas e gestos errados poderiam ferir um coração, ou mais.

"Bom dia, tia." — Disse Clarinha assim que me viu, ela era uma menina tão doce e desde seu nascimento fiz uma promessa a mim mesma de que nunca deixaria nada lhe faltar.

"Bom dia, pequena." — Dei um leve beijo sobre seus cabelos. "Onde está sua avó?"

"Voinha está preparando o café para o Sr. Inocêncio."

"Como assim?" — Perguntei confusa.

"Voinha foi um pouco mais cedo até o quarto dele verificar se ele precisava de algo, pois comentei sobre seus machucados."

"E o que ele disse?"

"Disse que estava indisposto e ficaria no quarto mesmo. Acho que a queda machucou mais do que ele esperava."

"Queda? Que queda? Do que você está falando, Clarinha?" — Perguntei apreensiva.

"A senhora não sabe?" — A menina me olhou desconfiada, mas continuou. "Sr. Inocêncio contou à voinha que ontem, depois que se cortou, ele pegou um dos cavalos para ir até o posto fazer um curativo, mas enquanto estava indo o cavalo acabou se assustado e o derrubou, Tornado estava correndo rápido e Sr. Inocêncio acabou se machucando mais ainda." — A menina contava como se estivesse narrando uma grande aventura, mas era de se esperar vindo de uma criança de 11 anos. "Tornado voltou depois do susto e o Sr. Inocêncio conseguiu ir até o posto e depois voltou para casa."

Senti meu coração se apertar ao ouvir cada palavra proferida por Clarinha, Inocêncio poderia ter se machucado ainda mais dependendo da velocidade em que Tornado estava, cair de um cavalo pode ser extremamente grave e fatal! Meu corpo gelou e senti minhas forças indo embora apenas com a ideia de perdê-lo para sempre.

"Clarinha, avise Rita que irei ver como está Inocêncio e depois desço para buscar o café da manhã dele."

A menina até começou a dizer algo, mas eu já estava longe demais para ouvir ou dar atenção, apenas corri para o quarto de Inocêncio, pois agora sabendo o que aconteceu eu precisava vê-lo o quanto antes e ter total certeza de que tudo estava bem, dessa vez nem bati na porta, apenas entrei e o encontrei sentado na cama com uma expressão de dor.

"Inocêncio..." — Fechei a porta do quarto e me aproximei da cama, sentando ao seu lado. "Por que você não me chamou? Por que não me falou nada?"

"Aurora." — Era nítido que ele estava tentando disfarçar, mas a dor estava presente em sua voz. "Não quis incomodar e creio que logo ficarei bom, a médica falou que provavelmente hoje eu acordaria sentindo dores, mas está tudo bem."

"Pare de mentir." — Bradei irritada. "Você não está bem e posso ver em seu rosto. Deveria ter me chamado, eu teria cuidado de você."

"Como eu disse, não queria incomodar." — Respondeu com indiferença.

"Eu sei que você está irritado comigo por causa do que viu ontem." — A expressão dele mudou automaticamente de dor para raiva, ciúmes e antes que ele pudesse dizer qualquer coisa eu o interrompi. "Não, apenas me escute! Aquele beijo não significou nada, foi um ato de momento que não faz diferença alguma em minha vida. Conrado e eu tínhamos um passado e acabou, ontem foi um adeus."

Inocêncio resmungou algo que não entendi e eu sabia que mesmo pedindo ele não ia repetir em voz alta, então deixei por isso mesmo.

"Eu não pedi para ele vir até aqui." — Me aproximei ainda mais, dessa vez colocando meu corpo completamente sobre a cama e quase sentando-me sobre o colo dele. "Você se lembra do que me falou quando chegou?" — Ele concordou com a cabeça. "São as suas digitais que estão em meu corpo e somente você é capaz de despertar em mim o calor de mil incêndios."

Naquele momento vi os olhos de Inocêncio brilharem de desejo e eu tenho total certeza de que se ele não estivesse sentindo tanta dor eu já estaria completamente nua sob seu corpo e sendo devorada, consumida pelo o seu amor, fogo, paixão.

"Eu fiquei tão preocupada quando Clarinha me contou o que aconteceu." — Beijei carinhosamente os lábios dele. "Nunca mais faça isso comigo." — Pedi dengosa.

"Me desculpe." — O dedo dele fazia um leve carinho na maçã do meu rosto. "Eu estava com ciúmes e quando cheguei estava tão cansado e com dor que apenas quis dormir, hoje achei que acordaria melhor apesar do que a médica falou, mas sinto como se uma das máquinas dessa fazenda tivesse passado por cima de mim."

"Você está tomando algo pra dor? A médica passou o quê?" — Me partia o coração saber que ele estava com dor e eu nada poderia fazer.

"Sim, tomei pouco tempo antes de você chegar, a dor está diminuindo aos poucos."

Inocêncio me olhava com ternura e amor, colocou a mão em minha nuca e me puxou para um beijo calmo, quase como se aquele fosse na verdade o remédio que ele precisava, nos beijávamos apaixonadamente, o gosto dele era coisa de outro mundo e eu uma completa viciada em tudo o que se referia a este homem, ele era a minha perdição e eu não via nenhum problema em me perder por completo nele, nos beijos dele, no corpo dele.

"Eu sinto sua falta." — Sussurrou quando parou de me beijar, mas com seus lábios encostados nos meus. Eu sabia que ele estava se referindo às nossas noites e dias de amor eloquente.

"Eu também sinto." — Como uma adolescente, pois era assim que eu me sentia sempre que estava com ele, fiz um biquinho com meus lábios. "Mas precisamos esperar você melhorar, não quero que você sinta dor."

"Você nunca me machucaria." — Inocêncio novamente me beijou por alguns segundos e em seguida puxou meu lábio inferior entre seus dentes. "Mas quando eu estiver amando você, eu quero estar completamente disposto." — A mão direita dele ia apertando minha coxa, quadril, barriga e então meu seio direito e foi impossível não deixar um baixo gemido escapar por entre meus lábios. "Quando eu estiver dentro de você eu quero estar totalmente recuperado para te fazer gritar meu nome."

"Isso não é justo." — Eu já estava completamente louca por ele, droga! "Você precisa de tão pouco para que eu perca o controle."

"Você é uma obra de arte, Aurora." — Me encarou com seriedade. "E eu decorei cada detalhe para poder te apreciar como você merece."

Meu corpo todo se arrepiou naquele momento e minha única reação foi beijá-lo, Inocêncio, mesmo eu falando não por medo de machucá-lo ainda mais, me colocou sobre o colo dele para poder me beijar, eu ainda estava de camisola, pois não tinha nenhum compromisso pela manhã e quando saí do quarto a minha única preocupação era ele e bem, agora vejo que foi a melhor opção, pois ele estava apenas com um short de tecido fino e eu podia sentir o quanto ele me queria, enquanto nos beijávamos eu rebolava sobre ele e gemidos escapavam de nossos lábios, realmente quando estávamos juntos éramos dois adolescentes vivendo as emoções de um novo amor.

Ficamos ali por um bom tempo até Rita cansar de me esperar para ir buscar o café da manhã de Inocêncio e trazer por conta própria para o quarto dele, ao contrário de mim ela tinha educação e bateu na porta antes de entrar, Inocêncio colocou um travesseiro sobre seu colo e eu me ajeitei o melhor possível para tentar disfarçar, mas Rita era uma mulher vivida e tola seria eu se por um segundo pensasse que ela não sabia que algo estava acontecendo ali, quando abri a porta ela apenas entrou, colocou a bandeja em cima da cômoda, nos olhou e disse.

"Até parecem dois adolescentes achando que podem me enganar."

E tão rápido quanto entrou, saiu resmungando, Inocêncio e eu apenas nos olhamos e começamos a rir da situação enquanto eu prontamente fui ajudá-lo a tomar seu café e entre beijos e conversas passamos a manhã toda dentro do quarto, optei por cancelar todos os meus compromissos daquele dia, cuidar de Inocêncio seria a minha única preocupação, as obrigações ficariam para depois,  pois naquele momento o amor repousava calmamente em meus braços.

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