Tudo aquilo em que nos tornamos

Capítulo 10

AIDEN

Recosto-me totalmente na cadeira e espero que ela regresse da casa de banho.

Eu devia ir embora. Não há nenhuma forma de isto poder acabar bem.

Mas não consigo ir. Sinto que estraguei o dia dela e pagar-lhe o jantar é o mínimo que posso fazer. É só um jantar, que mal pode acontecer?

Ela sai da casa de banho e finalmente chega à mesa. Quando me vê sentado à espera, vejo uma emoção que não consigo decifrar. Surpresa, talvez.

Tentei manter-me afastado, mas falhei redondamente. De cada vez que me afastava, o universo parece que a empurrava ainda com mais força para a minha vida.

Onde é que eu estava com a cabeça quando me fui intrometer? Por que senti a necessidade de a ajudar? Ela é uma mulher adulta. Deve perfeitamente conseguir lidar com isto sozinha.

Sei que ela é tímida e reservada. E eu não ajudei a que ela se sentisse muito à vontade comigo. Parece confusa com o meu silêncio. Bebo um gole de água e mantenho o contacto visual com ela. Estou a preparar-me psicologicamente para poder iniciar a conversa com ela e pedir-lhe desculpa pelo meu comportamento anterior, sem ter exatamente que pedir desculpa.

Passam talvez uns cinco minutos e nenhum de nós diz uma palavra. Ela já não parece assustada. O olhar dela está a vaguear pelo restaurante, como se estivesse a fazer um grande esforço para evitar o meu contacto ocular. Mas quando termina de dar a volta à sala o olhar dela fixa-se na minha t-shirt e depois no meu braço direito. Está a olhar fixamente para a minha tatuagem, provavelmente a tentar perceber do que se trata. Depois desvia o olhar para os meus ombros, até chegar novamente à minha cara.