Capítulo 4

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AIDEN

A Nora sai à minha frente e ouço-a a cumprimentar alguém. Só tenho uma vizinha da frente, por isso sei perfeitamente com quem ela está a falar.

Quando saio da porta consigo perceber pela forma como a Olivia está a segurar a maçaneta da porta, que está a ponderar recuar para não nos cumprimentar. Não lhe dou hipótese de o fazer.

- Bom dia, Olivia. A Nora é a minha namorada. - ouço a Nora a tossir ligeiramente, mas ela não nega e isso é suficiente para o que eu preciso.

- o Aiden falou-me de ti. Disse que eras a sua vizinha da frente.

- Sim, há uns dias - responde. Há um sorriso no rosto dela, mas não lhe chega aos olhos. Consigo ver uma sombra de desapontamento. Fico mais incomodado do que desejaria, mas após o nosso jantar de ontem, não quero que ela pense que a nossa relação é algo que não é.

- Vamos sair para tomar o pequeno-almoço. Queres vir connosco? - pergunta-lhe a Nora.

A Nora está a ultrapassar os limites, mas sabe que não irei dizer nada pois ela poderia ter-me desmascarado há dois minutos atrás.

- Não, obrigada. Não quero incomodar.

- Que disparate. Não incomodas nada. Anda connosco!

- Sou capaz de aceitar um café então.

Descemos os três em direção ao carro, mas a Nora diz que vai sozinha no carro dela para depois poder seguir para o trabalho.

Não quero pôr a Olivia nervosa, então dirijo-me ao meu carro e peço-lhe para entrar. Eu sinto que ela está nervosa. Mas a verdade é que eu também estou.

Desde que nos encontramos no baile de caridade que não sei muito bem o que ando a fazer. Tenho feito tudo para evitar pensar nela, mas tem tido exatamente o efeito contrário.

Ligo o carro e saio do parque de estacionamento em direção ao Opera Caffe. Sinto as mãos a transpirar pois sei que estou a jogar um jogo muito perigoso.

Posso fazer-te uma pergunta? - digo para quebrar o silêncio.Sim, claro. Fala-me sobre a tua família - peço.Sou só eu e o Lucas. A minha família está dividida entre Portugal e Espanha e o meu marido faleceu há 3 anos.- Ela pousa as mãos no colo e olha lá para fora.

- Lamento muito - pouso suavemente a minha mão sobre a dela, mas ela afasta-a rapidamente.

- Não faz mal. Já foi há muito tempo.

- A perda de alguém não é algo que se ultrapasse. Nunca - respondo.

Consigo perceber a intensidade das minhas próprias palavras.

Chegamos ao parque de estacionamento do café e sinto que oficialmente consegui arruinar o ambiente.

Tudo aquilo em que nos tornamosOnde histórias criam vida. Descubra agora