DEZ

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Na manhã seguinte, acordei com o som insistente do alarme. Tinha um voo para Paris em algumas horas, e a última coisa que queria era perder mais um compromisso importante. Levantei-me com esforço, cada movimento lembrando-me da noite anterior e das palavras cruéis de Michael.

Tomei um banho rápido, tentando lavar a dor e a humilhação. Ao me vestir, escolhi um conjunto simples e confortável, algo que me desse um pouco de força para enfrentar o dia. Peguei minha mala e desci as escadas, evitando olhar para a sala de jantar onde tudo havia acontecido.

O táxi já estava esperando do lado de fora. O motorista, um homem simpático, tentou iniciar uma conversa, mas eu mal consegui responder, perdida em meus próprios pensamentos. Quando chegamos ao aeroporto, agradeci rapidamente e entrei no terminal, tentando focar no trabalho que me esperava.

O voo foi tranquilo, mas minha mente não parava de girar. As palavras de Michael ecoavam na minha cabeça, misturadas com a imagem de Antony e todas as questões não resolvidas sobre ele. Decidi que precisava manter minha mente no trabalho e evitar qualquer contato pessoal desnecessário. O desfile era minha prioridade, e precisava estar no meu melhor.

Fui recebida pela equipe de produção do desfile. O clima era frenético, com todos correndo para garantir que tudo estivesse perfeito. Mergulhei no trabalho, deixando que as tarefas e os prazos apertados ocupassem minha mente.

O dia do desfile chegou rapidamente, e os convidados estavam cheios de expectativa. O evento era grandioso, com uma aura de glamour e sofisticação que eu esperava ser um antídoto para minha dor pessoal. Me preparei com dedicação, e foi um sucesso, como sempre. No entanto, o que deveria ser um momento de triunfo foi ofuscado pela inquietação que me acompanhava.

Quando o desfile terminou, a agitação no backstage começou a diminuir, e eu me vi avistando Antony em meio à multidão. Ele estava lá, imponente e elegante, sua presença era difícil de ignorar. Antony se aproximou de mim com um sorriso enigmático.

— Senhorita Willians, foi uma apresentação magnífica — elogiou ele, seus olhos fixos nos meus. — Mas eu gostaria de falar com você sobre algo importante.

Eu o segui até um canto mais reservado, longe dos olhares curiosos. Antony parecia sério.

— Que bom que gostou. No que posso ajudar? — perguntei, tentando manter a calma.

— Eu sou um dos patrocinadores deste evento, e pessoalmente pedi que você estivesse aqui. Sua presença era crucial para mim.

Levantei uma sobrancelha, surpresa.

— Por quê? O que você quer dizer com isso?

Antony sorriu de forma enigmática.

— Tenho um projeto novo que estou lançando. Uma nova linha de joias francesas, e quero que você seja o rosto da marca.

Minha mente girou com a súbita proposta. Era uma oferta tentadora, mas também estava imersa em uma confusão emocional e nas recentes tensões.

— Eu... — comecei a dizer, mas ele me interrompeu com um gesto gentil.

— Não precisa decidir agora. Pense sobre isso. Eu quero que você esteja à altura dessa nova fase, e sua presença seria ideal para transmitir a elegância e o estilo que estamos buscando.

Ele me entregou um cartão com seus dados e uma breve descrição do projeto. O toque de suas mãos enviou um choque inesperado através de mim, e senti a tentação em seus olhos.

— Pense com calma, senhorita Willians. E se decidir aceitar, entre em contato. Estarei esperando.

Antony se afastou, deixando-me com o cartão em mãos e uma mente cheia de pensamentos conflitantes. Minha decisão era urgente, mas precisava de tempo para refletir sobre o que era certo para mim.

De volta ao hotel, o quarto parecia mais solene e silencioso. Eu me sentei na beirada da cama, olhando para o cartão que Antony me entregou. O brilho das joias na imagem impressa parecia um reflexo da promessa de algo novo e fascinante. Mas, por outro lado, a dor de minha recente briga com Michael ainda pesava em meu coração.

Pensei em tudo o que havia ocorrido e nas escolhas que enfrentei. Paris estava me oferecendo uma oportunidade, mas também me lembrava das dificuldades que enfrentava em casa. O que Antony estava oferecendo era um escape, uma forma de redefinir meu futuro. No entanto, a lealdade a Michael e a necessidade de reconstruir nosso casamento eram igualmente fortes.

Com a cabeça cheia e algumas doses de Macallan sem gelo, comecei a me movimentar pelo quarto afim de gastar a energia acumulada e conseguir ter uma noite de sono. Enviei mensagens para Michael perguntando se ele estava bem mas fui ignorada, então decidi ligar.

Após ser atendida, um silêncio desconfortável reinou por 5 minutos inteiros até que eu decidisse falar.

— Oi..
— Oi Cecilia.

Seu tom era afiado.

— O desfile foi um sucesso, queria que você estivesse aqui para ver.

— Não tenho tempo, eu estou na vida real. Quando volta?

— Amanhã, acredito.

Suspiramos, como forma de concordância e pesar pela muralha que estava entre nós.

— Boa noite Michael...

Desliguei antes que pudesse receber uma resposta, aflita e me sentindo ainda mais humilhada por correr atrás dele, mandei mensagens para Clara implorando por um escape dessa tormenta. A mesma, não demorou para visualizar a responder.

"Vamos na inauguração da nova boate L'Étoile Noire, tenho convites!"

Culpada CecíliaOnde histórias criam vida. Descubra agora