AIDEN
A Nora sai à minha frente e ouço-a a cumprimentar alguém. Só tenho uma vizinha da frente, por isso sei perfeitamente com quem ela está a falar.
Quando saio da porta consigo perceber pela forma como a Olivia está a segurar a maçaneta da porta, que está a ponderar recuar para não nos cumprimentar. Não lhe dou hipótese de o fazer.
- Bom dia, Olivia. A Nora é a minha namorada. - ouço a Nora a tossir ligeiramente, mas ela não nega e isso é suficiente para o que eu preciso.
- o Aiden falou-me de ti. Disse que eras a sua vizinha da frente.
- Sim, há uns dias - responde. Há um sorriso no rosto dela, mas não lhe chega aos olhos. Consigo ver uma sombra de desapontamento. Fico mais incomodado do que desejaria, mas após o nosso jantar de ontem, não quero que ela pense que a nossa relação é algo que não é.
- Vamos sair para tomar o pequeno-almoço. Queres vir connosco? - pergunta-lhe a Nora.
A Nora está a ultrapassar os limites, mas sabe que não irei dizer nada pois ela poderia ter-me desmascarado há dois minutos atrás.
- Não, obrigada. Não quero incomodar.
- Que disparate. Não incomodas nada. Anda connosco!
- Sou capaz de aceitar um café então.
Descemos os três em direção ao carro, mas a Nora diz que vai sozinha no carro dela para depois poder seguir para o trabalho.
Não quero pôr a Olivia nervosa, então dirijo-me ao meu carro e peço-lhe para entrar. Eu sinto que ela está nervosa. Mas a verdade é que eu também estou.
Desde que nos encontramos no baile de caridade que não sei muito bem o que ando a fazer. Tenho feito tudo para evitar pensar nela, mas tem tido exatamente o efeito contrário.
Ligo o carro e saio do parque de estacionamento em direção ao Opera Caffe. Sinto as mãos a transpirar pois sei que estou a jogar um jogo muito perigoso.
Posso fazer-te uma pergunta? - digo para quebrar o silêncio.Sim, claro. Fala-me sobre a tua família - peço.Sou só eu e o Lucas. A minha família está dividida entre Portugal e Espanha e o meu marido faleceu há 3 anos.- Ela pousa as mãos no colo e olha lá para fora.
- Lamento muito - pouso suavemente a minha mão sobre a dela, mas ela afasta-a rapidamente.
- Não faz mal. Já foi há muito tempo.
- A perda de alguém não é algo que se ultrapasse. Nunca - respondo.
Consigo perceber a intensidade das minhas próprias palavras.
Chegamos ao parque de estacionamento do café e sinto que oficialmente consegui arruinar o ambiente.
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Tudo aquilo em que nos tornamos
Roman d'amourNa tranquila cidade de Montclair, Olivia Reynolds tenta reconstruir sua vida após a morte inesperada do marido, uma tragédia que a deixou perdida e sozinha, enquanto cuida do filho de 8 anos, Lucas. Mas quando conhece Aiden, os dois formam uma amiz...