Capítulo 4

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Olha o Saulo chegando mais uma vez 😍🥰

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Saulo

Meu ponto de equilíbrio, a pessoa que me trazia para a realidade, que freava meu gênio selvagem, que amainava minha adrenalina alta, costumava ser meu pai.

Sua morte criou um buraco óbvio e impossível de tampar dentro de mim. Perdê-lo me afetou de tal maneira que não pude prosseguir minha carreira nas piscinas sem ele.

Todavia, me considero um cara de sorte. Digo isso porque perdi meus dois alicerces — minha mãe era igualmente minha fonte de força; quem me ensinou o significado do amor abnegado —, mas solidifiquei a ligação com meu terceiro alicerce.

Samila se transformou no meu amuleto da sorte, meu lugar de descanso da vida agitada que levo, a pessoa mais importante para meu coração. Enquanto ela estiver por perto, com suas provocaçõezinhas que mais me divertem do que irritam, sua amorosidade, sua sensibilidade rara e seus puxões de orelha necessários, eu continuarei bem, com a cabeça fora do mar de vazio existencial que me espreita... Eu estarei respirando.

Não estou conseguindo respirar neste momento.

Caralho...

— Repita o que você acabou de dizer — peço, encarando minha irmã, do outro lado da mesa, e tirando minha atenção de Maria Eduarda, que empalideceu de súbito. Também devo estar pálido como um cadáver. — Que merda de história é essa de se mudar para os Estados Unidos? Porra... Samila!

— Ei, cara, vá com calma — meu cunhado intervém.

Fecho os punhos sobre a mesa. Não desejo arrumar briga. Sou muito grato a Henrique por tratar minha irmã como ela merece: uma princesa.

— Essa ideia surgiu já faz um tempinho, Sau. Mas não quisemos contar antes de estarmos certos da mudança. Morar na Flórida será melhor para o Henrique. Lá ele terá mais oportunidades. O Rique está querendo entrar para o MMA. Nos Estados Unidos, os locais de treinos são melhores. Tem um número de profissionais maior.

— E a carreira como judoca? E as Olímpiadas?

— Ando desanimado com o patrocínio, cara. O Brasil é foda. A gente não tem incentivo. Se não for jogador de futebol ou um multimedalhista como você... esquece. Conquistei apenas uma medalha de bronze em duas Olímpiadas.

— Já disse que dinheiro não é problema. Eu banco o que vocês precisarem, cacete! — Bato na mesa. Maria Eduarda dá um pulo e se encolhe, como se eu fosse... bater nela. Sua reação me coloca de sobreaviso e me emudece. Ela tem medo de mim? É por isso que me odeia tanto? Não faz sentido. Não sou um cara violento. Não mato nem barata porque fico com dó. Sou cachorro que ladra, mas não morde.

— Tem outras questões também pesando, Saulo. — Samila atrai meu foco, fazendo-me abandonar as conjecturas sobre o comportamento preocupante de sua amiga. — Quero fazer alguns cursos nos Estados Unidos e me focar na área da fisioterapia esportiva. Lá é a meca para os fisioterapeutas esportivos, você sabe porque treinou um tempo na Califórnia e na Flórida. Não tem jeito, quanto mais penso, mais vejo os prós nessa mudança.

— E você vai... me abandonar? Eles se foram, Sami. Só restamos você e eu — jogo a cartada final e chantagista.

Ela olha para o prato por alguns instantes. Quando seus olhos reencontram os meus, estão rasos d'água.

— E se você fosse para os Estados Unidos também? Você viaja direto pra lá a negócios. Ou poderia se revezar entre os dois países. Morar um pouco em cada um.

Marcas do Passado [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora